Gandhi em greve de fome |
Francisco convence político conhecido como anticlerical a suspender uma greve de fome.
Por John L. Allen Jr.
Enquanto se prepara para declarar a santidade de dois renomados pontífices do século XX, o papa Francisco mais uma vez provou que rivaliza com João Paulo II em termos de influência ao persuadir um político conhecido como anticlerical a suspender uma greve de fome que, segundo médicos e amigos, estava pondo sua vida em perigo.
Marco Pannella, 83, presidente do Partido Radical da Itália, se recusou comer ou beber líquidos para protestar contra o que considera ser condições desumanas do sistema prisional italiano devido ao seu superlotamento. Pannella se recusava a suspender a greve, apesar de ter se submetido a uma operação no início da semana para tratar de um aneurisma em sua aorta, declinando até mesmo a aceitar transfusões de sangue.
Na tarde de sexta-feira o Papa Francisco telefonou para Panella, internado no hospital Gemelli em Roma. Os dois conversaram por cerca de 20 minutos. Em seguida, Pannella disse que, por respeito ao papa, concordou em tomar um pouco de café e aceitar duas transfusões de sangue que a equipe médica tinha lhe pedido para se submeter.
Segundo uma transcrição do telefonema divulgada pela estação de rádio do Partido Radical, Francisco se comprometeu em ajudar Pannella a “lutar contra” as condições que os prisioneiros enfrentam e pediu ao político para “ser corajoso”.
Fontes disseram ao jornal The Boston Globe que o diálogo entre Francisco e Pannella foi intermediado por uma antiga líder do Partido Radical, a ex-ministra italiana das Relações Exteriores, Emma Bonino, que telefonou para a residência do papa na quinta-feira para pedir ajuda. Bonino falou com Francisco, manifestando o medo de que se líder político continuasse recusando líquidos ele poderia pôr sua vida em risco.
Um porta-voz do Vaticano não confirmou nem negou o telefonema, citando uma política de não comentar sobre as conversas pessoais do papa. No entanto, o porta-voz observou que Pannella havia expressado anteriormente estima por Francisco e especialmente pela visita dele no ano passado a uma prisão juvenil em Roma para lavar os pés de internos.
O gesto do pontífice é ainda mais notável dado que o Partido Radical, e Pannella em particular, travou batalhas contra a Igreja numa ampla gama de questões, desde o divórcio e o aborto até busca por abolir os privilégios tributários e legais garantidos à Igreja num tratado firmado em 1984 com o governo.
Pannella é ateu e bissexual assumido, embora tenha manifestado apreço ao longo dos anos pelas posições a favor da justiça social tomadas por papas recentes. Essa não é a primeira vez que Francisco ajudou a pôr fim numa greve de fome relacionada a condições carcerárias.
Durante o Natal, um grupo de imigrantes da Tunísia e do Marrocos que estava preso num centro de detenção em Roma costuraram a própria boca e se recusaram a comer, em protesto ao que descreveram como tratamento degradante e desumano.
Vários dos imigrantes se colocaram a dormir no lado de fora como parte do protesto, apesar das condições difíceis que o inverno romano apresentava.
Embora os manifestantes não fossem católicos, um padre local os visitou e se comprometeu a entregar uma carta ao Papa Francisco, apresentando suas preocupações e garantindo que o pontífice se interessaria. Isso foi o suficiente para convencer os imigrantes a suspender a greve de fome. Equipes médicas foram convocadas para remover os pontos da boca dos imigrantes, e uma pequena refeição foi organizada.
No domingo, Francisco irá presidir uma cerimônia de canonização – termo formal para declarar alguém santo – dos papas João XXIII e João Paulo II. Autoridades esperam que mais de 1 milhão de pessoas participem da ocasião, o que será o evento de maior público em Roma desde o funeral de João Paulo II, em abril de 2005.
The Boston Globe, 26-04-2014
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