Em particular, Dom Grampa lembra “a identidade do povo suíço”, desde sempre composta de línguas, confissões, culturas e tradições diferentes. “Na Suíça - explica - culturas liberais e socialistas, reformada e católica, urbana e agrária, e os valores cristãos continuam todavia, presentes na população”.
No entanto, é necessário fazer atenção, adverte o bispo, porque “hoje esses valores são muitas vezes agitados e proclamados por aqueles que instrumentalmente querem usá-los contra um inimigo, seja o próximo, o estrangeiro, o muçulmano”.
“Se pelas igrejas, pela comunidade cristã -, sublinha Dom Grampa - esses valores se limitam a ser repetidos e não interpretados, se corre o risco de criar um efeito de identificação entre o crente e quem usa esses valores para “defender as tradições cristãs”, sem compreendê-los e, sobretudo, sem vivê-los”. O risco, acrescenta ainda o bispo emérito de Lugano, é “que no final muitos bons cristãos serão convencidos de que para defender o cristianismo é necessário limitar o acesso aos estrangeiros, impedir a eles certos direitos, construir muros e barreiras”.
Já no que diz respeito à iniciativa “contra a imigração em massa”, que foi aprovada em fevereiro passado, Dom Grampa adverte a não taxar de xenófobo quem defende esta proposta, que há também raízes sociais: “Chegou-se ao ponto - explica ele - de tirar o trabalho dos nossos trabalhadores para substituí-los com mão-de-obra estrangeira com baixos salários. Esta vergonha deve ser combatida e eliminada através da imposição, para os diferentes setores, de um salário mínimo”.
O bispo exorta em seguida, a não enfrentar ingenuamente a questão dos estrangeiros: “devemos levar a sério os medos das pessoas - explica ele - porque negar o medo é negar a realidade”. E o modo mais adequado para superar esses medos é o encontro: “a regra de olhar nos olhos de uma pessoa, quando se dá a esmola vale também para quando se encontra uma pessoa que não se conhece, neste caso, o estrangeiro, porque assim abre-nos uma perspectiva diferente”.
Em seguida, Dom Grampa convida a prestar atenção aos chamados “estrangeiros invisíveis”: “são aqueles sem rosto - explica - aqueles impossíveis de encontrar, mas que condicionam nossas vidas, tais como as sociedades financeiras internacionais que fazem derrubar inteiros sistemas econômicos, transferindo a riqueza sem criá-la; são os clãs criminosos que compram locais e lojas, lavando dinheiro por meio de empresas internacionais ou que gerenciam centros de bem-estar que escondem a prática da prostituição. “Esse tipo de estrangeiro, diz o bispo, “nos conquista de modo ainda mais clandestino e sorrateiro: roubando-nos a consciência e a cultura”. (SP)
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