E se o Fim dos Tempos vier sorrateiramente, um castigo mais próximo do vírus do que do vendaval?
Por Max Velati*
Uma passagem do Apocalipse foi interpretada na Idade Média como se o ano 1000 fosse o Fim dos Tempos. Muito antes disso, Noé já havia recebido um alerta direto da fonte e recentemente, depois do susto do bug do milênio, tivemos palpitações provocadas pela matemática dos Maias, calculando com erro o tempo que ainda nos resta.
Até agora o mundo não acabou, mas o medo do Fim dos Tempos parece cíclico. Com a confirmação também cíclica de que somos indestrutíveis, seguimos em frente sem culpa, aliviados, mas com a perigosa arrogância de que estamos salvos porque estamos trilhando o caminho certo.
Minha reflexão de hoje é sobre o que aprendemos a considerar a imagem do Fim do Mundo, a última cena antes de fecharmos as cortinas, os últimos acordes do Grand Finale. Como até agora a Grande Catástrofe ainda não aconteceu, aprendemos a confiar nas versões criadas para o cinema, os cataclismos concebidos habilmente por computação gráfica e desenhados para impressionar.
Mas e se o Fim dos Tempos não for a muralha de água, a chuva de meteoros ou a colisão do planeta? E se a nossa condenação vier na forma de uma sentença sorrateira, um castigo mais próximo do vírus do que do vendaval, mais semelhante à ferrugem do que a uma orquestra de vulcões? E se o Fim dos Tempos não vier dos Céus, mas daqui mesmo, obra humana, terrena, criada pela má gerência, um acúmulo de erros e enganos esperando apenas a escala certa e a amplitude exata para encerrar este capítulo?
Dois parâmetros podem servir para ilustrar a minha interpretação de um Fim dos Tempos invisível, chegando sem alardes e sem trombetas, mas chegando. Basta pensar em número de habitantes e número de automóveis.
Em 1750, a população do mundo estava na casa dos 800 milhões de habitantes. Hoje, somos mais de 7 bilhões de almas. A velocidade máxima de qualquer meio de transporte em 1850 era de 60 km por hora. Hoje, qualquer carro popular desenvolve o dobro disso e está ao alcance mesmo de quem vive com ganhos modestos.
Somos muitos e todos nós queremos automóveis.
O resultado é previsível: tráfego congestionado. Até aqui, nada de novo. A minha reflexão começa ao observar o papel que o engarrafamento assumiu no cotidiano.
O tráfego congestionado hoje é um problema grave, pandêmico, mas estranhamente é um mal que não tem mais culpados ou responsáveis. A doença apagou as suas origens até se transformar em um aspecto natural da realidade. Somos obrigados a ficar uma, duas, três horas confinados, imóveis, acumulando stress, espalhando sujeira, emporcalhando o ar, destruindo a natureza e encaramos isso como se fosse uma exigência do clima, como se estivéssemos diante de uma força da natureza.
O crescimento populacional é uma questão difícil, polêmica, complexa, mas o crescimento do número de veículos é fruto apenas da combinação perversa de má gestão e ganância das corporações. O número absurdo de veículos é uma imposição apenas da Economia e a verdade é que estamos absolutamente impotentes diante do poder do dinheiro.
E se o dinheiro for o nosso castigo, o anjo com as chaves do Abismo?
Uma passagem do Apocalipse foi interpretada na Idade Média como se o ano 1000 fosse o Fim dos Tempos. Muito antes disso, Noé já havia recebido um alerta direto da fonte e recentemente, depois do susto do bug do milênio, tivemos palpitações provocadas pela matemática dos Maias, calculando com erro o tempo que ainda nos resta.
Até agora o mundo não acabou, mas o medo do Fim dos Tempos parece cíclico. Com a confirmação também cíclica de que somos indestrutíveis, seguimos em frente sem culpa, aliviados, mas com a perigosa arrogância de que estamos salvos porque estamos trilhando o caminho certo.
Minha reflexão de hoje é sobre o que aprendemos a considerar a imagem do Fim do Mundo, a última cena antes de fecharmos as cortinas, os últimos acordes do Grand Finale. Como até agora a Grande Catástrofe ainda não aconteceu, aprendemos a confiar nas versões criadas para o cinema, os cataclismos concebidos habilmente por computação gráfica e desenhados para impressionar.
Mas e se o Fim dos Tempos não for a muralha de água, a chuva de meteoros ou a colisão do planeta? E se a nossa condenação vier na forma de uma sentença sorrateira, um castigo mais próximo do vírus do que do vendaval, mais semelhante à ferrugem do que a uma orquestra de vulcões? E se o Fim dos Tempos não vier dos Céus, mas daqui mesmo, obra humana, terrena, criada pela má gerência, um acúmulo de erros e enganos esperando apenas a escala certa e a amplitude exata para encerrar este capítulo?
Dois parâmetros podem servir para ilustrar a minha interpretação de um Fim dos Tempos invisível, chegando sem alardes e sem trombetas, mas chegando. Basta pensar em número de habitantes e número de automóveis.
Em 1750, a população do mundo estava na casa dos 800 milhões de habitantes. Hoje, somos mais de 7 bilhões de almas. A velocidade máxima de qualquer meio de transporte em 1850 era de 60 km por hora. Hoje, qualquer carro popular desenvolve o dobro disso e está ao alcance mesmo de quem vive com ganhos modestos.
Somos muitos e todos nós queremos automóveis.
O resultado é previsível: tráfego congestionado. Até aqui, nada de novo. A minha reflexão começa ao observar o papel que o engarrafamento assumiu no cotidiano.
O tráfego congestionado hoje é um problema grave, pandêmico, mas estranhamente é um mal que não tem mais culpados ou responsáveis. A doença apagou as suas origens até se transformar em um aspecto natural da realidade. Somos obrigados a ficar uma, duas, três horas confinados, imóveis, acumulando stress, espalhando sujeira, emporcalhando o ar, destruindo a natureza e encaramos isso como se fosse uma exigência do clima, como se estivéssemos diante de uma força da natureza.
O crescimento populacional é uma questão difícil, polêmica, complexa, mas o crescimento do número de veículos é fruto apenas da combinação perversa de má gestão e ganância das corporações. O número absurdo de veículos é uma imposição apenas da Economia e a verdade é que estamos absolutamente impotentes diante do poder do dinheiro.
E se o dinheiro for o nosso castigo, o anjo com as chaves do Abismo?
*Max Velati trabalhou muitos anos em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da literatura, é chargista de Economia da Folha de São Paulo.
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