segunda-feira, 30 de março de 2015

Por que os japoneses vivem mais e melhor

Uma combinação sofisticada de fatores explica a longevidade e o bem-estar nipônicos.

Por Marco Lacerda*
Os japoneses vivem mais tempo, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, que dão conta também que é na África sub-saariana que se vive menos, sobretudo por causa da epidemia de HIV. Os EUA surgem em 24º lugar e o Brasil em 58º, com uma expectativa de vida de 74,9 anos, segundo dados de 2013.
Arroz, peixe, algas e soja: estudos comprovam que essa simples e saborosa dieta é capaz de proporcionar uma vida longa e saudável. Prova disso são os japoneses, que se utilizam desse cardápio há centenas de anos e são as pessoas com maior expectativa de vida no Planeta.
Já foi provado que a redução de calorias na dieta prolonga a vida de camundongos. Em humanos, isso nunca foi testado. Mas uma redução equivalente para o homem seria 1050 a 1570 calorias, metade ou 3/4 das 2100 calorias diárias recomendadas pelos Estados Unidos.
Essa quantidade equivaleria à antiga dieta japonesa, composta de peixe, arroz, legumes, verduras, derivados de soja e algas.
Os habitantes do Japão vivem, em média, 81,1 anos (homens 77,6 e mulheres 84,6), segundo o Ministério da Saúde japonês, e 73,6 anos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (que desconta os anos de doença). Nos dois casos, é a mais alta expectativa de vida do Planeta.
Apesar de os nipônicos com menos de 40 anos estarem optando por uma dieta mais ocidentalizada com muita gordura, açúcar e poucos legumes e verduras –, a alimentação continua sendo o fator decisivo para a vida longa japonesa. Isso porque pessoas com mais de 40 anos respondem por metade da população do Japão, e são elas que hoje envelhecem e costumam passar dos 70.
No Japão vivem as mulheres mais longevas do mundo, concretamente na ilha de Okinawa. A taxa de obesidade no país é de apenas 5% contra 33% nos Estados Unidos ou 26% na Espanha, com dados do CIA World Factbook. O país tem uma das menores taxas de doenças cardiovasculares. Na verdade, a esperança média de vida japonesa é a segunda mais alta do mundo, com 91,8 anos e só perde para o Principado de Mônaco.
O segredo japonês da longevidade
A que se deve esse prodígio? O comitê científico de Life Length, empresa espanhola que comercializa a tecnologia para a medição de telômeros (extremos dos cromossomos) nascida dentro do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas (CNIO na sigla em espanhol), estima que a longevidade de um indivíduo depende em 1/3 de sua genética e em 2/3 de seus hábitos. Sendo assim, é necessário investigar os costumes dos sossegados japoneses. O relatório Blue Zones, da National Geographic Society, afirma que estas são as lições aprendidas depois de sua visita à ilha de Okinawa, uma região que condensa o núcleo do bem-estar japonês.
- Confiam em uma dieta vegetariana. “As pessoas mais velhas se nutriram de plantas durante toda sua vida. Seu almoço se compõe de verduras refogadas, com batatas doces e tofu: muitos nutrientes, baixas calorias. A carne está reservada para ocasiões especiais”, diz o estudo. Além disso, a maioria de seus pratos inclui soja, cujos grãos estão associados com benefícios contra o colesterol, como publicou o American Journal of Clinical Nutrition, ou com a prevenção do câncer de mama. Deste último não há provas científicas, mas a Associação Espanhola Contra o Câncer assegura que nos países orientais a incidência da doença é muito melhor.
- Desfrutam de seu jardim. “A maioria das pessoas centenárias de Okinawa cultiva algo em um jardim, o que os obriga a atividades físicas diárias”, conta a investigação da organização internacional sobre educação e ciência.
- São cuidados pela comunidade. “Este apoio financeiro e emocional”, afirma o relatório da National Geographic Society, “reduz a ansiedade de seus integrantes”. Segundo a OMS, o estresse é uma das principais ameaças à saúde no século XXI. Rituais como a cerimônia do chá fazem parte desta cultura grupal.
