sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

´Não quero estúpido como sucessor´

Em entrevista, Dalai Lama fala sobre o possível fim de sua linha de sucessão.

NOVA DÉLI, Índia - O Dalai Lama disse que prefere ser o último dessa tradição de séculos a ter um "estúpido" como sucessor . Em entrevista ao programa “Newsnight” da BBC, o líder espiritual tibetano de 79 anos, que fugiu para a Índia em 1959, após tropas chinesas esmagarem uma tentativa de levante em seu país, afirmou também que as instituições criadas pelos homens devem acabar.

"A instituição Dalai Lama vai acabar um dia. Essas instituições criadas pelo homem deixarão de existir". disse à BBC. "Não há garantia de que não venha a seguir algum Dalai Lama estúpido, que causaria desgraça a si mesmo. Isso seria muito triste. Então, é muito melhor que uma tradição secular cesse na época de um Dalai Lama bastante popular".

A ascensão de outro Dalai Lama depois dele vai depender das circunstâncias após sua morte e está “nas mãos do povo tibetano”, disse ele, que ressaltou ainda ter um papel que não inclui mais responsabilidades políticas: em 2011 o Dalai Lama entregou esse dever a um líder eleito do governo tibetano no exílio, Lobsang Sangay. O movimento foi visto por muitos como uma forma de o Dalai Lama poder assegurar que a comunidade tibetana teria um líder eleito em um lugar fora do controle da China.

O governo chinês vê o vencedor do Prêmio Nobel da Paz como um “separatista”, apesar de ele agora defender um “caminho do meio” com a China, em busca de autonomia, mas não de independência do Tibete. A segunda maior figura do budismo tibetano é o Panchen Lama - alguém que se destina a desempenhar um papel fundamental na escolha do próximo Dalai Lama. Um rapaz foi nomeado como Panchen Lama pelo Dalai Lama em 1995, mas a China, que tem dito repetidamente que vai escolher o próximo Dalai Lama, rejeitou este e escolheu seu próprio candidato.

Na entrevista, o Dalai Lama disse que a comunidade internacional precisa fazer mais para incentivar a democracia na China. "A China quer muito fazer parte da economia mundial", disse ele. "Eles devem ser bem-vindos, mas, ao mesmo tempo, o mundo livre tem a responsabilidade moral de trazer a China para a democracia mainstream - pelos próprios interesses da China".
SIR/O Globo

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