Assassinato, pedofilia e perseguição marcam os 80 anos de vida de Roman Polanski
Polanski com a bela Sharon Tate, assassinada a sangue frio (Foto: (Arquivo)) |
Por Marco Lacerda*
“Gostaria de ser julgado pelo meu trabalho, não pela minha vida. Se existe alguma possibilidade de mudar o destino só pode ser no que se refere à criação. O resto é impossível”.
Roman Polanski, nascido Rajmund Roman Liebling, em Paris, em 1933, fez esta reflexão aparentemente simplista quando ainda se encontrava confinado em sua própria casa, cumprindo a prisão domiciliar determinada pelas autoridades suíças, país onde foi detido por abusar de uma menor de idade, há trinta anos.
Polêmico, sarcástico, egocêntrico e genial, o francês de origem judaico-polaca chega aos 80 anos em plena forma, com seu filme mais recente esperando o momento para ser exibido em salas de cinema depois de sua apresentação no Festival de Cannes de 2013, onde fez sua première com mais castigos do que glórias.
Sem Palma de Ouro e com a polêmica desatada por declarações misóginas feitas numa entrevista coletiva de apresentação de de "La Vénus a la fourrure", à qual compareceu acompanhado de sua terceira mulher, Emmanuelle Seigner, protagonista do filme, Polanski retornou ao noticiário por assuntos alheios ao cinema.
Masoquismo e dominação
“O mundo nos impõe a igualdade de gêneros, o que não passa de uma idiotice. Acho uma pena que oferecer flores a uma mulher tenha se convertido num gesto indecente”, disse o cineasta em resposta a uma pergunta sobre somo ele vê a evolução das mulheres nos últimos anos. O filme é sobre a relação masoquista e de dominação que se estabelece entre um homem e uma mulher.
“A pílula masculinizou a mulher, mas existem outros fatores que afastaram o romance de nossas vidas.” É uma lástima, insistiu o cineasta, desafiando inclusive sua mulher ao lançar-lhe um de seus comentários machistas: “Vão pensar que você é uma dessas louras burras”, disparou o diretor enquanto Emmanuelle Seigner respondia a pergunta de um repórter sobre se ela considerava seu personagem uma deusa da vingança.
A idade não afetou a capacidade de trabalho de Polanski: às vésperas de aposentar-se, o francês rodou ‘O último portal’, com Johnny Depp e em seguida ‘O pianista’ (2002), que lhe garantiu seu único Oscar até o momento.
Em seguida dirigiu ‘O escritor fantasma’ (Urso de Prata em Berlim, ‘Um deus selvagem’, baseada na obra de Yasmina Rheza (indicada a vários Globos deOuro) e agora ‘La Vénus á la fourroure’.
Filho de pais judeus polacos assassinados pelos nazistas nos campos de concentração de Auschwitz e Mathausen, o garoto Polanski sobreviveu os anos de guerra fazendo-se passar por católico em famílias adotivas e mais tarde mendigando nas ruas, tal como conta em sua autobiografia ‘Roman por Polanski’, de 1985.
Assassinato e abuso sexual
Aos 21 anos debutou no cinema com o curta-metragem ‘Rower’ (1955), mas foi em 1962 que rodou seu primeiro longa, ‘A faca na água’, seu único filme produzido na Polônia, candidato ao Oscar como melhor filme estrangeiro.
Imprevisível e inquieto, o trabalhador incansável que sempre foi e continua sendo, Polanski mudou-se para os Estados Unidos em 1967, onde teve o seu primeiro grande reconhecimento profissional com ‘A dança dos vampiros’ e conheceu sua segunda mulher, a bela Sharon Tate, com quem se casou em 1968.
No mesmo ano realizou um de seus filmes mais emblemáticos e polêmicos, ‘Bebê de Rosemary’, interpretado uma jovem Mia Farrow. Indicada ao Oscar e de grande repercussão internacional. Eram seus anos de glória.
O assassinato de sua mulher, a belíssima Sharon Tate, por uma seita liderada pelo serial killer Charles Manson – Tate estava grávida de oito meses e Polanski se encontrava em Londres filmando ‘Macbeth’ – manteve o cineasta afastado do cinema por cinco anos.
Voltou com ‘Diário de sonhos proibidos’ (1973) logo seguido de ‘Chinatown’ (1974), filme de impacto mundial com Jack Nicholson e Faye Dunaway que lhe garantiu onze indicações ao Oscar.
Em 1977 Polanski viveu outro episódio convulso de sua biografia: uma menina de 13 anos o acusou de tê-la forçado a manter relações com ele,abuso reconhecido e do qual fugiu para a Europa para escapar da cadeia. Em 1978 instalou-se na França, país que lhe oferece cidadania e de onde não pode ser extraditado, exatamente como acontece com ladrões de banco e mensaleiros do Brasil. Desde então nunca mais pôs os pés nos Estados Unidos.
Charles Manson, o assassino de Sharon Tate. Veja o vídeo:
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e editor-especial do Domtotal
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