quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Adeus, grande rio do Brasil!


 domtotal.com
Belo Monte ressurgiu com Lula. Ele tem uma dívida eterna com os povos do Xingu.
'Continuamos na luta contra essa forma de gerar energia destruindo rios, florestas e povos'
'Continuamos na luta contra essa forma de gerar energia destruindo rios, florestas e povos'

Por Greenpeace*

“As experiências de Belo Monte são as piores possíveis”. É assim que Antonia Melo, liderança do movimento Xingu Vivo, define, cerca de um ano após o enchimento do reservatório, o que aconteceu e continua acontecendo em Altamira e no rio Xingu, com a instalação de Belo Monte.

A fala aconteceu durante uma roda de conversa que reuniu lideranças, pesquisadores, representantes de movimentos sociais e organizações não governamentais para discutir as hidrelétricas na Amazônia. O evento foi parte da programação do Festival das Águas, realizado em Alter do Chão, no Pará, no rio Tapajós, para mobilizar a sociedade sobre a importância das águas e dos rios para o Planeta.

A trajetória de Antonia Melo na luta contra Belo Monte teve início quando o projeto ainda estava no papel. Desde então, ela viu Belo Monte ser cancelada para depois ressurgir com força total durante o governo Lula. Quando a obra se tornou realidade, Antonia teve que deixar sua casa, suas memórias e a história de uma vida para trás. Hoje Belo Monte está construída, com cinco turbinas em funcionamento, mas isso não significa que a luta tenha chegado ao fim. Os impactos causados por esse “monstro”, como Antônia e muitos outros que acompanharam de perto a hidrelétrica a definem, continuam acontecendo a olhos nus e precisam ser monitorados e discutidos para não se repetirem com a construção de novas hidrelétricas na Amazônia.

“Belo Monte para nós não é fato consumado, é uma desgraça, eles têm uma dívida para sempre com as populações do Xingu”, disse Antonia. “A luta contra essa forma de gerar energia destruindo o rio, as florestas e as populações continua. Gostaríamos que vocês ficassem atentos para todas as lições que Belo Monte trouxe para os povos do Xingu e que não queremos que se repitam no Tapajós”.

Altamira, no Pará, onde está Belo Monte, sofre com problemas graves na área da saúde, educação e violência, especialmente contra mulheres, crianças e adolescentes. A obra está mudando ainda todo o ecossistema da região sediada abaixo da barragem, afetando a vida dos povos indígenas que vivem a jusante do reservatório e que hoje não conhecem mais o rio que é vital para a sua sobrevivência, pois a água que agora chega para eles depende do controle da vazão realizado pela barragem.

Quando o lago da usina começou a ser formado, entre o final do ano passado e começo deste ano, foi constatada a morte de mais de 16 toneladas de peixes na região de Altamira. Atualmente, os peixes mostram sinais de doenças, como cegueira e a presença de parasitas. “Hoje em dia a gente sai pra pescar mas não sabe se vai pegar comida, não sabe o que vai acontecer. Antes, quando o rio enchia, você sabia os tipos de peixe que ia encontrar, hoje não existe mais isso”, disse Elinalva Juruna.

Lições que não podem se repetir

“O pior de Altamira é que o mundo está vendo a lição ali na frente e estão tentando acabar mais ainda”, disse Raimunda Gomes, pescadora afetada por Belo Monte. Para além desta hidrelétrica, existem mais de cem projetos que o governo insiste em propor para a Amazônia, como é o caso das barragens no rio Tapajós, onde vive o povo Munduruku.

“As hidrelétricas são parte de uma visão estatal que enxerga a Amazônia como província mineral e energética, apenas, como se não houvesse ninguém vivendo nela”, explicou Danicley de Aguiar, do Greenpeace. “Mas o rio, na Amazônia, é o elemento principal do bioma, se você começa a bloquear o fluxo de sedimento e toda a vida que está no rio, a pergunta é o que acontece com o bioma, o que acontece com a bacia amazônica. Está tudo em risco”, afirmou ele.

Recentemente, a maior hidrelétrica prevista no rio Tapajós foi cancelada, porém, ainda existem pelo menos outras 40 planejadas ou já em construção apenas na bacia do rio Tapajós. O povo Munduruku luta para que nenhuma dessas hidrelétricas saia do papel e para que seu território tradicional no médio Tapajós seja finalmente demarcado. Mais de 1,2 milhão de pessoas ao redor do mundo também apoiam essa causa. “Hoje a nossa luta tem que ser com argumentos, com a Constituição, a Convenção 169”, disse Karo Munduruku. “Quero chamar a todos vocês para se unirem na luta contra esse mal que está tirando o sono dos caciques, das crianças e de todos que moram no rio”, finalizou ele.

O progresso que traz destruição e medo

*O texto acima é resultado de uma roda de conversa realizada em Alter do Chão, para discutir os impactos causados por Belo Monte e a preocupação com as futuras hidrelétricas planejadas para o rio Tapajós.

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