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De toda a sua família, apenas o pai se salvou.
Lev Chaim (Ilustração de Marguerita Bornstein, de New York.)
Por Lev Chaim*
Sexta-feira, 4 de agosto de 1944, tornou-se histórica. Foi o dia em que toda a família Frank, de Anne Frank, e um casal de amigos foram descobertos em Amsterdã, depois de dois anos e um mês ali escondidos dos nazistas. Isto porque eram judeus. Eles foram levados para o campo de concentração e em agosto de 1945, no campo de Bergen-Belsen, morre Anne Frank aos 15 anos de idade. De toda a sua família, apenas o pai se salvou.
Eles se escondiam na parte de trás de uma grande e alta casa, onde a entrada secreta ficava atrás de uma estante de livros. Quem visitar o museu de Anne Frank poderá ver tudo isto e sentir todo o drama daqueles que ali viveram e quase se salvaram durante grande parte da Segunda Guerra Mundial. De acordo com a história oficial até agora, eles teriam sido traídos por um telefonema, dado por uma senhora holandesa.
A fonte deste telefonema foi baseada no depoimento de um nazista austríaco, Karl Silberbauer, que em 1943 foi transferido de Amsterdã para outro lugar longe da guerra. Em 1963, ele foi encontrado pelo caçador de nazistas, Simon Wiesenthal. Em seu depoimento, 20 anos depois, ele contou que um telefonema havia denunciado o esconderijo da família Frank. Mas, olhando com atenção, ele não foi testemunha deste telefonema, mas apenas de ouvir falar. Silberbauer, quando foi preso, já não se lembrava mais da família que havia se escondido na rua Prinsengracht 263, hoje, um dos museus mais visitados do mundo – “Museu de Anne Frank”.
Se não fosse o diário de Anne Frank, este drama todo já teria sido mesmo esquecido. Em suas linhas, escritas quase que diariamente, ela conta como foi a vida ali escondida, em um pequeno espaço, quase sem qualquer privacidade. As vezes, à noite, ela olhava pela janela lá fora, tentando imaginar como seria a vida em liberdade. Só quem viveu em sistema de cativeiro pode avaliar o drama dessas pessoas. Pelo livro de Anne Frank, você consegue avaliar a tristeza e a tensão de muitos daqueles dias. E avaliar também, como eles eram fortes e desejavam viver.
Mas agora, bem recente, o historiador, Gertjan Broek, publicou um artigo dizendo que estava pesquisando todos aqueles fatos históricos e apareceu com um outro cenário: não houve um traidor ou traidora que os havia delatado aos nazistas, mas tudo aconteceu por acaso. Foram três policiais que descobriram a família ali escondida. Dois deles eram especialistas em fraudes de cartões de refeições, muito importante durante a guerra. Eles ficaram ali cerca de duas horas, revistando os papéis do escritório da família Frank, na parte da frente da casa, a procura de possíveis fraudes do sistema de refeições com cartões, que eram moedas correntes durante a Segunda Guerra Mundial. E, por ‘acaso’, teriam encontrado a passagem secreta atrás da estante de livros.
De qualquer forma, este novo cenário já está causando comoção em todo mundo, pois quase todos conhecem o drama de Anne Frank, descrito em seu diário. O historiador Gertjan Broek disse bem claro que não negava a possibilidade de ser mesmo verdade, que a família Frank pudesse ter sido traída. Mas ele enfatiza que, durante todos esses anos, nunca houve uma prova concreta do fato, a não ser um vago comentário do nazista austríaco Silberbauer, o qual não foi testemunha do tal fatídico ‘telefonema’, mas apenas havia ouvido falar sobre ele.
Para este historiador, o ‘acaso’ é uma forte hipótese para a prisão da família Frank em seu esconderijo. Ele continua a sua pesquisa e afirma que o assunto ainda não foi encerrado. Enquanto isto, o mundo espera ansioso para saber mais daquela empática e emblemática família, que representa oficialmente a crueldade dos nazistas alemães para com os judeus, na Segunda Guerra Mundial.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou mais de 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças para o Domtotal.
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