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Nas redações ainda existe um ambiente que favorece ao PT, favorece a Lula.
Lula, o líder sindical, foi alçado ao plano nacional pelos meios de comunicação. (Reprodução)
Por Carmo Chagas*
Reluto, tergiverso, sempre que as circunstâncias me obrigam a reconhecer que errei. Isso já aconteceu comigo uma dezena de vezes. Ou duas dezenas. Ou mais. Acho melhor nem contar quantas, porque sofri em todas. Por isso, entendo quando bons amigos meus ligados ao PT (petistas e simpatizantes) relutam, tergiversam, quando as circunstâncias apontam para erros deles (governantes deles – erros e crimes deles). Quero falar aqui de uma avaliação equivocada que cometem e que, entretanto, mereceria reconsideração, a meu ver. Falo das queixas quanto ao tratamento dado pelos meios de comunicação em relação ao PT e, em especial, ao seu líder maior, Lula.
Reforço minha argumentação lembrando que Lula, o líder sindical do ABC, foi promovido ao plano nacional pelos meios de comunicação. Eu era redator-chefe da Veja, em 1977, quando estive na casa do Lula, em São Bernardo, levado pelo editor de Economia da revista, Emílio Matsumoto, e pela então repórter Lígia Martins Almeida. Ressalto que Veja ainda estava sob censura. Ir à casa de Lula era um risco sério. Lígia, Matsu e eu poderíamos ter perdido nossos empregos. Daquela visita resultou uma das capas de Veja na época, todas com texto a favor do sindicalista que ousava levantar-se contra a ditadura. Numa dessas reportagens publicou-se uma das frases mais fortes do líder sindical Lula: “Operário não existe só para fabricar carro e depois ser atropelado por carro. Operário existe também para comprar carro”. Os principais jornais, contornando a censura, davam todo dia reportagens pró-Lula. Rádios e TVs abriram espaço em horário nobre para Lula.
Nessa época, em todas as redações predominavam profissionais simpatizantes de manifestação anti-ditadura (o PT ainda nem existia). Passadas quatro décadas, acredito que ainda persista, nas redações, forte presença de profissionais “de esquerda” – expressão que atualmente, a meu ver, inclui o sentido de tolerante com a corrupção, que não incluía a quando fui esquerdista. Digo, então, que nas redações em geral ainda existe um ambiente que favorece ao PT, favorece a Lula. Por isso, Lula e o PT são atacados com benevolência nos meios de comunicação, ao contrário do que alegam petistas e simpatizantes.
Maluf, cujos rombos conhecidos aos cofres públicos são inferiores aos rombos petistas, sempre foi atacado com muito mais vigor. Diga-se o mesmo em relação a Quércia, Barbalho, Sarney e tantos outros, cujos assaltos aos cofres públicos são parcelas do que a estrutura governista do PT praticou.
Há denúncias significativas e consistentes, igualmente, em relação a governos tucanos. A expressão “privataria tucana”, título de um livro, deriva de uma capa da Veja sobre influência indevida na privatização na área da telefonia. Ou seja, não há santos nesse contexto (como foi dito recentemente – e lamentavelmente -- sobre trucidados num presídio amazonense).
Quero dizer, para concluir, que o esquerdismo remanescente nas redações resulta em textos simpatizantes, lenientes ao PT, em seleção de fotos mais positivas (menos negativas), na escolha favorável dos adjetivos para legendas e títulos. Ou seja: Lula e o PT recebem tratamento leve em todas as redações. Maluf e assemelhados sofreriam muito mais.
*O mineiro Carmo Chagas esteve, entre outras, nas equipes fundadoras de Jornal da Tarde e Veja, e foi editor-executivo do Estadão. Como escritor, é autor de Três vezes trinta (1992), Política, arte de Minas (1993), Vesgo: a longa jornada de um cão à procura de sua dona (1999), Essas Gerais (2009), Feliz de outro jeito (2011) e Contos Verdes e Maduros (2015).
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