sábado, 4 de janeiro de 2020

Relato desconcertante

Reflexão sobre a festividade da Epifania do Senhor - Mt 2,1-12
Os magos não pertencem ao povo escolhido. Não conhecem o Deus vivo de Israel. Não sabemos nada sobre sua religião ou povo de origem. Só que vivem atentos ao mistério que se encerra no cosmos. Seu coração procura a verdade.
 Os magos não pertencem ao povo escolhido. Não conhecem o Deus vivo de Israel. Não sabemos nada sobre sua religião ou povo de origem. Só que vivem atentos ao mistério que se encerra no cosmos. Seu coração procura a verdade. (Ron Fung/ Unsplash)
Por José Antonio Pagola*

Ante Jesus, atitudes muito diferentes podem ser adotadas. O relato dos magos nos fala da reação de três grupos de pessoas. Alguns pagãos que o procuram, guiados pela pequena luz de uma estrela. Os representantes da religião do templo, que permanecem indiferentes. O poderoso Rei Herodes, que vê nele apenas um perigo.

Os magos não pertencem ao povo escolhido. Não conhecem o Deus vivo de Israel. Não sabemos nada sobre sua religião ou povo de origem. Só que vivem atentos ao mistério que se encerra no cosmos. Seu coração procura a verdade.

Em algum momento creem ver uma pequena luz que aponta para um Salvador. Necessitam saber quem ele é e onde ele está. Rapidamente se põem a caminho. Não conhecem o itinerário preciso que devem seguir, mas em seu interior arde a esperança de encontrar uma Luz para o mundo.

Sua chegada na cidade santa de Jerusalém provoca o choque geral. Convocado por Herodes, o grande Conselho dos "sumos sacerdotes e os escribas do povo" se reúne. Sua atuação é decepcionante. São os guardiões da verdadeira religião, mas não buscam a verdade. Representam o Deus do Templo, mas vivem surdos ao seu chamado.

Sua segurança religiosa os cega. Sabem onde o Messias deve nascer, mas nenhum deles se aproximará de Belém. Dedicam-se a prestar culto a Deus, mas não suspeitam que seu Mistério seja maior do que todas as religiões e que tem seus caminhos para se encontrar com seus filhos e filhas. Nunca reconhecerão Jesus.

O rei Herodes, poderoso e brutal, só vê em Jesus uma ameaça ao seu poder e à sua crueldade. Fará todo o possível para eliminá-lo. A partir do poder opressor, somente aqueles que trazem libertação podem ser "crucificados".

Enquanto isso, os magos continuam sua busca. Não caem de joelhos diante de Herodes: não encontram nada digno de adoração nele. Não entram no grandioso Templo de Jerusalém: são proibidos de entrar: a pequena luz da estrela os atrai à pequena cidade de Belém, longe de todo centro de poder.

Ao chegar, a única coisa que veem é o "menino com Maria, sua mãe". Nada mais. Um menino sem esplendor nem poder algum. Uma vida frágil que precisa dos cuidados de uma mãe. É o suficiente para despertar a adoração nos magos.

O relato é desconcertante. Este Deus, oculto na fragilidade humana, não é encontrado por aqueles que vivem fixos no poder ou fechados na segurança religiosa. Revela-se àqueles que, guiados por pequenas luzes, buscam incansavelmente uma esperança para o ser humano na ternura e na pobreza da vida.

Periodista Digital - Tradução: Gilmar Pereira - domtotal.com

*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián

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