Reflexão sobre a liturgia do 7º Domingo Comum - Mt 5,38-48
Não se luta contra o mal quando se destrói as pessoas (Massimo Sartirana/ Unsplash)
José Antonio Pagola*Religión Digital
É inegável que vivemos numa situação paradoxal. "Quanto maior a sensibilidade face aos direitos atropelados ou injustiças violentas, mais cresce o sentimento de ter que recorrer a uma violência brutal ou sem piedade para levar a cabo as profundas mudanças que se anseiam". Assim, dizia há alguns anos, no seu documento final, a Assembleia Geral dos Provinciais da Companhia de Jesus.
Não parece haver outro caminho para resolver os problemas que não o recurso à violência. Não é estranho que as palavras de Jesus ressoem na nossa sociedade como um grito ingênuo e, além disso, discordante: "Amai os vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos odeiam".
E, no entanto, talvez seja a palavra que mais necessitamos ouvir nestes momentos em que, anulados pela perplexidade, não sabemos o que fazer em concreto para retirar do mundo a violência.
Alguém disse que "problemas que só podem ser resolvidos com violência devem ser levantados novamente" (F. Hacker). E é precisamente também aqui que o Evangelho de Jesus tem muito para contribuir hoje, não para oferecer soluções técnicas para conflitos, mas para descobrir em que atitude devemos abordá-los.
Há uma convicção profunda em Jesus. Ao mal não se pode vencer com base no ódio e na violência. O mal é vencido apenas com o bem. Como dizia Martin Luther King, "o último defeito da violência é que produz uma espiral descendente que destrói tudo o que gera. Em vez de diminuir o mal, aumenta-o".
Jesus não se detém a especificar se, em alguma circunstância concreta, a violência pode ser legítima. Pelo contrário, convida-nos a trabalhar e lutar para que nunca seja. Por isso, é importante procurar sempre caminhos que nos levem à fraternidade e não ao fratricídio.
Amar os inimigos não significa tolerar as injustiças e retirar-se confortavelmente da luta contra o mal. O que Jesus viu claramente é que não se luta contra o mal quando se destrói as pessoas. Há que combater o mal, mas sem procurar a destruição do adversário.
Mas não nos esqueçamos de algo importante. Esse apelo a renunciar à violência deve dirigir-se não tanto aos fracos, que quase não têm poder nem acesso à violência destrutiva, mas, sobretudo, a quem maneja o poder, o dinheiro ou as armas e, portanto, podem por isso oprimir violentamente os mais fracos e indefesos.
Publicado originalmente em Religión Digital e traduzido por IHU.
*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.
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