quinta-feira, 15 de maio de 2014

BH recebe mostra sobre Humberto Mauro

Entre os dias 22 de maio e 12 de junho, Palácio das Artes exibirá filmes do cineasta mineiro.


Entre os dias 22 de maio e 12 de junho, a Fundação Clóvis Salgado, por meio do Cine Humberto Mauro, celebra a obra e a memória do patrono da sala. HUMBERTO – Mostra dedicada a Humberto Mauro – O grande pioneiro do Cinema Brasileiro vai reunir longas e curtas-metragens do cineasta mineiro nascido em Volta Grande e cuja trajetória passou por Cataguases e Rio de Janeiro a partir dos anos 1920. Pioneiro da linguagem cinematográfica brasileira e um dos nomes mais referenciais e estudados de nossa história, Humberto Mauro realizou seu primeiro trabalho em 1925, resultando no ainda amador Valadião, o Cratera.
 
Na cerimônia de abertura, que acontece no dia 23 de maio, será exibida uma leitura multimídia – com execução da trilha sonora ao vivo, feita para o cineasta por seu sobrinho neto, Gilberto Mauro, em parceria com Ricardo Garcia. Também será prestada homenagens póstumas a Zequinha Mauro, irmão e grande colaborador de Humberto Mauro. 
 
Destaques 
 
Humberto Mauro realizou 15 longas-metragens, dos quais 7 foram preservados e serão apresentados na mostra. São eles: Tesouro Perdido (1927), Brasa Dormida (1928), Sangue Mineiro (1929), Lábios sem Beijos (1931), Ganga Bruta (1933), O Descobrimento do Brasil (1937) e O Canto da Saudade (1950).
 
Filmes nos quais Mauro trabalhou em outras funções estão incluídos na programação, casos de Como Era Gostoso o Meu Francês (Nelson Pereira dos Santos, 1971) e Anchieta, José do Brasil (Paulo Cezar Saraceni, 1977), nos quais colaborou nos diálogos em tupi-guarani; A Noiva da Cidade (Alex Viany, 1978), do qual escreveu o roteiro e fez uma ponta como ator; e Memória de Helena (1969), de David Neves, em que atua como o tio da personagem-título.
 
Entre 1936 e 1964, Humberto Mauro trabalhou no INCE (Instituto Nacional do Cinema Educativo), órgão do governo para o qual dirigiu mais de 300 documentários em curta-metragem. A Velha a Fiar (1964) é seu trabalho mais conhecido dessa fase. Alguns destes filmes serão apresentados na mostra, divididos em seções temáticas: Ficção e docudrama, Cidades históricas, Música erudita brasileira, Grandes vultos, Capitais, Educação rural, Fauna e flora brasileira, Para crianças e Aviação. 
 
CePiaXiíCatu (Eu Coração Dou Bom)
 
Cumprimento guarani, utilizado por Humberto Mauro, idioma que ele dominava, dá nome à leitura multimídia feita para o cineasta por seu sobrinho neto, Gilberto Mauro, em parceria com Ricardo Garcia. Da plasticidade das cenas nasce o universo sonoro, com Mauro ao piano e Garcia na bateria e eletroacústicos.
 
CePiaXiíCatu reúne imagens dos quatro primeiros filmes de Mauro, que dialogam e se encontram tematicamente em duas projeções simultâneas. O vídeo, criado por Ricardo Garcia, editado com os cortes originais do cineasta, traz uma leitura contemporânea das imagens antológicas dos primeiros trabalhos do pioneiro do cinema brasileiro: Tesouro Perdido (1927), Brasa Dormida (1928) e Sangue Mineiro (1929), além de seu primeiro filme realizado na Cinédia, Lábios sem Beijos (1930).
 
Ganga Bruta no Grande Teatro
 
O encerramento da mostra levará ao Grande Teatro a obra-prima de Humberto Mauro, Ganga Bruta, nos dias 10 e 11 de junho. A trilha sonora será executada ao vivo pela Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Na ocasião, será prestada homenagem a Cyro Siqueira, nome decisivo da crítica cinematográfica mineira e brasileira. O processo de recuperação da partitura original, feita pelo Maestro Titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Marcelo Ramos, levou 3 meses para ser concluída.
 
Filme de 1933, produzido para a Cinédia, Ganga Bruta aborda tema polêmico para a época – violência urbana e repressão sexual. Consta na sinopse que na noite de núpcias, homem descobre que sua mulher não era virgem e, enfurecido, a mata. Depois, enriquece e se apaixona por uma jovem inocente.
 
