Padre Geovane Saraiva*
Dom Hélder Câmara leu, quando Arcebispo de Olinda e Recife,
um conjunto de crônicas, no microfone da Rádio Olinda de Pernambuco,
intituladas: “Um olhar sobre a cidade”. Trata-se de mensagens da melhor
qualidade, mensagens ricas e profundas, assim como foi rica, profunda, intensa,
preciosa e de ótima qualidade a vida do pastor dos empobrecidos, humano ao
extremo, nascido aos 07 de fevereiro de 1909, na cidade de Fortaleza – Ceará.
Mensagens de amor e de esperança para o seu povo, sua gente
muito querida, em primeiro lugar nas cidades de Olinda, Recife e demais cidades
de sua então arquidiocese, mas também para o mundo inteiro, porque sua
emblemática palavra, por seu significado social, profético e profundamente
humano, chegava aos confins do mundo. Mensagens de um pastor que soube amar a
todos, mas, sobretudo, seu imenso amor à causa dos empobrecidos, os “sem voz e
sem vez”. "Quem estiver sofrendo, no corpo ou na alma; quem, pobre ou rico,
estiver desesperado, terá lugar especial no coração do bispo", dizia ele.

A Carta aos Hebreus nos assegura: “Nós não temos aqui na
terra cidade permanente, estamos à procura da cidade que há de vir” (Hb 13, 14).
Hoje a grande maioria da humanidade mora em cidades. Daí o nosso olhar para a
cidade e que seja o mesmo olhar do artesão da paz, desejando tirar dela coisas
boas e positivas. O mundo é bom e as cidades são boas. Como seria bom viver bem
e em harmonia com este mundo, que Deus criou para nós, suas criaturas, na
assertiva do próprio Deus: “O que vos peço é que não tireis do mundo, mas
livreis do mal” (Jo 17, 15).
Mensagens do Profeta que viveu bem nessa “cidade”, que não é
permanente, mas com um grande desejo que todos compreendessem o sentido da vida
neste mundo, voltando-se, é claro e evidente, para a outra vida, para a
transcendência. Mensagens do “irmão dos pobres” que encarnou o Concílio
Vaticano II, quando diz: “Não se encontra nada verdadeiramente humano que não
lhes ressoe no coração” (GS, 200).
Nós moramos numa cidade e por vontade do Criador e Pai, a
exemplo do Apóstolo dos gentios, de Dom Hélder Câmara e de outros homens de
Deus, sonhamos com a cidade do céu, a Jerusalém do Alto. Santo Agostinho, na
sua obra, “A cidade de Deus” fala que “dois amores fundaram duas cidades, a
saber: O amor próprio, levado ao desprezo a Deus, a terrena e o amor a Deus,
levado ao desprezo de si próprio, a celestial”.
Que o aniversário de nascimento de Helder, pequeno na
estatura, mas grande e obstinado nos ideais de peregrino da paz, o qual na
qualidade de místico e maestria de rara originalidade procurou ser fiel a Jesus
de Nazaré, com os pés no chão e no permanente esforço de unir o céu a terra,
com os olhos, a mente e o coração fixos e voltados para a cidade lá do alto,
que na alegria e na esperança cristã jamais iremos esquecê-lo.
Que ao celebrarmos sua memória, uma vida toda pelos irmãos,
produza-nos os melhores frutos, para a maior glória de Deus e o bem do povo
brasileiro e da humanidade inteira. Assim seja!
*Padre
da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, articulista, blogueiro, membro da
Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos
Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal
- Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com
Autor dos livros:
“O peregrino da Paz”
e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara);
“A Ternura de um
Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A Esperança Tem
Nome” (espiritualidade e compromisso);
"Dom Helder:
sonhos e utopias" (o pastor dos empobrecidos);
"25 Anos sobre
Águas Sagradas (coletânea de artigos e fotos).
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