Para que a horta floresça, é preciso algo tão importante quanto a ajuda de Deus.
(Foto: Ilustração de Max Velati) |
Por Max Velati*
Desta vez tem que ser diferente.
Desta vez tem que ser diferente.
Nossas resoluções de Ano Novo precisam estabelecer outro tipo de compromisso, outras condições, outras responsabilidades; um acordo inteiramente novo entre nós e o Mundo. As sirenes e os alarmes soando estridentes deixam uma coisa absolutamente clara: nossos melhores esforços não foram bons o suficiente. Pouco adianta a nossa moderada lista de compromissos se o Mundo está pedindo ações decisivas em caráter de urgência urgentíssima.
Ações e não compromissos, note bem.
Fizemos muito pouco. Todos nós.
O Mundo pediu revoluções para salvar o Meio Ambiente. Nós destruimos e ainda prendemos quem tentava impedir.
O Mundo pediu compaixão e fizemos guerras novas pelos velhos motivos.
O Mundo pediu respeito e cultivamos o ódio e o preconceito.
O Mundo pediu justiça e descobrimos novas maneiras de cometer injustiças.
O Mundo pediu comida e fabricamos mais canhões.
O Mundo pediu mais educação e construímos mais estádios de futebol.
O Mundo pediu mais amor e aumentamos a distância entre nós.
Não está funcionando.
Nossas resoluções de Ano Novo devem ser novas, inteiramente novas. Devem ser práticas, possíveis, urgentes e muito mais generosas. Nossas resoluções de Ano Novo não podem mais ser uma lista de ambições pessoais e esperanças ingênuas para o Mundo. Não há mais tempo para esperanças ingênuas. Precisamos de planos de ação e métodos.
Esperança não é método.
Nesta última Rota de Fuga de 2013, deixo para reflexão uma pequena história.
Havia ao lado de uma igreja um lote vago, um terreno completamente abandonado, cheio de lixo, ratos e ervas daninhas. Um lavrador procurou o padre e pediu permissão para limpar o lugar e plantar uma horta. O padre ficou feliz com a idéia e prontamente deu permissão.
Todos os dias, ao abrir a igreja para a celebração da primeira missa, o padre via o lavrador transformando com golpes de enxada um terreno inútil em uma fonte de alimentos.
Alguns meses depois o padre se surpreendeu ao abrir as portas da igreja e ver uma linda horta reluzindo ao sol, um lote vago transformado em um reino de fartura.
O lavrador estava lá com a enxada na mão e atento às ervas daninhas.
O padre sorriu e gritou:
- Que maravilha! Que bela horta! Que bom que Deus ajudou, não é mesmo?
O lavrador também sorriu.
Tirou o chapéu de palha, enxugou o suor da testa com a manga da camisa e respondeu:
- Deus ajudou, seu padre. Mas o senhor precisava ver a sujeira quando Ele tava aqui sozinho.
*Max Velati trabalhou muitos anos em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da literatura, é chargista de Economia da Folha de São Paulo.
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