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AOS 80 ANOS, BARDOT VOLTA AOS HOLOFOTES COM FILME DE SUCESSO NA FRANÇA.
Por Carlos Ávila*
“A Brigitte Bardot está ficando velha/Envelheceu antes dos nossos sonhos/Coitada da Brigitte Bardot que era uma moça bonita/Mas ela mesma não podia ser um sonho/para nunca envelhecer/A Brigitte Bardot está se desmanchando/E os nossos sonhos querem pedir divórcio...” Já em 1973, o compositor baiano Tom Zé falava numa canção do envelhecimento de BB; isto na época em que a atriz tinha em torno de 40 anos e decidiu deixar as telas dos cinemas.
Musa sexy, loira e linda nos anos 1950/60 - quando filmou com inúmeros cineastas, incluindo Godard - atualmente BB é uma velha excêntrica. Sua trajetória inclui vários (e tumultuados) relacionamentos, o abandono de seu filho único e uma tentativa de suicídio. Até onde se tem notícia, hoje BB vive isolada; é vegetariana e defensora dos animais (já liderou campanhas contra a caça das baleias, pela proibição da briga entre cães, contra o uso de casacos de pele etc.). Volta e meia dá também declarações estranhas e desconcertantes - inclusive, já pagou multa por incitação ao racismo.
Em 2014, BB está completando 80 anos e volta ao noticiário em razão do filme “Bardot – La Méprise” (“Bardot – A Incompreendida”, no Brasil), recentemente exibido em São Paulo, no Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. Dirigido pelo cineasta David Teboul, no ano passado, foi o filme mais visto na TV francesa. “Garoto, sonhava com sua imagem sensual e, adulto, sempre me impressionei com essa mulher que um dia jogou tudo para o alto” – afirmou Teboul em entrevista ao “Estadão”. BB exigiu não aparecer no documentário, mas liberou seu arquivo de imagens (inclusive domésticas).
O que levou Teboul a fazer o documentário foi o impacto ao ver “Le Mépris” (O Desprezo), de Godard, realizado em 1963, talvez o melhor filme protagonizado por Brigitte e, seguramente, um dos mais belos (e importantes) do cineasta francês. Baseado num romance do escritor italiano Alberto Moravia (“Il Disprezzo”, lançado em 1954), o filme traz, além de BB, os atores Michel Piccoli e Jack Palance, e ainda o diretor austríaco Fritz Lang – este último interpretando a si mesmo filmando a “Odisseia” de Homero.
Impossível não se lembrar em “O Desprezo” da sequência de BB (como a personagem Camille) nua na cama – filmada com filtros em vermelho, branco e azul, mudando continuamente a cor da imagem - e sua fala sensual, com perguntas ao amante sobre as partes de seu corpo. É esta a BB que ficou imortalizada nas telas, com sua beleza suave e selvagem a um só tempo. Hoje uma velha senhora de rosto vincado pelo implacável tempo, chegando a inacreditáveis 80 anos! “A Brigitte Bardot agora está ficando triste e sozinha...” como Tom Zé finaliza, melancolicamente, a sua canção.
*Carlos Ávila é poeta e jornalista. Publicou, entre outros, Bissexto Sentido e Área de Risco (poesia); Poesia Pensada (crítica) e Bri Bri no canto do parque (infantil). Foi, por quatro anos (1995/98), editor do “Suplemento Literário de Minas Gerais”. Trabalhou também na Rede Minas de Televisão e foi editor do caderno de cultura do jornal “Hoje em Dia”. Participou de mais de vinte antologias no país e no exterior.
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