segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Adeus e Gratidão

O Dom Total, neste espaço que durante tanto tempo e de modo tão fiel, o Pe. Libânio publicou seus artigos, deseja fazer uma humilde homenagem, a título de gratidão. João Batista Libânio: * 19/02/1932; + 30/01/2014. O texto é de autoria do jornalista Tilden José Santiago.
Meus mestres jesuítas de Roma, do Pontifício Colégio Pio Brasileiro e da Universidade Gregoriana, estão voltando para o Pai: Oscar Müller, Dom Luciano Mendes de Almeida, Monnerat, João Bosco, Danti e outros. Agora foi a vez do já saudoso Pe. Libânio.
Nós, ex-alunos dos jesuítas, somos orgulhosos de sê-lo. Amigos psicanalistas consideram a Companhia de Jesus uma instituição modelo, que teve vigor para atravessar vários séculos. Com razão! Conhecemos, de perto, a inteligência e a sabedoria dos filhos de Inácio de Loyola dentro e fora da Igreja romana, dentro e fora das universidades. Não é à toa que temos hoje um papa Francisco, admirado, influenciando mundialmente, capaz de reunir a firmeza de pensamento, como jesuíta, com o espírito e o universalismo de Francisco de Assis.
Os jesuítas prolongam no tempo a dialética iniciada por Loyola e Francisco Xavier: o primeiro, permanecendo em Paris, Roma e Madri, fortalecendo a própria instituição e a Igreja no rumo do Reino. O segundo, abraçando a perspectiva missionária do Envio, da busca do Outro, no Japão, na Índia e na China.
O amigo João Batista Libânio foi forjada na oficina dos jesuítas. Este escriba conviveu com ele no Pio Brasileiro. Enquanto fazia sua tese de doutorado em teologia, dedicava suas tardes como “repetidor de teologia” aos alunos de tosos os Estados do Brasil. Ele com 30 anos e nós, com 21, 22 anos, bebíamos em sua sabedoria e vivência espiritual. Além de aprofundarmos com ele o dogma e a teologia moral, Libânio era um formador de nosso caráter, comportamento e sentido ético da vida. À luz da espiritualidade inaciana e dos novos paradigmas que brotavam do Concílio Vaticano II, ele nos orientava na busca da ciência, dos mistérios da fé e da mística cristã.
No Brasil, escreveu 36 livros e foi coautor em mais de cem publicações. Vamos sentir falta de seus artigos no Dom Total, quando nos oferecia uma leitura espiritual e humanista.
Contribuiu para o aprofundamento da Teologia da Libertação, tornando-se, nos últimos anos, um dos maiores teólogos dessa corrente polêmica dentro da Igreja romana. Não se limitava a posições teóricas, por mais louváveis que fossem. Elas regavam uma vivência de alegrai de um homem simples, cujo sorriso ficará na memória de quantos o conheceram. Passava a semana inteira instruindo e educando jovens teólogos em BH, na FAJE, e, no “weekend”, se mandava para Vespasiano, em busca do povo de Deus, sequioso de uma pastoral que, nos lábios de Libânio, era sinônimo de espiritualidade, humanismo e “consolo” (Isaías: “Consolai, consolai meu povo”).
Sua última viagem a Vespasiano coincidiu com sua viagem ao encontro do Pai Eterno. Em cortejo fúnebre levamos à Igreja onde exercia seu sacerdócio. Dessa vez, as ovelhas o acolheram e velaram seu corpo com lágrimas. Choravam seus amigos – crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos – sua partida.
Adeus! Gratidão, Mestre Libânio.

João Batista Libânioé teólogo jesuíta. Licenciado em Teologia em Frankfurt (Alemanha) e doutorado pela Universidade Gregoriana (Roma). É professor da FAJE (Faculdades Jesuítas), em Belo Horizonte. Publicou mais de noventa livros entre os de autoria própria (36) e em colaboração (56), e centenas de artigos em revistas nacionais e estrangeiras. Internacionalmente reconhecido como um dos teólogos da Libertação.

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