As eleições estão aí e a História prova que vai dar errado de novo. Todos somos culpados.
Por Max Velati*
Li em algum lugar que os últimos 5 mil anos de nossa História, se divididos em ciclos de 100 anos, mostraria que tivemos a cada ciclo algo como 94 anos de guerra e apenas 6 anos de paz. No livro “A Marcha da Insensatez”, publicado em 1984, a grande historiadora americana Barbara Tuchman faz uma reflexão igualmente assustadora. A obra é dedicada a analisar a insensatez do poder, de Tróia ao Vietnã, e, com observações bem fundamentadas, ela mostra com que frequência insana o poder escolhe o pior caminho a despeito dos avisos, dos dados contrários, dos bons conselhos, do bom senso, do exemplo histórico e das evidências. Nas palavras da autora, a questão se resume afinal à pura insensatez e pergunta: "por que os homens com poder de decisão política tão frequentemente agem de forma contrária àquela apontada pela razão e que os próprios interesses em jogo sugerem? Por que o processo mental de inteligência, também frequentemente, parece não funcionar?"
A própria autora se encarrega de tentar responder esse enigma, ao longo de 400 páginas. Entre as conclusões mais valiosas, ela sugere a insensatez, definida como uma “loucura política”, um desvio que independe de época ou lugar. Acrescento por minha conta que independe também das siglas partidárias e das ideologias que supostamente defendem. Também na minha conta acrescento que nós, o povo, e não apenas aqueles que ocupam o poder, estamos igualmente sujeitos à “loucura política” quando nos mobilizamos para eleger com frequência insana justamente os nossos piores inimigos cívicos, precisamente aqueles que são capazes de destruir com mão pesada e nenhum remorso o nosso patrimônio, os nossos recursos naturais, as nossas liberdades, os nossos valores morais e – talvez a maior das crueldades – as nossas esperanças. Não estou falando deste ou daquele partido, por favor. Faço aqui uma acusação cívica onde todos são culpados. Alguns são culpados por fazer e outros por permitir que seja feito, mas todos nós somos culpados.
O resultado da soma de nossas loucuras, a nossa e a dos governantes, é a realidade destroçada por impasses, crises e paradoxos.
Quando não flui, o trânsito estressa e sufoca. Quando flui, mata e mutila e mesmo assim o maior sonho do brasileiro é ter um carro, mais do que uma casa, como indicam pesquisas recentes. E, nessa loucura, as estradas e o fluxo urbano estão críticos, mas a produção de automóveis aumenta a cada ano e o Brasil já é o quarto mercado mundial neste ranking.
Os recursos do planeta estão no limite, mas por dinheiro estimulamos o consumo de tudo o que não é renovável. E por fim jogamos fora quase tudo por preguiça e insensatez. Estes hábitos e a qualidade do que consumimos estão explicados nos R$112 mensais que o brasileiro gasta em média com remédios.
Todas as infraestruturas e serviços dão sinais de esgotamento e tudo o que fazemos é jogar o jogo da batata quente para encontrar um culpado, como se houvesse apenas um único culpado e como se encontrá-lo resolvesse tudo. Sobre as gerações futuras, adolescentes roubam e matam por qualquer motivo ou motivo algum. Em resposta, negligenciamos a perigosamente a educação e estimulamos oficialmente a impunidade.
A miséria - de muitos tipos - se espalha e se torna mais profunda enquanto o dinheiro de roubos institucionais, de negociatas e desvios alcança escalas e dígitos sem precedentes. Além das consequências diretas da corrupção e da desonestidade, sofremos também ou principalmente os efeitos da má gestão e da pura incompetência.
A lista de exemplos é grande e a conclusão é evidente: deu errado!
As eleições estão aí e a História nos mostra que vai dar errado de novo. A História, na sua essência, é o registro antigo e preciso da nossa insanidade, esse impulso perverso que nos obriga a fazer sempre a mesma coisa e sempre do mesmo modo esperando que algum dia o resultado seja diferente.
*Max Velati trabalhou muitos anos em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da literatura, é chargista de Economia da Folha de S. Paulo.
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