Registro abaixo algumas respostas aos testes do ENEM, mas antes de prosseguir, tire as crianças da sala.
(Foto: Ilustração Max Velati) |
Por Max Velati*
O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) foi criado em 1998 e transformou-se em um poderoso instrumento para a educação. Hoje, com o resultado da prova o participante pode usar a nota como certificação do Ensino Médio ou até mesmo como referência para concorrer a uma vaga no ensino superior.
Em quinze anos, o megateste criado para medir acabou transmutando a sua natureza e de régua virou catraca.
Os números mostram o empenho do Ministério da Educação em consolidar o ENEM. Em 2013 foram 7,1 milhões de candidatos inscritos, 357 milhões de reais investidos, mais de 15 milhões de provas impressas e aplicadas em 15.576 locais.
Sem dúvida, é um esforço faraônico pela educação.
A palavra "educação" veio do latim e foi concebida pela união dos termos "ex"(fora) e "ducere"(conduzir, guiar). Na sua origem tinha o sentido de um processo para ajudar o indivíduo a extrair de si mesmo (colocar para fora) aquilo que deveria servir para conduzi-lo pelo mundo.
Tudo fica mais complicado quando queremos determinar com precisão que tipo de conhecimento de fato prepara o indivíduo para o mundo. E precisamos definir também de qual mundo estamos falando, se do mundo "real e prático" ou (sonhemos!) de um mundo melhor. Tal definição é necessária porque as pessoas despreparadas não deveriam ser declaradas profissionais. Quando recebem indevidamente o diploma alteram a natureza e a qualidade daquilo que de fato precisamos para a nossa feliz jornada pela vida, pois o mundo fica pior. Em outras palavras: sementes ruins produzem frutos ruins que produzem sementes ruins e persistindo neste ciclo todo o pomar por fim estará arruinado.
Você já deve ter percebido o rumo que estou tomando. Se o ENEM determina o padrão da educação, tudo certo se este padrão for alto. Se o padrão for baixo iniciamos o ciclo semente ruim-fruto ruim-semente ruim.
Outros desdobramentos desta lógica: se o ENEM oferece um teste de alto padrão para a educação precisamos empreender todo o esforço possível para melhorar as escolas, o currículo e a formação dos professores para que este alto padrão seja mantido ou (sonhemos!) para que seja crescente. Na lógica inversa e perversa: se as escolas e todo o sistema de ensino estiverem funcionando com baixos padrões temos então que rebaixar os padrões do ENEM para garantir certo número de aprovados e este é o raciocínio que gera o ciclo semente ruim-fruto ruim-semente ruim.
Tenho ouvido de amigos queixas constantes sobre o fraco desempenho escolar dos filhos. E tenho ouvido dos adolescentes uma réplica demolidora: "Não preciso saber tudo! Basta estudar o que vai cair no ENEM e com isso terei concluído o Ensino Médio e estou na Universidade".
Se você tem ao menos uma leve suspeita de que a Educação não vai bem, saiba que os sinais são mesmo preocupantes e as regras do ENEM sugerem um ciclo perverso. Basta saber que o número mínimo de linhas para a redação foi reduzido de 10 para 8. Ora, sejamos francos! Um papel com oito linhas é um bilhete e não uma redação. Aplica-se ainda uma cabala matemática para avaliar as questões e a estratégia recomendada é que o aluno não gaste mais do que três minutos por pergunta. Considere que estes parâmetros são de um teste crucial que conduzirá milhões de indivíduos para a etapa seguinte na vida, um teste que de certa forma define a formação profissional de médicos, advogados, cientistas, engenheiros e... professores!
Por curiosidade, busquei na Internet as pérolas do ENEM, respostas oferecidas por certos estudantes (se é que "estudante" se aplica) e que são incríveis de um modo assustador. Tremo em pensar que pela sorte ou pelo abracadabra do sistema de pontuação estes indivíduos talvez ainda possam ser conduzidos à universidade e serão amanhã os profissionais que estarão nos escritórios de engenharia calculando pontes, os togados nos tribunais exercendo o Direito, os doutores segurando o bisturi enquanto estamos anestesiados ou mestres nas salas de aula preparando as novas gerações, plantando no pomar as novas sementes.
Registrei abaixo algumas respostas, mas antes de prosseguir tire as crianças da sala.Vou exibir frases de ignorância explícita.
- " A Terra se vira nela mesma, e esse difícil movimento denomina-se Arrotação".
- "Gastam o dinheiro do povo em Superfalos".
- "A História se divide em: Antiga, Média, Moderna e Momentânea, esta a dos nossos dias".
- " Uma tonelada pesa pelo menos 100 kg de chumbo".
- "A Ciência pogrediu tanto que inventou os ciclones como a ovelha Dolly".
- "A floresta está cheia de animais extintos. Tem que parar de desmatar para que os animais que estão extintos possam se reproduzirem e aumentarem seu número respirando um ar mais limpo".
-"Quilograma é quando, após medir, uma grama pesa um quilo".
- "Um septuagenário é um losango de 7 lados".
E termino o Rota de Fuga desta semana com a resposta que atira no que vê e acerta o que não vê:
"Estamos sendo roubados por pessoas políticas escolhidas para este propósito".
