segunda-feira, 28 de julho de 2014

Ir. Mary Melone, a primeira mulher à frente de uma universidade pontifícia

Igreja > 2014-07-27 13:03:45 
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Roma (RV) – A presença das mulheres no mundo da teologia começou discretamente há alguns decênios, após o Concílio Vaticano II. Este processo amadureceu com a nomeação, nos dias passados, da primeira mulher à frente de uma Pontifícia Universidade romana. Como Reitora do Antonianum foi designada a religiosa franciscana Ir. Mary Melone, especialista em Santo Antônio de Pádua. Entrevistada pela Rádio Vaticano, a religiosa reflete sobre as mudanças em andamento na comunidade acadêmica, habituada à presença masculina no que tange à teologia:

Ir. Mary“O fato de que tenha acontecido é um sinal de que existem mudanças. Gostaria de sublinhar dois aspectos relativos a esta nomeação. O primeiro aspecto é que se realizou com critérios acadêmicos: a comunidade se expressa sobre as atitudes e competências dos professores que julga aptos a um cargo. O segundo aspecto é que esta primeira vez de uma mulher, de uma irmã, à frente de uma universidade pontifícia está ligada ao fato de que a nossa presença como professoras é relativamente recente: as mulheres tiveram acesso à teologia e portanto ao doutorado, somente após o Concílio. Inserem-se no ensinamento ao longo dos anos, que não são muitos, pós-conciliares. Os dinamismos das universidades permitem de se ter acesso a estes cargos somente aos professores estáveis, os ordinários e os titulares de cátedras, e nem sempre as religiosas ou as mulheres podem ter acesso a este tipo de carreira universitária”.
RV: Desde que a senhora passou a acompanhar o evoluir desta situação na universidade, foi possível perceber nos últimos anos uma maior acolhida em relação às estudantes mulheres?

Ir. Mary“Posso dizer que existe uma dupla mudança. No nosso mundo feminino, mesmo religioso, as perspectivas de uma inserção profissional é um pouco diferente, porque os institutos femininos, as mulheres, não têm universidades de Ordens, de Congregações. Porém, nos últimos anos, existe uma sensibilidade maior no mundo feminino para dedicar-se ao estudo da teologia. E existe também uma maior atenção por parte das instituições em consentir também às religiosas de ter acesso à carreira como professor estável. Seguramente, é uma maior abertura, um reconhecimento do papel da mulher”.
RV: O Papa Francisco defendeu em várias ocasiões querer aprofundar a teologia da mulher. Na sua opinião, quais os campos mais promissores desta teologia?

Ir. Mary“Eu acredito que a mulher possa dedicar-se a qualquer âmbito da teologia com o modo de fazer teologia que é próprio da mulher. Eu vivo em um ambiente caracterizado por uma reflexão predominantemente masculina. Porém, posso dizer que quando a mulher se aproxima, quando reflete sobre a Revelação, sobre o mistério de Deus, o faz com a sua sensibilidade. Ou na moral, que é um campo muito delicado, em que a mulher também leva a sensibilidade da feminilidade, dos problemas relacionados a isto: imagino toda a moral antropológica, toda a problemática da vida, do respeito pela vida antes do nascimento...Mas também em outros âmbitos, como aquele ao qual me dedico mais especificamente, o dogmático, isto é, por exemplo, como compreender o mistério da Encarnação... Se enriquece no momento em que a abordagem masculina é confrontada com aquela feminina”.

RV: Mas isto é aceito pela teologia como tal?

Ir. Mary“Existem alguns teólogos que pensam que existe uma teologia feminina e quando acrescentam o adjetivo “feminino” o fazem por entender que a teologia, em quanto tal, sem adjetivo, seja “masculina”. É por isto que sou um pouco mais circunspecta sobre categorias, porque penso que a teologia em quanto tal, sem adjetivos, seja a reflexão sobre o mistério de Deus que se revela, e portanto, e pode ser feita quer por um homem como por uma mulher. Vejo que no âmbito da pesquisa contemporânea existe uma atenção gradual em relação à contribuição das mulheres, em relação aos ensaios que muitas teólogas publicam, que são sempre mais citados. A citação destas teses é um sinal mais imediatamente tangível de que é reconhecida a contribuição também da reflexão feminina”. (JE)
 Rádio Vaticano 

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