Por causa da temática, a crítica da época chegou a chamar Ganga Bruta de “o abacaxi da Cinédia”. Relegado ao esquecimento, foi recuperado em 1952 para a 1ª Retrospectiva do Cinema Brasileiro, que o consagraria como a obra-prima de Humberto Mauro. Anos depois, em sua Revisão Crítica do Cinema Brasileiro, Glauber Rocha o consideraria “um dos vinte maiores filmes de todos os tempos” e atribuiria a Humberto Mauro o título de “pai do cinema brasileiro”.
 
Cursos, debates e palestras
 
Seguindo o conceito das grandes retrospectivas do Cine Humberto Mauro, em que se conjuga a exibição de filmes com atividades de reflexão e formação de público, será possível discutir o papel decisivo de Humberto Mauro na história do cinema brasileiro, além de reavivar a obra mauriana em toda sua variedade e potência, colocando-a em cotejo com as questões e impasses do presente. Nesse sentido, Humberto contará com uma série de atividades paralelas. Haverá palestras com a pesquisadora Sheila Schvarzman, autora do livro Humberto Mauro e as Imagens do Brasil, e com o poeta e escritor Ronaldo Werneck, que foi amigo pessoal do cineasta e escreveu vários artigos, livros e relatos sobre ele.
 
Outros estudiosos e conhecedores da trajetória do mineiro participarão de debates e sessões comentadas, entre eles os críticos Inácio Araujo e Ewerton Belico, os pesquisadores Hernani Heffner, Paulo Augusto Gomes, Luís Alberto Rocha Melo e Ataídes Braga, a produtora Alice Gonzaga e o cineasta Geraldo Veloso. Todos os longas exibidos terão pelo menos uma sessão comentada. Nos dias 5, 6 e 7 de junho, um curso com o professor e pesquisador Eduardo Morettin, autor do livro Humberto Mauro, Cinema, História, permitirá ao público interessado mergulhar ainda mais no universo do diretor.
 
Sobre Humberto Mauro
 
Humberto Mauro nasceu em Volta Grande em 1897 e mudou-se para a vizinha Cataguases aos dez anos de idade. Foi neste pequeno município onde ele tomou contato com sessões de cinema, assistindo a filmes de Charles Chaplin, D. W. Griffith, King Vidor, Sergei Eisenstein e Ernst Lubitsch. Apaixonado por máquinas e mecânica, Mauro naturalmente sentiu curiosidade em fotografia e, posteriormente, na câmera de filmar. Seu primeiro filme, ainda amador, foi feito em 1925: Valadião, o cratera.
 
Na juventude, conheceu Pedro Comello, parceiro de cinefilia e também de realizações. Juntos fizeram diversos filmes, através da empresa Phebo Filme, e fundaram o chamado Ciclo de Cataguases, cuja característica é a efervescência da produção na cidade da Zona da Mata mineira. Entre 1926 e 1929, fizeram um filme por ano: Na Primavera da Vida (1926), primeiro longa de Mauro; Tesouro Perdido (1927); Brasa Dormida (1928); e Sangue Mineiro (1929).
 
Em 1930, Mauro foi contratado por Adhemar Gonzaga para trabalhar na Cinédia. No estúdio carioca, realizou seu projeto mais conhecido e adorado, Ganga Bruta (1933), também seu primeiro filme sonoro. Três anos depois, o cineasta foi convidado pelo governo federal a trabalhar no INCE (Instituto Nacional de Cinema Educativo), no qual ficou até 1964 e dirigiu mais de 300 documentários dos mais variados temas.
 
No período, foi contratado pelo Instituto do Cacau da Bahia para dirigir O Descobrimento do Brasil, com música de Heitor Villa-Lobos. De volta a Minas Gerais, Mauro ainda fez O Canto da Saudade (1950), seu último longa, e fechou a carreira no curta Carro de Bois (1974), rodado em Volta Grande. No mesmo ano, o crítico Paulo Emílio Sales Gomes lançou o livro Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte, com nova perspectiva sobre a trajetória e a obra inicial do diretor.
 
Mauro morreu em 1983, na sua cidade natal (Volta Grande). Sobre ele, Glauber Rocha escreveu: “Esquecer Humberto Mauro hoje – e antes não se voltar constantemente sobre sua obra como única e poderosa expressão do cinema novo no Brasil – é tentativa suicida de partir do zero para um futuro de experiências estéreis e desligadas das fontes vivas de nosso povo, triste e faminto, numa paisagem exuberante”.

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