Mar 22, 2018 - 17:58
Cultura japonesa apresentada pelo padre Adelino Ascenso aos colaboradores da Conferência Episcopal Portuguesa
Cultura japonesa apresentada pelo padre Adelino Ascenso aos colaboradores da Conferência Episcopal Portuguesa
Lisboa, 22 mar 2018 (Ecclesia) – O superior geral da Sociedade Missionária da Boa Nova apresentou hoje aos colaboradores da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) os valores da harmonia e do silêncio na cultura japonesa como propostas de preparar a Páscoa.
O padre Adelino Ascendo referiu no encontro de Quaresma dos serviços da CEP que a “harmonia” é um “conceito tão importante” para os orientais que foi incluído na primeira constituição do Japão, no ano 604.
“A cultura e a vida social estão centradas neste conceito de harmonia com os outros, tanto os vivos como os mortos; a harmonia com os deuses e com a natureza também é central nesta conceção da vida”, acrescentou.
O missionário realçou que é “crucial que o cristianismo se torne mais sensível à ideia de harmonia e coletivismo no Japão”, afinal o cristianismo ocidental “é fortemente individualista”.
Às pessoas que trabalham em diversos setores da CEP, como a justiça e a paz, a área social e a educação, o desenvolvimento e as migrações, o padre Adelino Ascenso comentou que a cultura japonesa pode, por exemplo, na harmonia ajudar a “sair para valorizar o conjunto, o grupo”.
“Vivemos num mundo autorreferencial, harmonia de grupos é algo que pode estimular e aprender”, observou.
“Silêncio” foi a segunda palavra em destaque na reflexão da Quaresma para os trabalhadores da CEP, mais propriamente a sua “beleza”, afinal, “talvez em nenhuma outra nação” exista uma palavra “tão relevante”.
“Na cultura do silêncio, ao indivíduo é requerida a capacidade de preservar pensamentos no interior por causa do bem-estar dos outros, o que não é hipocrisia, mas por causa da harmonia”, explicou o superior geral da Sociedade Missionária da Boa Nova.
Contudo, o sacerdote também realçou que a harmonia e a beleza do silêncio estão na cultura nipónica e “correm no sangue do povo mas na vida do dia a dia nem sempre se verifica”.
“No estrato social não existe harmonia, o Japão também tem aspetos muitos feios”, afirmou, dando como exemplo os sem-abrigo que em Osaka são 20 mil e os japoneses “têm vergonha”, se um turista tentar “tirar fotos pode ter problemas”.
O orador explicou ainda a cerimónia do chá que relacionou com a Eucaristia, uma vez que o ambiente dessa cerimónia e a celebração da Missa são “muito idênticos”.
Existe a Palavra no diálogo entre um anfitrião e o hospede, que só pode ultrapassar mais de duas horas duplas se a conversa for sobre Buda e a doutrina, ou seja, prolonga-se num “sentido profundo, de mística”.
No momento em que em Roma está a decorrer o pré-sínodo, com cerca de 315 participantes dos cinco continentes, o padre Adelino Ascenso recordou que os jovens estão “bastante afastados” destes elementos culturais japoneses, como a “cerimónia do chá que é entediante”.
“Os jovens manifestam desinteresse mas se caminharmos nessa direção há de chegar ponto que lhe toca, está no sangue”, afirmou, alertando para o risco de tratar os jovens de uma “maneira soft” quando “estão sedentos de profundidade. percebam elementos estruturantes da cultura”.
O missionário da Boa Nova no início dos presentes a uma viagem pelo Japão, um “mundo enigmático, cativante, árduo, repleto de contrastes e contradições” constituído por um povo “gentil, educado” e “culturalmente bem-formado”, onde quase “não existe analfabetismo”.
CB/PR
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