27/11/2014 | domtotal.com
Pesquisa aponta que o crescimento da violência reduz confiança da população nas instituições.
Por Vicente Jiménez
A violência e o crime constituem os principais fatores de desestabilização das democracias na América Latina, devido à desconfiança nas instituições que provocam entre os cidadãos. Boa parte destes se inclina por políticas de mão dura e baixa qualidade democrática, que podem desembocar em violações dos direitos fundamentais. Essa é uma das principais conclusões do Barômetro das Américas 2014, elaborado pelo Projeto de Opinião Pública da América Latina, da Universidade Vanderbilt.
O relatório, realizado com 50 mil entrevistas em 28 países e cujos primeiros dados foram apresentados nesta segunda-feira (24) em Nova York, considera que a persistência do crime e da violência na América Latina e no Caribe leva a "democracias em perigo", nas quais ganham terreno a centralização do poder e, nos casos mais extremos, soluções populistas, ilegais ou violentas, como os grupos paramilitares, as patrulhas de cidadãos ou a condescendência com os linchamentos públicos.
A América Latina e o Caribe experimentaram avanços em suas economias na última década. O número de pessoas que vivem com menos de US$ 2,5 por dia se reduziu à metade, e a classe média cresce. Mas os desequilíbrios continuam enormes: 80 milhões vivem em uma pobreza extrema e mais de 40% acreditam que a economia de seu país piorou no último ano. Um certo pessimismo, somado à sensação de insegurança, se estende pelo continente, o que provocou um retrocesso nos indicadores de legitimidade democrática desde 2012.
Os pesquisadores Mitchell Seligson e Elizabeth Zechmeister, da Universidade Vanderbilt, apresentaram os dados. "Somos acadêmicos, e não políticos. Certamente os governos da América Latina têm melhores ferramentas que nós para adotar políticas que solucionem esses problemas", comentaram na sede da Sociedade das Américas/Conselho das Américas.
Se há uma tendência clara ao longo da última década nas Américas é que seus cidadãos estão muito mais preocupados com o crime do que dez anos atrás. Um em cada três pesquisados considera que é o problema mais importante que seu país enfrenta; 17% foram vítimas de crimes, número que permanece constante desde 2004, e dois em cada cinco confessam seu medo de transitar por zonas de seu bairro. É um problema urbano.
A América Latina e o Caribe têm o índice de homicídios mais alto do mundo: 23 assassinatos para cada 100 mil habitantes em 2012, segundo dados da ONU - mais que o dobro da taxa da África subsaariana (11,2 homicídios), a segunda região na classificação. Um em cada três homicídios no mundo ocorre na América, e 30% deles estão relacionados a gangues e grupos organizados. A América Central supera a média, com 34 homicídios para cada 100 mil habitantes. Na América do Sul o índice é 17.
Em 2004, há dez anos, a economia era o que mais preocupava os cidadãos (60,3%), com a segurança em segundo lugar (22,5%). Em dez anos a imagem mudou. A economia é considerada a principal preocupação para 35,8%, seguida de perto pela criminalidade (32,5%). Peru (30,6 % dos pesquisados), Equador (27,5%), Argentina (24,4%) e Venezuela (24,4%) são os países nos quais mais pessoas declaram ter sido vítimas de algum crime.
O medo na América Latina está no ponto mais alto da última década: 40% dos entrevistados admitem evitar certas zonas de sua vizinhança, 35% têm a sensação de insegurança nos transportes públicos e 37%, nas escolas. Nestes últimos dois capítulos a Venezuela comanda as listas. A violência também influi no desejo de emigrar, que em 2014 cresceu em relação aos anos anteriores.
A metade dos pesquisados manifesta insatisfação com as forças de segurança. Bolívia, Venezuela, Peru, Haiti e México são os países, nessa ordem, onde as policias têm pior imagem. Um em cada três entrevistados informa que sua polícia demora pelo menos uma hora para atender a uma denúncia de roubo, ou simplesmente não atende.
O ano de 2014 foi quando a confiança nos tribunais caiu a seu nível mais baixo na última década. A sensação de impunidade cresce na região. Venezuela, Brasil, Chile, Bolívia, Peru e México são os países onde os cidadãos têm essa percepção mais acentuada.
Em consequência de tudo isso, 55% dos pesquisados são partidários de políticas de mão dura para determinados crimes, contra 29% que preferem políticas preventivas. Não são raras as informações sobre linchamentos em alguns países ou formas de autodefesa, como ocorreu no México. Com relação ao Barômetro de 2012, a tendência a esse tipo de solução passou de 28,9 para 32 em uma escala de 100.
A percepção sobre a corrupção não melhorou. Um em cada cinco pesquisados pagou algum tipo de suborno nos últimos 12 meses; 80% dos pesquisados consideram que a corrupção é comum ou muito comum em seus governos.
O Barômetro mostra um indiscutível apoio ao sistema democrático como forma de governo, mas esse sentimento também sofreu um retrocesso aos níveis mais baixos em dez anos. Na pesquisa de 2012 marcava 71 sobre 100; neste ano caiu para 69. As Forças Armadas e a Igreja Católica são as instituições com maior apoio na região. As que recebem menos apoio são os parlamentos e, sobretudo, os partidos políticos.