O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) foi criado em 1998 e transformou-se em um poderoso instrumento para a educação. Hoje, com o resultado da prova o participante pode usar a nota como certificação do Ensino Médio ou até mesmo como referência para concorrer a uma vaga no ensino superior.
Em quinze anos, o megateste criado para medir acabou transmutando a sua natureza e de régua virou catraca.
Os números mostram o empenho do Ministério da Educação em consolidar o ENEM. Em 2013 foram 7,1 milhões de candidatos inscritos, 357 milhões de reais investidos, mais de 15 milhões de provas impressas e aplicadas em 15.576 locais.
Sem dúvida, é um esforço faraônico pela educação.
A palavra "educação" veio do latim e foi concebida pela união dos termos "ex"(fora) e "ducere"(conduzir, guiar). Na sua origem tinha o sentido de um processo para ajudar o indivíduo a extrair de si mesmo (colocar para fora) aquilo que deveria servir para conduzi-lo pelo mundo.
Tudo fica mais complicado quando queremos determinar com precisão que tipo de conhecimento de fato prepara o indivíduo para o mundo. E precisamos definir também de qual mundo estamos falando, se do mundo "real e prático" ou (sonhemos!) de um mundo melhor. Tal definição é necessária porque as pessoas despreparadas não deveriam ser declaradas profissionais. Quando recebem indevidamente o diploma alteram a natureza e a qualidade daquilo que de fato precisamos para a nossa feliz jornada pela vida, pois o mundo fica pior. Em outras palavras: sementes ruins produzem frutos ruins que produzem sementes ruins e persistindo neste ciclo todo o pomar por fim estará arruinado.
Você já deve ter percebido o rumo que estou tomando. Se o ENEM determina o padrão da educação, tudo certo se este padrão for alto. Se o padrão for baixo iniciamos o ciclo semente ruim-fruto ruim-semente ruim.
Outros desdobramentos desta lógica: se o ENEM oferece um teste de alto padrão para a educação precisamos empreender todo o esforço possível para melhorar as escolas, o currículo e a formação dos professores para que este alto padrão seja mantido ou (sonhemos!) para que seja crescente. Na lógica inversa e perversa: se as escolas e todo o sistema de ensino estiverem funcionando com baixos padrões temos então que rebaixar os padrões do ENEM para garantir certo número de aprovados e este é o raciocínio que gera o ciclo semente ruim-fruto ruim-semente ruim.
Tenho ouvido de amigos queixas constantes sobre o fraco desempenho escolar dos filhos. E tenho ouvido dos adolescentes uma réplica demolidora: "Não preciso saber tudo! Basta estudar o que vai cair no ENEM e com isso terei concluído o Ensino Médio e estou na Universidade".
Se você tem ao menos uma leve suspeita de que a Educação não vai bem, saiba que os sinais são mesmo preocupantes e as regras do ENEM sugerem um ciclo perverso. Basta saber que o número mínimo de linhas para a redação foi reduzido de 10 para 8. Ora, sejamos francos! Um papel com oito linhas é um bilhete e não uma redação. Aplica-se ainda uma cabala matemática para avaliar as questões e a estratégia recomendada é que o aluno não gaste mais do que três minutos por pergunta. Considere que estes parâmetros são de um teste crucial que conduzirá milhões de indivíduos para a etapa seguinte na vida, um teste que de certa forma define a formação profissional de médicos, advogados, cientistas, engenheiros e... professores!
Por curiosidade, busquei na Internet as pérolas do ENEM, respostas oferecidas por certos estudantes (se é que "estudante" se aplica) e que são incríveis de um modo assustador. Tremo em pensar que pela sorte ou pelo abracadabra do sistema de pontuação estes indivíduos talvez ainda possam ser conduzidos à universidade e serão amanhã os profissionais que estarão nos escritórios de engenharia calculando pontes, os togados nos tribunais exercendo o Direito, os doutores segurando o bisturi enquanto estamos anestesiados ou mestres nas salas de aula preparando as novas gerações, plantando no pomar as novas sementes.
Registrei abaixo algumas respostas, mas antes de prosseguir tire as crianças da sala.Vou exibir frases de ignorância explícita.
- " A Terra se vira nela mesma, e esse difícil movimento denomina-se Arrotação".
- "Gastam o dinheiro do povo em Superfalos".
- "A História se divide em: Antiga, Média, Moderna e Momentânea, esta a dos nossos dias".
- " Uma tonelada pesa pelo menos 100 kg de chumbo".
- "A Ciência pogrediu tanto que inventou os ciclones como a ovelha Dolly".
- "A floresta está cheia de animais extintos. Tem que parar de desmatar para que os animais que estão extintos possam se reproduzirem e aumentarem seu número respirando um ar mais limpo".
-"Quilograma é quando, após medir, uma grama pesa um quilo".
- "Um septuagenário é um losango de 7 lados".
E termino o Rota de Fuga desta semana com a resposta que atira no que vê e acerta o que não vê:
"Estamos sendo roubados por pessoas políticas escolhidas para este propósito".
*Max Velati trabalhou muitos anos em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da literatura, é chargista de Economia da Folha de São Paulo.
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