Quase um mês depois de libertado em Cuba, Rolando Sarraff continua com paradeiro ignorado.
Por Marco Lacerda*
De uma prisão de segurança máxima no Texas, a ex-analista militar do governo dos EUa, Ana Montes, tem distribuído adesivos para serem usados em vidros de carros onde explicita as razões pelas quais agiu como espiã a serviço do governo cubano ao longo dos últimos 17 anos. “Acredito que a moralidade da espionagem é relativa”, disse Montes em carta a uma amiga no ano passado. “Esse é o tipo de atividade em que alguém sempre é traído. Como sempre, alguns observadores a consideram justificável, outros não”.
Enquanto a cidadã americana é mantida atrás das grades como um dos profissionais do ramo mais corrosivos da história dos EUA, o espião que desvendou sua dupla identidade e levou os investigadores americanos até ela foi libertado recentemente sob aplausos mundiais, durante o histórico anúncio do futuro reatamento de relações diplomáticas entre os dois países. Trata-se de Rolando Sarraff Trujillo, que durante anos trabalhou em Havana a serviço da Casa Branca. Descrito como um criptógrafo cuja habilidade de destrinchar códigos foi uma mina de ouro para agências como CIA, NSA e FBI, Trujillo foi enaltecido pelo presidente Barack Obama como “o mais importante espião que os EUA já tiveram em Cuba”.
Para estupor mundial, no entanto, a pergunta que se faz agora é ‘onde está Rolando Sarraff Trujillo’? A pergunta exposta na mídia não aflige apenas a família desse cubano supostamente libertado em dezembro último, após passar quase duas décadas em uma prisão de Cuba, acusado de espionagem.
Ninguém consegue encontrar Roly, seu apelido familiar. Esse homem de 51 anos é quem, para surpresa de sua própria família, vários veículos de comunicação norte-americanos identificaram como o misterioso agente que Washington conseguiu trocar, junto com o empreiteiro Alan Gross, por três espiões cubanos presos nos Estados Unidos. Esse acordo abriu as portas para o restabelecimento de relações diplomáticas com Havana, anunciado por Obama em 17 de dezembro.
Com essa decisão, os Estados Unidos colocavam fim em um dos mais longos capítulos da Guerra Fria. Mas os mistérios e rumores dignos de um romance da era soviética que ainda cercam a identidade do agente prometem seguir preenchendo novas páginas.
Washington continua sem confirmar ou desmentir abertamente que Rolando Sarraff seja na verdade esse espião que Obama chamou de “um dos mais importantes agentes de inteligência que os Estados Unidos tiveram em Cuba”.
“Não vamos comentar nada, além de dizer que foi libertado em Cuba e transferido pelo Governo dos Estados Unidos”, disse uma fonte governamental ao jornal espanhol El País, sob a condição de anonimato.
O Governo de Cuba e o de Washington não dizem nada sobre o paradeiro de Rolando Sarraff
Mas veículos da imprensa, como o New York Times, insistem que Roly é Sarraff. Especialistas em espionagem cubana dos dois lados também não duvidam dessa informação: desde Chris Simmons, antigo especialista em Cuba da Agência para a Inteligência de Defesa (DIA) dos EUA, a Domingo Amuchastegui, que trabalhou para a inteligência cubana até 1994. “Sem dúvida, o peixe grande [da troca] era Sarraff”, assegura Amuchastegui. O fato de seu nome ter vazado, se deve, na sua opinião, às pressões “para justificar a troca”. Sem um nome concreto, apontou, o acordo com Cuba poderia ter menos credibilidade.
O caso é que Sarraff, que durante todos os seus anos na prisão se comunicou regularmente com sua família – seus pais continuam em Cuba, ainda que suas irmãs vivam na Espanha –, não deu nenhum sinal de vida desde meados de dezembro. No dia 16, na véspera do anúncio de Obama, Roly não fez a ligação de praxe para seus pais. Pouco depois, sua família soube que havia saído da prisão de segurança máxima Villa Marista, onde esteve preso nos últimos meses. É aí que seu rastro some.
“Continuamos sem saber nada”, confirma sua irmã Vilma Sarraff, que mora na Espanha. Os pais, que continuam morando em Havana, tampouco voltaram a ter notícias do filho. “O Governo de Cuba e o de Washington não dizem nada sobre o paradeiro de Rolando Sarraff”, corrobora Elizardo Sánchez. Sua organização, a Comissão Cubana para os Direitos Humanos e a Reconciliação Nacional (CCDHRN), faz um minucioso acompanhamento dos presos políticos em Cuba e Sarraff Trujillo esteve em suas listas durante anos.
Segundo Sánchez, “todo mundo infere que ele viajou para os Estados Unidos em 17 de dezembro. Nesse momento está no poder das autoridades norte-americanas, que deverão informar os pais de alguma forma, dois idosos que estão muito mal de saúde e desesperados pois não sabem do paradeiro de seu filho. Não estão respeitando o interesse dos pais e de outros familiares em saber de Rolando”, lamentou.
Amuchastegui não acredita, entretanto, que existirão novas notícias sobre Rolando Sarraff: “Esse senhor não será visto e nada se saberá dele durante algum tempo”.
“Ele não vai contatar ninguém, incluindo a família, porque por razões estritamente profissionais, a CIA, o FBI ou quem estiver trabalhando com ele nesse momento, precisa terminar um rigoroso procedimento, longo, tedioso, de comprovações, de perguntas, de interrogatórios que é indispensável”, frisou o antigo especialista em espionagem.
