quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Biosfera exige economia menor

Marcus Eduardo de Oliveira

A poluição do ar e dos oceanos, extinção de espécies, cardumes ameaçados, chuvas ácidas, buraco na camada de ozônio, esgotamento dos solos e a constante mudança climática certamente são fatores desencadeados pela expansão da atividade econômica, mostrando com isso que os limites ecológicos não suportam crescimento econômico exagerado, condição que se torna antieconômica.

Nesse caso, as perdas (de capital natural) superam os ganhos (econômico-produtivos). É a economia provocando sérios impactos sobre o equilíbrio ecológico; é a crescente pressão da humanidade – via sistema econômico produtivo - sobre os recursos naturais.

O crescimento contínuo da atividade econômica é, simplesmente, incompatível com uma biosfera (conjunto de todos os ecossistemas da Terra) finita. Insistir num acentuado crescimento físico da economia, tendo em conta a finitude dos recursos naturais e energéticos é incorrer gravemente em mais custos (ambientais) que benefícios (econômicos).

Isso enlaça a própria dinâmica da economia, tornando necessária a imediata promoção de uma ruptura com a ideia central que preconiza que crescimento econômico conduz à melhoria do padrão médio de vida das pessoas.

É simplista pressupor que elevadas taxas de crescimento econômico melhoram substancialmente o modo de viver de cada um de nós. Essa é uma visão míope dos benefícios do crescimento, elevando a conquista material e o acúmulo de mercadorias ao patamar de fator determinante de ascensão social. Isso está longe de ser desenvolvimento (melhorar a qualidade de vida das pessoas).

Objetivamente, alcança-se desenvolvimento quando são atingidos, em concomitante a melhoria do padrão médio das condições de vida, padrões ecologicamente sustentáveis; além da fundamental conquista das chamadas liberdades, meta-síntese do desenvolvimento, como arduamente defende Amartya Sen, prêmio Nobel de economia.

Não é o crescimento da economia que faz progredir qualitativamente a vida das pessoas. Afora isso, é importante salientar que para fazer uma economia crescer é preciso antes “passar” pela imposição dos limites dados pela natureza. É aí que reside intenso conflito entre os sistemas ecológico e o econômico. Inexoravelmente, para tudo há limites.

Herman Daly, certamente o maior expoente contemporâneo da economia ecológica, a esse respeito pondera que “se os recursos pudessem ser criados a partir do nada e os resíduos pudessem ser aniquilados no nada, então poderíamos ter uma produção de recursos sempre em crescimento através da qual alimentaríamos o crescimento contínuo da economia. Mas a primeira lei da termodinâmica (lei da conservação, o grifo é meu) diz NÃO.

Ou se pudéssemos apenas reciclar a mesma matéria e energia através da economia de forma mais rápida, poderíamos manter o crescimento em andamento (grifo meu: matéria e energia não são criadas, mas apenas transformadas). O diagrama de fluxo circular de todos os textos de iniciação à teoria econômica infelizmente aproxima-se muito desta afirmação. Mas a segunda lei da termodinâmica (lei da entropia, outro grifo meu) diz NÃO”.

Dessa incompatibilidade entre crescimento econômico versus não agressão ambiental nasce a imprescindível necessidade de fazer com que os sistemas econômicos “conversem” com os sistemas ecológicos visando estabelecer aí uma fina sintonia.

Por oportuno, Fritjof Capra nos lembra de que enquanto “a economia enfatiza a competição, a expansão e a dominação; a ecologia enfatiza a cooperação, a conservação e a parceria.”. 
O fato mais proeminente, contudo, nos parece ser a impossibilidade de fazer a economia crescer sem produzir consideráveis impactos ambientais. Não há como negar que todo e qualquer crescimento (expansão) gera estragos (dilapidação) ao ambiente natural (sistema ecológico).

Quanto mais as economias modernas crescem, mais se dilapidam os principais serviços ecossistêmicos. A depleção acentua-se, o conflito emerge. Lester Brown assevera que “pode-se comprovar que a economia está em conflito com os sistemas naturais da Terra nas notícias diárias de colapso de pesqueiros, encolhimento de florestas, erosão de solos, deterioração de pradarias, expansão de desertos, aumento constante dos níveis de dióxido de carbono (CO2), queda de lençóis freáticos, aumento da temperatura, tempestades mais destrutivas, derretimento de geleiras, elevação do nível do mar, morte de recifes de coral e desaparecimento de espécies”.

Tudo isso afeta a qualidade de vida das pessoas, distanciando-as do bem-estar. O que realmente importa em matéria de bem-estar, de bem viver, não é atingir crescimento (mais quantidade), mas, sim, desenvolvimento (mais qualidade).

Nesse pormenor, limitar o crescimento da economia é um bom caminho para se alcançar o tão almejado desenvolvimento. Dada às limitações naturais do planeta, não é aceitável fazer a economia crescer à custa da pilhagem do capital natural, diminuindo o patrimônio da natureza. Insistir num tipo de modelo de crescimento econômico que desfigura completamente o semblante da natureza é reduzir a biosfera, submetendo-a ao tacanho modo de produção econômica que, primeiro, destrói, para só depois produzir.

Definitivamente, não precisamos de mais quantidade; precisamos de muito mais qualidade. O planeta não precisa de mais produção; precisa de muito mais proteção
(*) Economista e professor, com mestrado pela (USP) | prof.marcuseduardo@bol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário