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'Direitos humanos tendem a construir magistério moral que, como o da Igreja, reivindica o universal'. Isso necessariamente cria uma tensão entre as duas instituições.
Ativistas do ACAT (ação dos cristãos pela abolição da tortura) durante uma mobilização
de apoio ao povo sírio, em 2012. (La Croix/ JB Le Quere / MaxPPP)
Por Mélinée Le Priol
Nesse sábado, 15 de dezembro, a Pax Christi organizou, com uma dúzia de movimentos e associações cristãs, um simpósio em Paris, por ocasião do 70º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Em meio aos católicos, especialmente os jovens, os direitos humanos não despertam mais o entusiasmo do século passado.
Quando Brigitte Vilanova visita comunidades cristãs como ativista da ACAT (Ação dos Cristãos para a Abolição da Tortura), da qual é agora a vice-presidente, às vezes é recebida de um jeito que ela descreve como “desprezo”, aponta Brigitte. “Ah, mas você é representante dos direitos humanos!”, essa rejeição parece significar que os cristãos aparentemente não querem participar e se solidarizar com um homem condenado à morte do outro lado do mundo.
"Alguns não veem nos direitos humanos um humanismo, mas uma ameaça à sua identidade cristã", lamenta a professora ortodoxa, que garante que essa rejeição aumentou após os ataques islâmicos dos últimos anos. Para ela, não há dúvidas: "Nossa luta não está no clima do momento". Quando se juntou à associação em 1976, tinha 14.000 membros ativos. Hoje são apenas a metade, principalmente aposentados.
Para muitos jovens católicos, essas associações históricas são legítimas, mas estão longe de suas preocupações. "Parece que os elementos da linguagem não foram atualizados desde a década de 1980", disse Paul Picaretta, de 29 anos, diretor da revista Limite. "Eu concordo com a proposta, mas acho que esse tipo de compromisso carece de radicalidade. É um pouco morno".
Existe a consensualidade em matéria de direitos humanos?
Essas associações penam para recrutar porque sua luta já está ganha? "A oposição à tortura não é mais um debate hoje na França", diz Gregor Puppinck, diretor do Centro Europeu de Direito e Justiça (CEDJ), que acaba de publicar um livro crítico sobre os direitos humanos. Para ele, os jovens católicos também agem diversamente dos mais velhos, investindo em bases ideológicas menos "consensuais" para a sociedade: a defesa da vida e da família, por exemplo.
Se a solidariedade internacional é menos propensa a fascinar os católicos hoje, muitos agora parecem preferir os "direitos dos cristãos" aos direitos humanos. "Temos dificuldade em educar as comunidades paroquiais sobre a questão palestina; as pessoas estão mais dispostas a apoiar movimentos que explicitamente ajudam apenas os cristãos", confirma Monique Boulanger. Sua associação ecumênica, os Amigos de Sabeel-França, organiza um "grupo de oração" semanal pelo fim da ocupação dos Territórios Palestinos.
Esse relativo desinteresse dos católicos é, sem dúvida, parte de um descontentamento mais geral. "Na década de 1980, os direitos humanos ainda apareciam como o horizonte ideológico desejável, mas se desintegraram na virada do século XXI", diz o filósofo Denis Moreau. "O liberalismo decepcionou as pessoas, e o aparato ideológico que o acompanhou desmoronou a época".
"Ainda é em nome dos direitos humanos que os Estados Unidos atacaram alguns países!", aponta Paul Picarreta. Para ele, enquanto os direitos humanos deveriam "criar espaços comuns", acabam contribuindo, de fato, para fragmentar a sociedade, "criando minorias que podem reivindicar seus direitos".
Uma desconfiança antiga
A desconfiança dos católicos em relação a uma noção de direitos humanos, estimulante segundo eles, das liberdades individuais tem suas raízes em um passado distante. "Os direitos humanos tendem a construir um magistério moral que, como o da Igreja, reivindica o universal", acrescenta Gregor Puppinck. Isso necessariamente cria uma tensão entre as duas instituições.
Para este ativista católico de 44 anos, que luta ativamente contra o aborto, os direitos humanos não ajudam em face das "novas ameaças" que o mundo enfrenta. Governança global, migração em massa, transumanismo: diante desses corpos "desproporcionais", os direitos humanos parecem-lhe não apenas impotentes e inadequados, mas até mesmo "cúmplices".
Enquanto alguns católicos explicam essa desconfiança dos direitos humanos pela atual "insegurança" econômica e de segurança individual, outros preferem vê-la como uma simples mudança nas formas de engajamento. As associações e sindicatos militantes das décadas de 1970 e 1980 foram agora substituídas por ONGs não políticas, como Fidesco, Point-Coeur e Le Rocher. "Os crentes não se tornaram brutos da noite para o dia! - quer acreditar Paul Picaretta. A dignidade humana continua a sendo parte do interesse deles.
Esta noção continua motivando o compromisso com os pobres e os migrantes de muitos cristãos de todas as gerações. Eles, portanto, defendem os direitos humanos sem necessariamente reivindicá-los, sendo este nome considerado "político" demais.
Com a Igreja, uma história difícil
Adotada em 1789, a Declaração dos Direitos Humanos e do Cidadão foi recebida friamente pela Igreja Católica, para quem esta filosofia esqueceu os direitos de Deus. A Igreja também suspeitava da nova "religião civil republicana" herdeira do espírito do Iluminismo, oposta à tradição cristã.
O papa reiterou as convicções da declaração dos Direitos Humanos no Concílio Vaticano II (1962-1965), mas intelectuais católicos se posicionaram no caso Dreyfus, após a guerra com a Espanha, para reconciliar a Igreja com uma visão republicana dos direitos humanas.
João Paulo II, que tinha conhecido tanto o nazismo e o comunismo emergiu como o "Papa dos direitos humanos", dedicando sua primeira encíclica aos direitos humanos, Redemptor hominis (1979).
La Croix - Tradução: Ramón Lara
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