quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Católicos do Brasil apoiam o papa Francisco: 'Tamo junto!'

domtotal.com
'O papa Francisco está desmontando estruturas de poder que eram intocáveis. Isso cria desconforto em uma parte da Igreja e até mesmo da sociedade', disse o coordenador da Signis Brasil Jovem.
Papa Francisco a bordo do vôo papal para o Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, 22 de julho de 2013.
Papa Francisco a bordo do vôo papal para o Brasil para a Jornada Mundial da 
Juventude, 22 de julho de 2013. (CNS photo/ Paul Haring)
Por Filipe Domingues

Os brasileiros não estão deixando que aquilo que percebem como ataques contra o papa Francisco passem sem ser respondidos.

Vários bispos do maior país da América Latina deram um passo à frente em apoio ao papa nas últimas semanas para demonstrar sua total adesão ao pontífice. Eles se juntaram a um grupo de jovens católicos brasileiros que lançou uma campanha nas redes sociais, "Francisco, estou aqui", que esperam expandir em todo o mundo.

Em 26 de agosto, o arcebispo Carlo Maria Viganò escreveu uma carta pública acusando o papa Francisco de encobrir ou ignorar sérias acusações contra o ex-cardeal americano Theodore McCarrick. O arcebispo Viganò afirmou que o papa sabia tudo sobre o abuso de seminaristas pelo arcebispo McCarrick e teria removido as sanções contra este, aplicadas por Bento XVI. Ele até pediu a renúncia de Francisco.

Essas alegações provocaram indignação entre muitos que apoiaram o arcebispo Viganò, mas também provocaram uma onda de pronunciamentos públicos, em defesa do papa, por parte dos bispos em todo o mundo. Nos Estados Unidos, alguns bispos consideraram as acusações credíveis e exigiram uma investigação completa. Outros rejeitaram as alegações do arcebispo Viganò como resmungos de um ex-oficial do Vaticano frustrado (Lembremos que o Papa confirmou o arcebispo em seu posto como núncio apostólico nos Estados Unidos em 2016).

No Brasil, muitos bispos viram essa sequência de eventos como motivo suficiente para demonstrar publicamente seu apoio.

O cardeal Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília e presidente da Conferência Episcopal do país, disse que Francisco “faz um bem imenso para a Igreja”. Ele enviou uma carta pessoal ao papa e disse em um vídeo postado no site do Vaticano. Os bispos brasileiros “são muito próximos” de Francisco.

“É muito importante que nossa mensagem seja uma expressão não apenas do que os bispos do Brasil sentem, mas da Igreja no Brasil, que tem um grande carinho pelo papa Francisco”, disse o cardeal. “Apoiamos suas iniciativas, acolhemos seus ensinamentos e esperamos crescer cada vez mais em comunhão com o sucessor de Pedro”.

Enquanto alguns bispos decidiram divulgar cartas formais de apoio, outros adotaram uma estratégia inovadora.

Os cardeais Odilo Scherer e Orani João Tempesta, responsáveis pelas mais importantes arquidioceses brasileiras, São Paulo e de Rio de Janeiro respectivamente, estão entre os apoiadores da campanha #FranciscoEstouAqui. A Signis Brasil Jovem, uma associação internacional de comunicadores católicos, iniciou a campanha em setembro.

Signis também enviou uma carta ao Papa assinada por jovens comunicadores e muitos dos presidentes dos capítulos nacionais da Signis na América Latina e do secretário-geral da Signis World.

O cardeal Scherer postou um vídeo com a hashtag da campanha em sua conta no Instagram, dizendo que "o papa Francisco recebeu a missão de manter a Igreja unida, através da fé e da missão católica".

Portanto, “no momento em que a Igreja está passando por dificuldades, mostramos apoio ao trabalho do Papa e devemos, cada um de sua parte, continuar trabalhando também”, diz ele. O cardeal Tempesta também compartilhou a hashtag em seu perfil no Instagram, com um pequeno texto encorajando seus seguidores a apoiar e orar por esta campanha e pelo Papa.

O coordenador da Signis Brasil Jovem é Ricardo Alvarenga, de 26 anos. Ele disse à América que "Francisco, estou aqui" é uma iniciativa de 15 pessoas que se encontraram em uma reunião de jovens comunicadores.

"Falando sobre a situação atual da Igreja, com uma forte perseguição contra o papa e a publicação de muitas notícias falsas sobre ele, pensamos que era necessário agir", disse ele.

Alvarenga está ciente da ironia de criar uma campanha de católicos para mostrar apoio ao papa. “Mas entendemos que vivemos em uma sociedade cada vez mais polarizada. Há quase uma ‘cultura de ódio’, e as pessoas estão frequentemente envolvidas em disputas intransigentes. Sentimos que era necessário expressar nosso apoio para que o papa possa continuar reformando a igreja”.

“O papa Francisco está desmontando estruturas de poder que eram intocáveis. Isso cria desconforto em uma parte da Igreja e até mesmo da sociedade”, disse ele.

Algumas seções regionais da conferência episcopal também enviaram cartas de solidariedade ao papa. Embora não mencionem explicitamente o caso Viganò, os bispos da Regional do Nordeste 3 afirmaram que estão “conscientes de que a Igreja está passando por um momento particularmente doloroso e difícil”. Eles disseram que essas questões realmente “afligem seus corações”, e ainda se preocupam com o quanto o papa Francisco deve estar sofrendo.

O bispo Pedro Carlos Cipollini, da diocese de Santo André, na periferia de São Paulo, foi um dos primeiros brasileiros a falar depois que o dossiê Viganò foi lançado. Em sua carta, o Bispo Cipollini disse que esta recente crise é uma tentativa de “agitar o barco de Pedro”, mas que o papa é, de fato, “o guardião das graças e bênçãos vindas de cima para governar a igreja”.

"Quero reafirmar minha fé no ministério petrino", disse o bispo. "No coração desta crise está a dúvida sobre este ministério que foi desejado e instituído por Jesus e que durará enquanto existir a Igreja."

Reunidos na cidade de Manaus no final de agosto, 58 bispos da região amazônica também escreveram uma carta ao papa, assinada pelo cardeal Cláudio Hummes - amigo íntimo de Jorge Mario Bergoglio desde que este era arcebispo de Buenos Aires e responsável pela escolha do nome "Francisco".

Segundo o cardeal Hummes, é necessário reafirmar a comunhão com o papa em um momento em que sofre tantos ataques. "Somos imensamente gratos por seu ministério e pastoreio", escreveu.

Na véspera do sínodo dos bispos para os jovens, que acontecerá no Vaticano de 3 a 28 de outubro, o coordenador da campanha “Francisco, estou aqui” diz que está muito feliz com o fato de muitos bispos brasileiros escreverem em apoio ao papa. "Temos que unir nossos esforços e mostrar para toda a Igreja que o papa não está sozinho", disse Alvarenga.

O próximo objetivo principal do grupo é expandir sua visibilidade em países da América Latina, como Peru e México, e alcançar a Ásia. Em janeiro de 2019, durante a Jornada Mundial da Juventude no Panamá, eles pretendem entregar ao papa um arquivo multimídia com todos os vídeos e mensagens de texto que receberão.

"Não somos contra ninguém", disse Alvarenga. “Mas somos a favor de uma transformação na Igreja, liderada pelo papa Francisco. Precisamos superar todas as divisões e encontrar um caminho comum nessa direção”.


America Magazine - Tradução: Ramón Lara

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