quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Falta de pediatras é ameaça à saúde das crianças brasileiras

Em São Paulo só há 0,7 pediatra para cada mil habitantes, entre zero e 20 anos incompletos.
Recém-nascidos, crianças pequenas e até adolescentes têm sua saúde em risco em virtude da reduzida oferta de atendimento médico. No estado de São Paulo, a quantidade de médicos formados é suficiente para prestar atendimento à população: uma proporção de 2,7 profissionais por mil habitantes. Entretanto, só há 0,7 pediatra para cada mil habitantes, entre zero e 20 anos incompletos, que é a faixa etária da atuação da especialidade, conforme informa Mario Roberto Hirschheimer, presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

É importante enfatizar que o pediatra é o médico com competências e habilidades para atender o ser humano em crescimento e desenvolvimento. Portanto, não há pediatras suficientes para atender o conjunto de crianças e adolescentes em todo o estado nas suas várias formas de atendimento, incluindo consultas de rotina, urgências e emergências.

Carência de especialistas 

Para citar alguns dados: na década de 90 houve um aumento na procura pela especialização em pediatria de 67% por parte dos acadêmicos de medicina que se formavam. Se compararmos os números de 1999 com os de 2013, houve queda de 55% dos candidatos ao título de especialista em pediatria.

Se considerarmos nesse cenário que houve significativo aumento do número de faculdades de medicina, com consequente aumento no número de novos médicos, proporcionalmente a queda foi brutal. Se há 15 anos, 15% a 20% dos formandos procuravam a pediatria como especialidade, hoje esse número é inferior a 8%.

Consultório ou PS? 

Os prontos-socorros de São Paulo têm se mostrado um ambiente cada vez mais carregado; superlotados.  A procura por um atendimento rápido leva as mães a optar por esta consulta imparcial.

“Para muitas mães existe o mito da ‘resolutividade’ do pronto-socorro, onde o atendimento é imediato, sem marcação de horário, o médico já faz um diagnóstico, indica um tratamento e o problema está resolvido. O pronto-socorro deixou de ser um serviço para atendimento de urgências e emergências para se tornar um serviço de conveniência”, comenta o presidente da SPSP.

“As condições não são favoráveis; tanto para os pacientes quanto para os médicos. Toda essa situação de escassez do profissional se dá em parte pelo desincentivo retratado pela baixa remuneração do profissional – valor considerado desproporcional às horas de trabalho prestadas”.

A consulta ideal 

Marcar uma consulta tem sido cada vez mais difícil. Já ocorreu de o agendamento só ser possível se datado para meses depois. Com isso, problemas que carecem de um cuidado imediato acabam sendo protelados, o que pode agravar o quadro. Fator este, que desestimula tal procura médica.

Mario Roberto pondera que uma consulta pediátrica é bastante complexa. O problema é que há muitos serviços obrigando os profissionais de medicina a fazerem quatro a cinco consultas por hora.

“Trinta minutos é o tempo mínimo necessário para que se possa avaliar o estado de saúde da criança, seu crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor, dar toda a orientação necessária sobre cuidados, remédios, vacinas, alimentação adequada e como prepará-la, estímulos para a criança se desenvolver bem, como evitar acidentes na faixa etária, etc.”

Remuneração 

Diferentemente de outras especialidades médicas, que têm a possibilidade de realizar exames ou procedimentos, a única fonte do pediatra no Brasil é a remuneração pela consulta ou por plantões. Com a desvalorização salarial destas atividades, tanto no sistema público quanto na rede suplementar, os jovens médicos não se interessam mais pela pediatria.

O preço por consulta beira R$ 70. Para conseguir superar essa média, é preciso realizar um trabalho brutal, com horas demasiadas de atividade. Há ainda outro fator que implica na baixa procura dos estudantes pela área profissional. Para ter o conhecimento necessário para o atendimento pediátrico adequado é necessário muito estudo e dedicação. A evolução da especialidade foi de tal ordem que gerou a necessidade de estender os programas de residência médica em pediatria, atualmente com duração de dois anos, para três a partir de 2015.

“A criança brasileira tem o direito à assistência médica qualificada e eficaz assegurado pela Constituição Federal (artigo 227), sendo dever do Estado e de toda a sociedade prover os mecanismos para que os recursos direcionados à saúde sejam otimizados em seu benefício. Estabelecer remuneração digna para os pediatras faz parte deste dever, considerando que é mais econômico pagar um bom médico do que gastar ao remediar. Portanto, é preciso que o atendimento pediátrico seja mais valorizado!”.
Acontece Comunicação e Notícias

Nenhum comentário:

Postar um comentário