(Foto: Reprodução) |
Guilherme Rezende
Vasculhando pastas no computador encontrei alguns textos antigos dos quais não me lembrava. Depois de ler e gostar do que tinha lido, fui buscar a autoria. Qual não foi minha surpresa quando descobri que os textos eram meus. Anos depois de colocar no papel, ou na tela do computador, algumas ideias, eis que gosto do resultado. Conversando com alguns amigos que escrevem diariamente para jornais e portais na internet, e alguns que até já lançaram livros, percebi que esta sensação é comum. Gostar de um texto que você fez há tempos.
Ampliando esta experiência, tive a impressão que essa sensação tem a mesma gênese que a emoção de gostar de um livro ou de uma música. Especialmente quando gostamos do autor de tais obras. Além da fruição estética com relação à forma da escrita ou da linha melódica de uma canção, gostamos principalmente do que o artista fala. Exatamente porque pensamos: “eu poderia ter escrito este texto, poderia ter composto esta música”. É comum no universo jovem a admiração por cantores de rock. Jovens contestadores reconhecem nesse estilo musical uma forma agregadora de protesto – a música em si agrega pessoas. Não é de se espantar grande número de fãs do rock ‘n roll. Quando perguntamos o motivo, a maioria diz: “eles falam o que gostaríamos de falar”.
Eu poderia muito bem ter composto várias canções da Legião Urbana. A música Monte Castelo, de autoria de Renato Russo, converge, em uma só letra, frases do poeta português Luiz Vaz de Camões e do evangelista Paulo. Há nesta canção coisas que eu gostaria de dizer que o compositor diz com todas as letras e com todos os aparatos musicais. Nos faz pensar: “ genial! Era isso que eu gostaria de dizer”. Poderia também – em um surto de completa falta de modéstia – ter escrito o livro Grande Sertões: Veredas, de Guimarães Rosa. Para falar tão bem sobre o sertão e suas nuances, com certeza seria necessário viajar pelo país adentro. Quão fantástica seria essa viagem.
Quem não gostaria de ter criado personagens fantásticos como Pedrinho, Narizinho, Visconde de Sabugosa e tantos outros com os quais Monteiro Lobato ilustrou nossa infância? Luis Fernando Veríssimo consegue descrever em suas crônicas nossa vida cotidiana de maneira tão simples que concede ao nosso rotineiro dia a dia um status de coisa importante. Os amantes recorrem à poesia quando precisam se declarar. No momento em que não encontramos palavras para dizer o quanto uma pessoa é amada recorremos a Vinícius de Morais: “que seja eterno enquanto dure, posto que é chama”. As músicas ajudam em datas especiais. Há músicas para o dia das mães, dia dos pais, Natal, Réveillon, casamentos e aniversários. Em suma, se lhe faltares palavras, o poeta e o compositor vêm ao seu auxílio.
Por enquanto, vivo pensando nos livros que ainda não escrevi e nas canções que ainda não compus. Enquanto isso, vale saborear as obras já feitas, e tomá-las um pouco como suas. Por que não?
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