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A teologia protestante foi fundamental para os avanços dos estudos bíblicos, não ficando restrita ao âmbito do protestantismo, mas influenciando também a teologia católica.
Lutero já tinha se empenhado na tradução do Novo Testamento para a língua germânica, com o intuito de tornar o acesso à Escritura mais fácil para as pessoas. (Divulgação/ Pixabay)
Por Felipe Magalhães Francisco*
O ano de 2017 celebra os 500 anos da Reforma Protestante, que foi um movimento de uma envergadura tão importante, que marca o início da modernidade e abala a conhecida Cristandade, longo período de hegemonia católica tanto no âmbito religioso, quanto na influência política de todo o ocidente. Martinho Lutero, o mais conhecido dos reformadores, em 31 de outubro de 1537, pregou suas teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestando contra 95 pontos da doutrina católica. Esse foi um gesto de grande expressão simbólica, que inaugura um movimento de reforma no cristianismo e que acaba por gerar uma ruptura na hegemonia católica, fazendo nascer as Igrejas da Reforma.
Um dos pontos fundamentais do protestantismo é sua inspiração de natureza Bíblica. Mesmo antes da publicação das 95 teses, Lutero já tinha se empenhado na tradução do Novo Testamento para a língua germânica, com o intuito de tornar o acesso à Escritura mais fácil para as pessoas. Esse é apenas um exemplo de como as Sagradas Escrituras são marcas fundamentais no protestantismo histórico e nas outras igrejas, as chamadas evangélicas.
A teologia protestante foi fundamental para os avanços dos estudos bíblicos, não ficando restrita ao âmbito do protestantismo, mas influenciando também a teologia católica. Não há dúvidas de que o cristianismo, em geral, teria outra relação com as Sagradas Escrituras, se não fosse a grande importância dada a ela pelas Igrejas da Reforma. Se a Igreja Católica no Brasil dedica o mês de setembro à Bíblia, promovendo-a entre os fiéis, é porque ela foi, mesmo que indiretamente, influenciada por esse movimento reformador do século XVI, de inspiração bíblica, e que continua sendo interpelador para os cristãos e cristãs de hoje.
O primeiro artigo de nossa matéria especial, Teologia liberal: rompendo com o preconceito, do Carlos Cunha, apresenta-nos o panorama do que é essa Teologia chamada liberal, fundamental para o avanço nos estudos bíblicos, entre outras coisas, no cristianismo. No artigo, o autor aborda o significado dessa teologia como reinterpretação da tradição cristã no novo contexto cultural em que o ocidente vivia, em meados do século XVIII. Buscando romper com o preconceito em relação ao que seja a teologia liberal, o autor apresenta, em linhas gerais, as maiores contribuições dessa teologia para o cristianismo.
Diante do texto que os cristãos e cristãs consideram como sagrado, a Bíblia, um risco é sempre real: o do fundamentalismo. É o tema abordado por Fabrício Veliq, no segundo artigo: Uma Escritura que não é Palavra: o risco do fundamentalismo. No artigo, o autor propõe como superação desse risco, de uma leitura literalista e absolutizadora do texto, uma volta àquilo que Lutero propõe como Sola Scriptura. Fazendo referência à já citada Teologia liberal, o autor, à luz do Sola Scriptura, aponta para a importância da hemernêutica bíblica no processo de aproximação do texto sagrado, para que o cristianismo seja, meramente, não a religião do livro, mas da Palavra.
Por fim, cabe uma necessária análise sobre o pentecostalismo e sua relação com as Sagradas Escrituras. É o que faz Flávia Gomes, no artigo A Bíblia e o Protestantismo, no qual ela aponta para a distinção no modo como, distintamente, aproximam-se das Sagradas Escrituras os protestantes e os pentecostais. No artigo, a autora propõe uma análise do modo como o pentecostalismo recorre à Bíblia, em sentido mítico, de maneira atemporal, na qual o passado interpreta o presente e o presente reinterpreta o passado. O artigo traz uma importante reflexão, que nos ajuda a compreender o pentecostalismo que, no Brasil, particularmente, tem bastante força e que mobiliza um número expressivo de cristãos e cristãs.
Boa leitura!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.
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