21/11/2014 | domtotal.com
Em meio a um escândalo bilionário, a nação espera de respiração suspensa a volta de 'A Banheira do Gugu'.
Por Max Velati*
É claro que o assunto da coluna esta semana é a Petrobras. Impossível ignorar o elefante na sala e o fato de que o rei está nu. O assunto está recebendo a cobertura devida nos seus aspectos policiais, jurídicos e tributários e posso então exercitar o meu olhar periférico e concentrar-me em outras instâncias, nas relações nem tão imediatas assim entre os eventos em destaque na mídia.
As prisões dos modernos donatários têm despertado a indignação do povo brasileiro. E só. Ficamos indignados, enojados...e passivos. O assunto desperta a nossa atenção, mas é pelo aspecto novelesco, o capítulo dramático do folhetim, aquele em que o vilão parece que foi finalmente agarrado pela justiça.
Não faz muito tempo nos mobilizamos contra o aumento do preço das passagens, nos organizamos de tempos em tempos com estardalhaço para a liberação da maconha e mais recentemente participamos da gincana das eleições. Mas o assalto à empresa pagadora, o roubo em escala industrial, a farra de bilhões que eu e você juntamos com tanto suor, isso é menor. Merece apenas que paremos de lavar os pratos para ouvir melhor a TV.
Entendi a razão de tudo isso quando soube que o Gugu - aquele famoso apresentador de TV que ensaia uma volta triunfal às telinhas - encomendou uma pesquisa para saber qual atração o brasileiro realmente quer ver na TV. Acredite ou não, mas a nação espera de respiração suspensa a volta do quadro "A Banheira do Gugu".
Não é nem um pouco consolador constatar que no resto do mundo os interesses estão neste mesmo nível. Esta semana, uma “artista” americana – e gastei dez minutos tentando achar outra palavra – decidiu que “quebraria a Internet”. Famosa apenas por ser famosa, esta “estrela” (novamente, o dicionário foi pequeno) precisou para cumprir a promessa apenas tirar a roupa e posar com uma taça de champanhe. O corpo bronzeado coberto de óleo e reluzindo sob os holofotes invadiu o ciberespaço, explodiu o número de cliques, entupiu todos os acessos, derrubou servidores e congestionou os canais de fibra ótica. Missão cumprida. O assunto, dias depois do grande evento, ainda recebe cobertura intergaláctica e com um clicar do mouse é possível conhecer, por exemplo, a identidade do profissional contratado para espalhar o óleo no corpo da "modelo".
Diante deste instantâneo da modernidade, só me resta pedir desculpas pelo uso indevido das palavras: artista, estrela e modelo.
P. S. – Agora me ocorreu que com esta seca, o interesse pela volta do quadro da Banheira seja pelo espetáculo da água abundante.
É claro que o assunto da coluna esta semana é a Petrobras. Impossível ignorar o elefante na sala e o fato de que o rei está nu. O assunto está recebendo a cobertura devida nos seus aspectos policiais, jurídicos e tributários e posso então exercitar o meu olhar periférico e concentrar-me em outras instâncias, nas relações nem tão imediatas assim entre os eventos em destaque na mídia.
As prisões dos modernos donatários têm despertado a indignação do povo brasileiro. E só. Ficamos indignados, enojados...e passivos. O assunto desperta a nossa atenção, mas é pelo aspecto novelesco, o capítulo dramático do folhetim, aquele em que o vilão parece que foi finalmente agarrado pela justiça.
Não faz muito tempo nos mobilizamos contra o aumento do preço das passagens, nos organizamos de tempos em tempos com estardalhaço para a liberação da maconha e mais recentemente participamos da gincana das eleições. Mas o assalto à empresa pagadora, o roubo em escala industrial, a farra de bilhões que eu e você juntamos com tanto suor, isso é menor. Merece apenas que paremos de lavar os pratos para ouvir melhor a TV.
Entendi a razão de tudo isso quando soube que o Gugu - aquele famoso apresentador de TV que ensaia uma volta triunfal às telinhas - encomendou uma pesquisa para saber qual atração o brasileiro realmente quer ver na TV. Acredite ou não, mas a nação espera de respiração suspensa a volta do quadro "A Banheira do Gugu".
Não é nem um pouco consolador constatar que no resto do mundo os interesses estão neste mesmo nível. Esta semana, uma “artista” americana – e gastei dez minutos tentando achar outra palavra – decidiu que “quebraria a Internet”. Famosa apenas por ser famosa, esta “estrela” (novamente, o dicionário foi pequeno) precisou para cumprir a promessa apenas tirar a roupa e posar com uma taça de champanhe. O corpo bronzeado coberto de óleo e reluzindo sob os holofotes invadiu o ciberespaço, explodiu o número de cliques, entupiu todos os acessos, derrubou servidores e congestionou os canais de fibra ótica. Missão cumprida. O assunto, dias depois do grande evento, ainda recebe cobertura intergaláctica e com um clicar do mouse é possível conhecer, por exemplo, a identidade do profissional contratado para espalhar o óleo no corpo da "modelo".
Diante deste instantâneo da modernidade, só me resta pedir desculpas pelo uso indevido das palavras: artista, estrela e modelo.
P. S. – Agora me ocorreu que com esta seca, o interesse pela volta do quadro da Banheira seja pelo espetáculo da água abundante.
*Max Velati trabalhou muitos anos em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da literatura, é chargista de Economia da Folha de S. Paulo.
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