segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Oposição sai fortalecida das urnas

27/10/2014  |  domtotal.com

Depois de 12 anos apagados, partidos de oposição terão maior força para fazer pressão sobre o governo.

O resultado geral das eleições deste ano pode conduzir as forças políticas a rearranjos que, em última instância, podem levar o PT a, após 12 anos, ter que governar com uma base de apoio mais coesa e homogênea. É o que diz o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB), Leonardo Barreto, ao confrontar a reeleição da presidenta Dilma Rousseff com a nova composição do Congresso Nacional, onde cresceu o número de parlamentares da oposição, e nos estados.

“PT e PMDB perderam deputados, e a oposição ganhou parlamentares. Será um novo desafio, mas acho que, com isso, a presidenta tem a oportunidade de trabalhar com uma base mais enxuta e, ao mesmo tempo, mais coesa e homogênea. Há, sim, essa oportunidade de reconstrução”, disse o cientista político.

Para Barreto, o reflexo da vitória de Dilma sobre Aécio Neves (PSDB) por pouco mais de 3% dos votos válidos obrigará a presidente a se sentar com representantes de todos os setores, inclusive da oposição, e negociar novas propostas e projetos se quiser cumprir a promessa de campanha de transformar seu segundo mandato em um "governo de ideias novas".

"Ela agora tem o desafio de revitalizar a energia do governo, de não deixar que o desgaste dos primeiros quatro anos de qualquer governo torne seu segundo mandato mais difícil que o primeiro. Para isso, vai ter que ser criativa, investir nas reformas que o país precisa e chamar todos os setores para conversar", comentou Barreto, destacando que, já em seu discurso de vitória, Dilma fez um chamamento à paz e à união de todos, se comprometendo a abrir espaços de diálogo.

"Se ela conseguir colocar isso em prática, há uma janela de oportunidades para que o país possa, de fato, experimentar algo novo nos próximos quatro anos. Além disso, a própria presidente, na sua fala, demonstrou ter feito uma boa leitura da mensagem que as pessoas vem passando nas ruas desde 2013: que a grande mudança que elas querem é uma mudança dos hábitos e das instituições políticas".

Já para o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Roberto da Costa Kramer, o governo federal terá ainda mais difículdades para pautar e aprovar sua agenda a partir da próxima legislatura, pois a oposição se consolidou em meio à disputa eleitoral acirrada deste ano.

"A oposição, que parecia moribunda durante a maior parte dos últimos 12 anos, recebeu um impulso fundamental durante a campanha. As vitórias nos governos estaduais e no Congresso não são desprezíveis, e o governo terá cada vez mais dificuldade para fazer passar a sua agenda”, afirmou Kramer, destacando que a divisão dos eleitores tende a criar uma outra força política.

“A força da oposição não estará apenas no Parlamento. E a oposição será tão mais forte quanto conseguir expressar as vontades da sociedade", diz Kramer, prevendo que, com a nova composição, parlamentares da oposição se articularão para instalar uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a fim de investigar as denúncias de corrupção na Petrobras. "Parlamentarem serão indiciados, afastados e presos. Isso vai desorganizar ainda mais o diálogo do Legislativo com o Executivo, que já não é muito bom".

Segundo o professor, os desafios na área econômica serão sentidos antes mesmo da posse presidencial, no dia 1º de janeiro. "Devido às expectativas do mercado, as dificuldades que todos previam para 2015 (em caso de vitória de Aécio Neves), com Dilma, começam antes da posse. Um desafio forte que ela vai ter que vencer será na área fiscal. O cobertor é curto e continuaria sendo curto caso o Aécio vencesse", diz Kramer.
Agência Brasil

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