domingo, 26 de janeiro de 2014

Os discípulos, pescadores de homens, nas misteriosas águas da vida

Pe. José Fernandes de Oliveira*

Na celebração eucarística deste terceiro domingo do tempo comum, o evangelista Mateus nos traz o relato do início do ministério pastoral de Jesus. Depois de batizado por João Batista, Jesus retorna para sua cidade Nazaré, e, posteriormente para Cafarnaum, cidade junto ao lago de Genesaré, por onde passava uma importante estrada, que ligava diversas nações. Estrategicamente Jesus escolhe esta cidade cosmopolita para iniciar a sua atividade missionária, tornando-a o centro de irradiação do seu ministério. Da narração de Mateus ressalta quatro pontos que servem para iluminar nossa reflexão. 

* Fazendo de Cafarnaum o centro de irradiação da sua palavra para um mundo carregado de sofrimentos, de conflitos e dos mais diversos problemas, que podem ser encontrados nas grandes metrópoles, Jesus se apresenta como luz, condividindo o destino e o sofrimento daquela gente. 

* Jesus inicia a pregação do Reino com o mesmo apelo feito por João Batista: o convite à conversão. Contudo, diferentemente de João Batista, Jesus se anuncia como o mensageiro que leva este anúncio à sua realização. Jesus é o próprio reino de Deus presente no mundo, que tem condição necessária para dele fazer parte, uma mudança radical de vida. Ter-se a coragem de entrar dentro de si mesmo para ver o que deve ser arrancado, transformado e colocado a serviço do bem.

* Jesus chama os primeiros discípulos que o seguem. No chamamento dos primeiros discípulos, o evangelista faz ressaltar o que significa ser discípulo de Jesus insistindo em alguns símbolos fundamentais. Primeiro, a centralidade de Jesus. Não é o homem que se apresenta como discípulo para o reino, mas é Jesus que o faz discípulo, não se trata, portanto, de aderir a idéias, mas a uma pessoa. Esta centralidade de Jesus é permanente, ou seja, o discípulos se manterá sempre discípulo e o Mestre sempre Mestre. Jesus não propõe um aprendizado, em cujo término o discípulo o título de "mestre"; com Jesus sempre se permanece na condição de discípulo, de aprendiz. Em seguida, Mateus insiste em dizer que os primeiros discípulos são quatro irmãos. O Reino de Deus é confiado a irmãos, mas não se trata de parentesco gerado pela consanguinidade, mas daquela fraternidade espiritual, que se tornará a principal característica da nova família dos discípulos; com efeito, no reino de Deus seremos apenas irmãos. O evangelista continua sua narração sublinhando que os chamados largam as redes, deixa o barrco do pai, abandonam o trabalho, de onde tiraram o próprio sustento, e o próprio pai. Com isso pretende dizer que o discípulo de Jesus não pertence mais, ao menos de modo absoluto, a nenhuma autoridade humana, nem mesmo àquela familiar, porque se deixando tudo, inclusive o pai terreno, se encontra outro, aquele que está nos céus. 

A sua paternidade é aquela que liberta. Ao fazer dos discípulos pescadores de homens, Jesus pretende dizer que quer recolher estes peixes não para captura-los, mas para oferecer-lhes as águas ricas da vida. Os discípulos são chamados a participar desta preocupação de Deus a fim de recolher todos os seus filhos e lhes dar a sua vida. Por último, o evangelista aponta para o discipulado como caminho e missão. O discipulo não assume uma particular condição social nem se coloca num estado de estagnação. O convite de Jesus é que o discípulo de Jesus esteja sempre em caminho e tudo fazer para não se afastar daquele que se tornou o centro da própria via: o próprio Jesus.

Diante da proposta de Jesus que hoje nos é feita, estamos dispostos a fazer dele a luz que vai sempre iluminar o nosso caminho? Estamos dispostos a sempre ouvir a sua palavra e fazer dela o ponto de referência para o nosso agir? Estamos prontos para nos convertermos, tornando-nos verdadeiramente discípulos de Jesus; sermos seus seguidores, anunciando a boa nova do seu reino a todas as pessoas de boa vontade com o nosso testemunho de vida; a lutarmos com todo nosso empenho para criarmos em torno de nós um ambiente de fraternidade e de paz; a nos tornar pescadores de homens, trazendo para Jesus quantos ainda não tomaram conhecimento do seu amor para com todos nós?

Doutor em Direito Canônico, Presidente do Tribunal Eclesiástico do Ceará e professor da Faculdade Católica de Fortaleza

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