Brígida Rodrigues Coelho*
Gosta porque simplesmente gosta e ponto final. Não é legal ir pelos outros. Muito menos falar do que nem sabe por anda passa. E pior ainda, criticar porque todos criticam.
- Ah, mas sertanejo universitário é péssimo, eu gosto mesmo é de Led Zeppelin, Beatles, Belchior, Cássia Eller e tal. Isso que é música boa!
- É verdade, isso também é música boa. Mas me conta qual música do Led você mais acha legal?
- Ah, eu nem conheço muito.
- Hum... E o que acha dos Beatles?
- Gosto de Hey Jude. Essa música é top.
- É verdade... Mas eles têm outras músicas, sabe?
- É, não conheço muito também. Mas gosto.
- Ah.
Seria o tipo de diálogo que nem valeria a pena continuar. Como disse, não estou criticando gostos musicais, mas a autenticidade. Se você gosta de sertanejo, assuma. Adoro rock, MPB, blues e jazz. Gosto e gosto. Conheço e assumo o que me atrai. Por que ficar seguindo algo que não condiz com você? Já foi o tempo das modinhas e estereótipos, não existe mais isso. E também já foi a era de ser o ‘falso autêntico’ que usa camisa dos Rolling Stones e só conhece Satisfaction.
Uma pesquisa foi feita no último Rock in Rio com algumas pessoas que estavam com aquela típica camisa do Ramones. De dez pessoas entrevistadas, apenas duas realmente demonstraram ser fã da banda, outras não sabiam citar nem a música mais famosinha, enquanto uma alegou ser o nome de uma bebida. Se você é fã, seja fã. Se gosta de uma música da banda, não grite aos quatro ventos o quanto é rockeiro ou blueseiro ou funkeiro. Não precisa se enquadrar em nada. É normal gostar e ser várias coisas atualmente, só não finja ser o que não é.
Saiba criticar, saiba dizer o porquê de não gostar ou gostar de determinadas coisas. Ter uma opinião bem formada começa quando você consegue definir aquilo que te agrada ou não embasado em argumentos bem fundamentados, e podemos opinar desde o estilo musical a decisões mais complexas. Por que saber o que se diz vale para qualquer momento da vida, desde definir se Clapton é melhor que Steve Ray a escolha política, por exemplo. A partir do momento em que começarmos a assumir nossas próprias decisões ao invés de jogá-las no fluxo do momento poderemos começar a pensar em uma faísca de esperança de um Brasil melhor. Mais pessoas com opinião própria e menos camisas de língua dos Stones andando pelas ruas aleatoriamente. E para essas pessoas sem opinião: “Senhor, piedade/lhes dê grandeza e um pouco de coragem”.
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