Com a base aliada enfraquecida, presidente terá de enfrentar Eduardo Campos em 2014.
Eduardo Campos: flerte com a oposição
Por Juan Arias*
O Partido Socialista Brasileiro (PSB) deixou a aliança com o governo visando à possível candidatura do seu líder, Eduardo Campos, governador de Pernambuco, à eleição presidencial de 2014, quando enfrentaria a presidente Dilma Rousseff, de quem, até esta quinta-feira, fora companheiro de viagem.
Com a saída, o partido renuncia aos dois ministérios que tinha: o de Integração Nacional e o de Portos, além dos cargos no segundo escalão.
A presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, o ex-presidente Lula da Silva, fizeram o possível e o impossível para evitar que o PSB continuasse no governo de que participava há mais de 10 anos.
Para o governo, a saída do partido de esquerda do jovem líder Eduardo Campos da aliança supõe uma perda grave a menos de um ano das eleições para presidente.
Campos sempre foi amigo pessoal de Lula e continua a sê-lo, mas para o seu partido, um dos que mais cresceu nos últimos anos e que conta com 23 deputados, chegou a hora de voar por conta própria.
Segundo informações da imprensa, Lula tinha chegado a oferecer-lhe a vice-presidência da República, junto com Rousseff. Além disso, tinham conversado sobre a possibilidade de que o Partido dos Trabalhadores o apresentasse como candidato à presidência em 2018. Tudo, menos perder Campos e o seu partido.
Foi tudo inútil. Depois de uma reunião do PSB, Campos anunciou nesta quinta-feira que deixava o governo e os ministérios. E deu a entender que o PSB poderia apresentar candidato próprio em 2014.
Os ânimos já tinham azedado nos últimos meses, principalmente depois da publicação de fotos de Campos com o senador Aécio Neves, do opositor PSDB, também possível candidato à presidência, os dois cantando e se abraçando depois de um almoço.
Chegou-se a falar de um pacto de apoio mútuo entre os dois e a ecologista Marina Silva, outra possível candidata à presidência, no caso de um segundo turno contra Rousseff.
Começaram a soar rumores no governo de que a presidente estaria irritada e considerava inconsequente que o PSB continuasse com ministérios e no governo ao mesmo tempo em que flertava com a oposição. Antes que Rousseff tomasse a decisão de retirar os ministros do PSB do governo, Campos se adiantou e anunciou a saída do partido do executivo e da aliança governamental. Ainda assim, tentou deixar claro que o PSB não tinha passado para a oposição e que simplesmente preferia ter a liberdade de criticar o executivo quando considerasse necessário.
Lula, que é esperto e conhece muito bem os seus amigos políticos, continua com a esperança de que, ante um segundo turno nas eleições, Campos transfira os seus votos para Rousseff. Ele pediu à mandatária que o tratasse “com carinho” e não rompesse relações com ele. Por isso, ao deixar um encontro de mais de uma hora com a presidente para informá-la da decisão do partido, ela se despediu de Campos dizendo: “A porta estará sempre aberta para você.”
A areia movediça da política começa a se agitar com a proximidade das eleições presidenciais. Na última pesquisa, Dilma tinha 35% dos votos, Marina Silva 31%, Aécio Neves 15% e Eduardo Campos, o menos conhecido nacionalmente, 7%.
*Juan Arias é correspondente do jornal El País no Brasil. Tradução de Cristina Cavalcanti
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