sábado, 14 de dezembro de 2013

João Batista: grandiosidade na missão de precursor




A liturgia da Igreja costuma fazer a nossa preparação para o Santo Natal, no chamado tempo do advento, em dois momentos. Nas duas primeiras semanas, ela faz voltar os nossos corações para a expectativa da segunda vinda de Cristo; nas duas últimas semanas, faz voltar os nossos corações para a primeira vinda de Cristo, no seu santo Natal. É a nossa preparação próxima para celebrarmos com o maior proveito espiritual o nascimento do Senhor, que vem até nós e se torna um igual a nós, menos no pecado. 
E nestas duas últimas semanas, entram em cena os principais personagens neste maravilhoso drama, em que Deus não se contenta mais em nos falar por meio dos patriarcas e dos profetas do Antigo Testamento, mas por Ele mssmo na pessoa do seu filho Jesus, nascido de Maria por ação do Espírito Santo: João Batista, o precursor; Jose, o esposo de Maria; e a jovenzinha de Nazaré, Maria. Neste terceiro domingo, nos é apresentado João Batista. aquele destinado por Deus para lhe preparar o caminho. João Batista faz assim a ponte entre a antiga aliança e a nova aliança com seu o Povo. 
O texto do livro de Mateus, que nos é proposto na liturgia da Palavra da sagrada Eucaristia, faz entrar em cena João Batista, cuja pregação consistia num veemente convite à conversão e com isso pretende preparar o caminho para aquele de quem sequer seria digno de desamarrar as correias de suas sandálias. É de se presumir que João Batista conhecesse a Jesus, pois o texto sagrado das Escrituras nos diz que ele o batizou no rio Jordão. Mas, diante do que ele ouvia falar de Jesus, João Batista percebia que o que se dizia da pregação de Jesus contrastava e muito com a sua pregação e com a idéia que se tinha de Jesus: este viria para fundar um novo reino, que haveria de fazer de Israel, uma grande potência e, quem sabe, intervencionista. 
Daí a sua dúvida. Estando ele preso, manda a Jesus alguns de seus discípulos para perguntar-lhe: "Tu és aquele que há de vir ou devemos esperar um outro?". Jesus simplesmente responde remetendo a três realidades que podem convencê-lo da autenticidade de sua messianidade: suas palavras, suas ações e a sagrada Escritura, citando um texto das profeciais de Isaías. Disso se conclui que a Palavra de Deus fala por si mesmo; basta que se queira refletir seriamente no que ela propõe para se concluir que vale a pena acreditar em Jesus, como Messias, ou eeja, como aquele que vem em nome de Deus. Na verdade, João Batista anunciara um Mesias um pouco diverso: um juiz severo e ministro da ira de Deus. 
A partir do texto se percebe que os predicados com que João Batista fora enriquecidos por Deus para sua missão de precursor não o isentava da obscuridade da fé e menos ainda que ele tivesse uma compreensão completa do projeto de Deus. Assim ele deverá repensar a visão que tinha do projeto do Messias, que inclui a misericórdia e o sofrimento pelo qual deverá passar. Jesus, por isso, não se admira que a fé de João Batista precise de esclarecimentos; ao contrário, ele vai a seu encontro, porque sabia que ele terminaria por compreender a sua messianidade. 
Ele será capaz de entender que a messianidade de Jesus passa pela manifestação misericordiosa do amor de Deus que se avizinha dos mais pequenos e dos sofredores de toda espécie O anúncio de Jesus é pleno de luz, mas compreendê-lo se precisa de olhos e ouvidos novos, ou seja, o da fé. Depois disso, Jesus passa a falar da grandiosidade da missão do precursor com três elogios: João é um homem forte, que não se deixa levar pelas opiniões correntes; é um asceta rigoroso, que renunciou ao bem estar de uma vida tranquila; e sobretudo é o último e o maior de todos os profetas, revestido da glória de um encargo único na história da salvação, o de ser o precursor anunciado pelas Escrituras. 
Contudo, apesar desta serie de elogios, que não deixam de ser sinais de uma verdadeira grandeza, Jesus que levar a outra conclusão: "o menor no Reino de Deus é maior que ele". A frase de Jesus pode levar a variados entendimentos, mas o que ela pretende é anunciar a grandeza incomparável da nova ação divina: no reino de Deus se é grande pela oferta da salvação que Deus faz; qualquer um de nós, por mais distante que estejamos da estatura moral de João Batista, obtém o perdão, a vida nova, pode receber o Espírito Santo. 
Quem se acerca dos ensinamentos de Jesus e conhece o que Deus faz por nós pela ação misericordiosa de Jesus, toma consciência de que alguma coisa radicalmente nova entrou no mundo. "Esta coisa nova" é Jesus, o único que nos pode salvar de todo mal e nos conceder a graça da comunhão eterna com Deus. Com efeito, o Reino de Deus instaurado no mundo por Jesus e do qual somos todos chamados a fazer parte é superior a tudo aquilo que o prefigurou e anunciou, a Primeira Aliança.
Se a Primeira Aliança se estabelecia pela adesão à lei, a nova e eterna Aliança se confirma pela nossa adesão de fé a Deus, feito homem. Nem mesmo o maior dos profetas obtém a salvação por si mesmo. Só em Jesus podemos ser salvos. Amém.

*Doutor em Direito Canônico, Presidente do Tribunal Eclesiástico do Ceará e professor da Faculdade Católica de Fortaleza

Nenhum comentário:

Postar um comentário