Mas, segundo fontes oficiais norte-americanas, o agente libertado “não está detido nem retido” e, se quiser, “poderia contatar sua família”. “É uma pessoa que passou por muitas coisas, e existem protocolos de segurança que devem ser respeitados, mas ele pode entrar em contato com sua família se quiser fazê-lo”, assegurou. O mistério continua, pois, sem solução.
Enquanto a cidadã americana é mantida atrás das grades como um dos profissionais do ramo mais corrosivos da história dos EUA, o espião que desvendou sua dupla identidade e levou os investigadores americanos até ela foi libertado recentemente sob aplausos mundiais, durante o histórico anúncio do futuro reatamento de relações diplomáticas entre os dois países. Trata-se de Rolando Sarraff Trujillo, que durante anos trabalhou em Havana a serviço da Casa Branca. Descrito como um criptógrafo cuja habilidade de destrinchar códigos foi uma mina de ouro para agências como CIA, NSA e FBI, Trujillo foi enaltecido pelo presidente Barack Obama como “o mais importante espião que os EUA já tiveram em Cuba”.
Para estupor mundial, no entanto, a pergunta que se faz agora é ‘onde está Rolando Sarraff Trujillo’? A pergunta exposta na mídia não aflige apenas a família desse cubano supostamente libertado em dezembro último, após passar quase duas décadas em uma prisão de Cuba, acusado de espionagem.
Ninguém consegue encontrar Roly, seu apelido familiar. Esse homem de 51 anos é quem, para surpresa de sua própria família, vários veículos de comunicação norte-americanos identificaram como o misterioso agente que Washington conseguiu trocar, junto com o empreiteiro Alan Gross, por três espiões cubanos presos nos Estados Unidos. Esse acordo abriu as portas para o restabelecimento de relações diplomáticas com Havana, anunciado por Obama em 17 de dezembro.
Com essa decisão, os Estados Unidos colocavam fim em um dos mais longos capítulos da Guerra Fria. Mas os mistérios e rumores dignos de um romance da era soviética que ainda cercam a identidade do agente prometem seguir preenchendo novas páginas.
Washington continua sem confirmar ou desmentir abertamente que Rolando Sarraff seja na verdade esse espião que Obama chamou de “um dos mais importantes agentes de inteligência que os Estados Unidos tiveram em Cuba”.
“Não vamos comentar nada, além de dizer que foi libertado em Cuba e transferido pelo Governo dos Estados Unidos”, disse uma fonte governamental ao jornal espanhol El País, sob a condição de anonimato.
O Governo de Cuba e o de Washington não dizem nada sobre o paradeiro de Rolando Sarraff
Mas veículos da imprensa, como o New York Times, insistem que Roly é Sarraff. Especialistas em espionagem cubana dos dois lados também não duvidam dessa informação: desde Chris Simmons, antigo especialista em Cuba da Agência para a Inteligência de Defesa (DIA) dos EUA, a Domingo Amuchastegui, que trabalhou para a inteligência cubana até 1994. “Sem dúvida, o peixe grande [da troca] era Sarraff”, assegura Amuchastegui. O fato de seu nome ter vazado, se deve, na sua opinião, às pressões “para justificar a troca”. Sem um nome concreto, apontou, o acordo com Cuba poderia ter menos credibilidade.
O caso é que Sarraff, que durante todos os seus anos na prisão se comunicou regularmente com sua família – seus pais continuam em Cuba, ainda que suas irmãs vivam na Espanha –, não deu nenhum sinal de vida desde meados de dezembro. No dia 16, na véspera do anúncio de Obama, Roly não fez a ligação de praxe para seus pais. Pouco depois, sua família soube que havia saído da prisão de segurança máxima Villa Marista, onde esteve preso nos últimos meses. É aí que seu rastro some.
“Continuamos sem saber nada”, confirma sua irmã Vilma Sarraff, que mora na Espanha. Os pais, que continuam morando em Havana, tampouco voltaram a ter notícias do filho. “O Governo de Cuba e o de Washington não dizem nada sobre o paradeiro de Rolando Sarraff”, corrobora Elizardo Sánchez. Sua organização, a Comissão Cubana para os Direitos Humanos e a Reconciliação Nacional (CCDHRN), faz um minucioso acompanhamento dos presos políticos em Cuba e Sarraff Trujillo esteve em suas listas durante anos.
Segundo Sánchez, “todo mundo infere que ele viajou para os Estados Unidos em 17 de dezembro. Nesse momento está no poder das autoridades norte-americanas, que deverão informar os pais de alguma forma, dois idosos que estão muito mal de saúde e desesperados pois não sabem do paradeiro de seu filho. Não estão respeitando o interesse dos pais e de outros familiares em saber de Rolando”, lamentou.
Amuchastegui não acredita, entretanto, que existirão novas notícias sobre Rolando Sarraff: “Esse senhor não será visto e nada se saberá dele durante algum tempo”.
“Ele não vai contatar ninguém, incluindo a família, porque por razões estritamente profissionais, a CIA, o FBI ou quem estiver trabalhando com ele nesse momento, precisa terminar um rigoroso procedimento, longo, tedioso, de comprovações, de perguntas, de interrogatórios que é indispensável”, frisou o antigo especialista em espionagem.
Mas, segundo fontes oficiais norte-americanas, o agente libertado “não está detido nem retido” e, se quiser, “poderia contatar sua família”. “É uma pessoa que passou por muitas coisas, e existem protocolos de segurança que devem ser respeitados, mas ele pode entrar em contato com sua família se quiser fazê-lo”, assegurou. O mistério continua, pois, sem solução.
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do DomTotal.
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