quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O futuro que dá sentido ao presente


Por Guilherme Rezende

Depois de alguns meses após o término da Jornada Mundial da Juventude, realizada na cidade do Rio de Janeiro com a presença do Papa Francisco, já se pode perceber o impacto que o encontro causou nos jovens católicos. Muitos estão se organizando, criando grupos e se engajando em pastorais. Os movimentos estão se renovando e parece que a milenar Igreja Católica ganha fôlego nesta segunda década do século 21.  

Mas o principal legado da jornada não está no campo prático, mas sim no conceitual. O encontro renovou as esperanças de muitos jovens – de idade e de espírito – e lhes deu uma nova visão de futuro. Um dos princípios básicos do cristianismo é a certeza de que a vida não cessa com a morte. Assim, a noção de futuro, o horizonte sempre à vista, vai de encontro à cultura na qual muitos jovens vivem e propagam por redes sociais. Muitos dizem: “vamos à festa, vamos beber como se o mundo fosse acabar”. Outros dizem: “temos que aproveitar bastante esta viagem porque pode ser a última de nossas vidas”. E assim, se vive a filosofia do Carpe Diem. A expressão, retirada de um poema de Horácio, poeta que viveu na Roma Antiga, diz que devemos aproveitar ao máximo o momento, e não pensar no futuro. Ora, tal comportamento nos impede de pensar em longo prazo, de estabelecermos metas, de idealizarmos um objetivo que nos mantêm ativos. Sob essa filosofia, muitos jovens perdem a vida em overdoses de vários tipos de drogas, lícitas ou ilícitas. A desculpa de aproveitar o momento leva ao exagero que faz com que vidas sejam ceifadas nos esplendor da juventude. Há pouco tempo recebi a triste notícia de um ex-aluno que pôs fim à própria vida depois do término de um relacionamento. O jovem, com apenas 17 de anos, não conseguia enxergar sua vida além da namoradinha de escola. A garota era sua razão de viver. Com o fim do namoro, sua vida também deixou de ter sentido. O que é uma pena, pois sabemos que há um universo de possibilidades que aguardam os jovens durante toda a vida. Ver a vida de um adolescente interrompida pelo fim de um relacionamento é lastimável. 

A mensagem cristã de esperança no futuro, renovada por Francisco na Jornada Mundial da Juventude, pode dar ao jovem a certeza de que a vida não se resume ao agora. A extinta banda Legião Urbana, da qual sou admirador, cantava em uma das suas músicas o seguinte refrão: “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar para pensar, na verdade não há”. Neste ponto, ouso discordar. A novidade cristã é que existe sim o amanhã, seja na vida terrena ou na vida eterna. Neste sentido, mais importante do que qualquer experiência mística, só o fato de considerar o futuro como algo possível ajudar a evitar distorções da realidade. O homem deve ter os dois pés no presente, mas os olhos devem contemplar o horizonte da vida. Pensar no futuro é dar sentido ao presente. Esta é grande mensagem. O presente só tem sentido quando vejo claramente o que quero e espero do futuro. Assim, muitos jovens que vivem o hoje como se não houvesse amanhã, podem encontrar sentido na vida.

João Batista Libânio é teólogo jesuíta. Licenciado em Teologia em Frankfurt (Alemanha) e doutorado pela Universidade Gregoriana (Roma). É professor da FAJE (Faculdades Jesuítas), em Belo Horizonte. Publicou mais de noventa livros entre os de autoria própria (36) e em colaboração (56), e centenas de artigos em revistas nacionais e estrangeiras. Internacionalmente reconhecido como um dos teólogos da Libertação. 

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