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Com um aquecimento de 2ºC, Omã, Bangladesh, Mauritânia, Iêmen e Níger seriam os países mais vulneráveis à escassez.
Blocos de gelo se desprendem da geleira Collins na King George Island,
na Antártida, em 1º de fevereiro de 2018 (AFP).
Alta do nível do mar, perda de biodiversidade, acesso complicado a alimentos, padrão de vida mais baixo... Mesmo que o mundo consiga limitar o aquecimento a 2°C, as consequências serão significativas - apontam estudos divulgados nesta segunda-feira (2).
"Detectamos mudanças significativas nos impactos climáticos em um mundo 2°C mais quente. Por isso, precisamos adotar medidas para evitar tal cenário", explicou à AFP Dann Mitchell, da Universidade de Bristol, principal autor do texto que introduz esta edição especial da revista britânica "Philosophical Transactions of the Royal Society A".
Mais de dois anos após a assinatura do acordo climático de Paris, que visa a manter o aumento do termômetro abaixo de 2°C, ou mesmo de 1,5°C, em comparação com a era pré-industrial, os cerca de 20 estudos comparam o impacto de ambos os cenários.
"Um dos desafios é a rapidez com que chegaremos a +2°C", diz Mitchell, referindo-se ao tempo que o mundo terá, ou não, para se adaptar às múltiplas consequências do aquecimento global.
O grupo de especialistas do clima da ONU (Giec) deve apresentar em outubro um relatório sobre o cenário de um planeta 1,5°C mais quente. Em janeiro, o projeto de texto estimava que, em função dos compromissos dos Estados e das trajetórias das emissões de CO2, era "extremamente improvável" alcançar a meta.
Aumento dos oceanos
Mesmo que o aumento da temperatura se estabilize em +1,5, ou +2°C, o nível do mar continuará a subir "por pelo menos três séculos", de 90 a 120 centímetros até 2300, de acordo com um dos estudos.
Isso resultará em inundações, erosão e salinização das águas subterrâneas.
Quanto mais otimista for a situação, mais as ilhas do Pacífico, do delta do Ganges, ou as cidades costeiras, terão tempo para construir defesas, ou mover populações.
Se nada for feito para limitar as emissões de CO2, a elevação média do nível do mar, causada pelo derretimento das geleiras e pela dilatação da água, chegará a 72 centímetros até 2100.
Mas essa perspectiva é adiada em 65 anos no cenário a +2°C, e 130 anos, para +1,5°C.
"Os impactos para o século 21 serão adiados, e não evitados", observam os pesquisadores.
Então, "adaptação é essencial", adverte Robert Nicholls, da Universidade de Southampton.
Acesso a alimentos
Um aumento das temperaturas levará a uma maior insegurança alimentar em todo o mundo, com inundações e secas mais severas, alerta um dos estudos.
Com um aquecimento de 2ºC, Omã, Bangladesh, Mauritânia, Iêmen e Níger seriam os países mais vulneráveis à escassez.
Já Mali, Burkina Faso e Sudão veriam sua situação melhorar ligeiramente, uma vez que sofreriam com secas menos severas. Mas isso seria uma "exceção", diz o professor Richard Betts, que liderou o estudo.
No caso de um aquecimento de 1,5°C, "76% dos países estudados registrariam um aumento em sua vulnerabilidade à insegurança alimentar".
Crescimento das desigualdades
Se +1,5°C não deve mudar muita coisa no crescimento econômico global, "um aquecimento de 2°C sugere taxas de crescimento significativamente menores para muitos países, especialmente em torno do equador", diz à AFP Felix Pretis, economista da Universidade de Oxford.
A diferença é ainda maior com o PIB per capita. Até o final do século, será 5% menor, se o aquecimento atingir 2°C em vez de 1,5°C, de acordo com este estudo.
Além disso, "os países que hoje são pobres devem ficar ainda mais pobres com as mudanças climáticas, e ainda mais no caso de +2°C do que +1,5°C, enquanto os países ricos provavelmente serão menos afetados", aponta Felix Pretis.
Biodiversidade
Se um aumento das temperaturas perturbará parte da fauna e da flora, "conter o aquecimento a 1,5°C em vez de 2°C (...) aumentará de 5,5% para 14% as áreas do globo que poderiam servir como um refúgio climático para plantas e animais", de acordo com outro estudo.
Sua superfície seria equivalente à da "rede atual de áreas protegidas".
Além disso, limitar o aquecimento poderia reduzir em até 50% o número de espécies em risco de ver reduzido pela metade seu hábitat natural.
AFP
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