A violência e o crime constituem os principais fatores de desestabilização das democracias na América Latina, devido à desconfiança nas instituições que provocam entre os cidadãos. Boa parte destes se inclina por políticas de mão dura e baixa qualidade democrática, que podem desembocar em violações dos direitos fundamentais. Essa é uma das principais conclusões do Barômetro das Américas 2014, elaborado pelo Projeto de Opinião Pública da América Latina, da Universidade Vanderbilt.
O relatório, realizado com 50 mil entrevistas em 28 países e cujos primeiros dados foram apresentados nesta segunda-feira (24) em Nova York, considera que a persistência do crime e da violência na América Latina e no Caribe leva a "democracias em perigo", nas quais ganham terreno a centralização do poder e, nos casos mais extremos, soluções populistas, ilegais ou violentas, como os grupos paramilitares, as patrulhas de cidadãos ou a condescendência com os linchamentos públicos.
A América Latina e o Caribe experimentaram avanços em suas economias na última década. O número de pessoas que vivem com menos de US$ 2,5 por dia se reduziu à metade, e a classe média cresce. Mas os desequilíbrios continuam enormes: 80 milhões vivem em uma pobreza extrema e mais de 40% acreditam que a economia de seu país piorou no último ano. Um certo pessimismo, somado à sensação de insegurança, se estende pelo continente, o que provocou um retrocesso nos indicadores de legitimidade democrática desde 2012.
Os pesquisadores Mitchell Seligson e Elizabeth Zechmeister, da Universidade Vanderbilt, apresentaram os dados. "Somos acadêmicos, e não políticos. Certamente os governos da América Latina têm melhores ferramentas que nós para adotar políticas que solucionem esses problemas", comentaram na sede da Sociedade das Américas/Conselho das Américas.
Se há uma tendência clara ao longo da última década nas Américas é que seus cidadãos estão muito mais preocupados com o crime do que dez anos atrás. Um em cada três pesquisados considera que é o problema mais importante que seu país enfrenta; 17% foram vítimas de crimes, número que permanece constante desde 2004, e dois em cada cinco confessam seu medo de transitar por zonas de seu bairro. É um problema urbano.
A América Latina e o Caribe têm o índice de homicídios mais alto do mundo: 23 assassinatos para cada 100 mil habitantes em 2012, segundo dados da ONU - mais que o dobro da taxa da África subsaariana (11,2 homicídios), a segunda região na classificação. Um em cada três homicídios no mundo ocorre na América, e 30% deles estão relacionados a gangues e grupos organizados. A América Central supera a média, com 34 homicídios para cada 100 mil habitantes. Na América do Sul o índice é 17.
Em 2004, há dez anos, a economia era o que mais preocupava os cidadãos (60,3%), com a segurança em segundo lugar (22,5%). Em dez anos a imagem mudou. A economia é considerada a principal preocupação para 35,8%, seguida de perto pela criminalidade (32,5%). Peru (30,6 % dos pesquisados), Equador (27,5%), Argentina (24,4%) e Venezuela (24,4%) são os países nos quais mais pessoas declaram ter sido vítimas de algum crime.
O medo na América Latina está no ponto mais alto da última década: 40% dos entrevistados admitem evitar certas zonas de sua vizinhança, 35% têm a sensação de insegurança nos transportes públicos e 37%, nas escolas. Nestes últimos dois capítulos a Venezuela comanda as listas. A violência também influi no desejo de emigrar, que em 2014 cresceu em relação aos anos anteriores.
A metade dos pesquisados manifesta insatisfação com as forças de segurança. Bolívia, Venezuela, Peru, Haiti e México são os países, nessa ordem, onde as policias têm pior imagem. Um em cada três entrevistados informa que sua polícia demora pelo menos uma hora para atender a uma denúncia de roubo, ou simplesmente não atende.
O ano de 2014 foi quando a confiança nos tribunais caiu a seu nível mais baixo na última década. A sensação de impunidade cresce na região. Venezuela, Brasil, Chile, Bolívia, Peru e México são os países onde os cidadãos têm essa percepção mais acentuada.
Em consequência de tudo isso, 55% dos pesquisados são partidários de políticas de mão dura para determinados crimes, contra 29% que preferem políticas preventivas. Não são raras as informações sobre linchamentos em alguns países ou formas de autodefesa, como ocorreu no México. Com relação ao Barômetro de 2012, a tendência a esse tipo de solução passou de 28,9 para 32 em uma escala de 100.
A percepção sobre a corrupção não melhorou. Um em cada cinco pesquisados pagou algum tipo de suborno nos últimos 12 meses; 80% dos pesquisados consideram que a corrupção é comum ou muito comum em seus governos.
O Barômetro mostra um indiscutível apoio ao sistema democrático como forma de governo, mas esse sentimento também sofreu um retrocesso aos níveis mais baixos em dez anos. Na pesquisa de 2012 marcava 71 sobre 100; neste ano caiu para 69. As Forças Armadas e a Igreja Católica são as instituições com maior apoio na região. As que recebem menos apoio são os parlamentos e, sobretudo, os partidos políticos.
El País, 26-11-2014.
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