quarta-feira, 23 de outubro de 2013

País sério? - Johan Konings


Questiono: é preciso paralisar todo o sistema de ensino por causa dessa Copa?
Na semana passada, ao preparar o calendário escolar de nossa faculdade, ficamos sabendo que devemos suspender as aulas durante todo o período da Copa, seis semanas, meados de junho até meados de julho. E, para agravar a situação, nosso funcionários devem tomar férias, por acordo sindical, nas duas semanas que se seguem a isso. Desde 12 de junho até fim de julho, férias forçadas. 

Questiono: é preciso paralisar todo o sistema de ensino por causa dessa Copa?

Não bastaria dar feriado na cidade onde há alguma jogo? Ou será que os brasileiros vão viajar em massa para acompanhar os jogos nas outras capitais? Será que as companhias aéreas vou oferecer viagens de graça para os adoradores do deus futebol assistirem os jogos nas outras cidades (com entrada gratuita nos superestádios)? Para que suspender as aulas em Crateús no dia em que a Cochinchina joga contra a Mongólia no supernovo Maracaná?

E o que fazer com as crianças naqueles dias? Não servem as escolas, em boa parte, para afastar as crianças da rua enquanto os pais vão trabalhar?

O que me preocupa em tudo isso é decidido sem que se ouça a voz do povo. Não basta o poder supremo da Repúblico declarar que está ouvindo a voz do povo. Tem que mostrar que escutou, refletiu, pensou mesmo, duas vezes. E se permitir que seu ministério tome tal decisão, tem que justificar publicamente.

E preocupa-se também que a voz do povo não se faz ouvir. Talvez porque os que tem como levantar a voz não se consideram “o povo”?

Por que não há protestos –dignos e bem articulados– contra este e tantos outros abusos que o deus supremo Bola está impondo ao país? Como também não há protestos contra tantas outras coisas, como os carros de som, as barulheiras que começam quarta à  noite e duram até segunda de manhã, para não falar do comportamento dos que são considerados a voz do povo.

Bom, chega, vou ao trabalho.

Johan Konings  nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colegio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Foi professor de exegese bíblica na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (1972-82) e na do Rio de Janeiro (1984). Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE - Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, onde recebeu o título de Professor Emérito em 2011. Participou da fundação da Escola Superior Dom Helder Câmara. 

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