- Passam muito tempo ao ar livre. Deste modo, potencializam a absorção de vitamina D, que ajuda o corpo na assimilação de um mineral essencial como o cálcio. Sua deficiência é um dos fatores de risco da osteoporose.
- Permanecem ativos. Jardinagem e passeios são as principais atividades atribuídas à comunidade tradicional japonesa segundo a National Geographic Society. “Além disso, têm poucos móveis: relaxam e comem em tatames”, continua o relatório. Essa esteira tradicional, segundo o fisioterapeuta Luis P. García Coronado, obriga, ao não ter encosto, a se sentarem com a coluna erguida e o abdome tenso, evitando posturas prejudiciais. As dores demoram, assim, muito mais em aparecer.
Onde se vive mais tempo no planeta
Em 1513, o conquistador espanhol Juan Ponce de León partiu em busca de Bimini, uma terra mítica que abrigava uma fonte da juventude. Após percorrer Caribe e Flórida, León voltou de mãos vazias. A mágica realmente não existe, mas existem alguns lugares onde as pessoas vivem mais:
Mônaco, expectativa de vida: 89,68 anos - Mônaco tem uma abundância de riqueza e serviços de saúde de alta qualidade para todos. Os moradores do local consomem dieta mediterrânea, que está associada à redução do risco de vários problemas de saúde, incluindo doenãs cardiovasculares e hipertensão arterial. Além disso, a atmosfera relaxante de Mônaco, a localização ao longo do Mar Mediterrâneo e ambiente limpo reduzem o estresse e melhora a imunidade das pessoas.
Macau, expectativa de vida: 84,43 anos - Macau pode atribuir sua alta expectativa de vida, em parte, para a economia. O jogo é a principal fonte de receita do local, e 70% do dinheiro gerado no cassino são investidos pelo governo de Macau na área da saúde pública.
Japão, expectativa de vida: 83,91 anos - O Japão tem uma taxa de obesidade impressionante: 3,1% contra 33,9% nos Estados Unidos. O fato se deve à dieta japonesa, que gira em torno de legumes frescos, arroz e peixe. O peixe fresco é uma rica fonte de ômega-3, que deixa os níveis de pressão de sangue saudáveis e reduz o risco de derrames e ataques cardíacos. Além disso, o ômega-3 incentiva o funcionamento do cérebro, o que ajuda a prevenir doenças como Alzheimer. Os japoneses também fazem escolhas mais saudáveis no estilo de vida: eles tendem a andar mais e não comer demais.
Cingapura, expectativa de vida: 83,75 anos - Uma dieta saudável e um ambiente limpo contribuem para a longevidade exibi população da população que vive no extremo sul da Península Malaia. Assim como em Hong Kong, o cardápio de Cingapura se consiste em arroz e legumes, que são ricos em nutrientes. Cingapura também tem um estrito código de limpeza - como zonas para fumantes extremamente limitadas - para garantir que todos os moradores vivam em ambientes saudáveis. Na década de 1980, o governo reconheceu que a população do país estava envelhecendo de forma constante e com um planejamento cuidadoso, Cingapura agora dispõe de instalações excelentes de saúde e programas para os idosos.
San Marino, expectativa de vida: 83,07 anos - O dinheiro desempenha um papel importante na república mais antiga do mundo, como acontece também em Guernsey e Andorra, mas outro ingrediente chave para a longevidade poderia ser o ambiente de trabalho da nação. Este enclave na península italiana não acumula suas riquezas através do trabalho manual. As indústrias primárias de San Marino são bancos e serviços de turismo, que tem como ambiente de trabalho os escritórios. A condição reduz drasticamente o número de mortes relacionadas ao trabalho.
Andorra, expectativa de vida: 82,50 anos - Diversos fatores podem explicar por que os andorranos sobrevivem mais do que moradores de outros países. Primeiro, esta pequena nação, imprensada entre a França e a Espanha nas montanhas dos Pirineus, tem um estilo de vida ativo e ao ar livre. Os moradores têm acesso fácil a trilhas e resorts de esqui, enquanto parques limpos e bem cuidados são muitas vezes utilizados para jogos amistosos de futebol e rugby.
Guernsey, expectativa de vida: 82,24 anos - Esta pequena ilha no Canal Inglês não faz parte do Reino Unido ou da União Europeia, apesar de ser uma dependência da Coroa britânica. Sua independência não significa que Guernsey foi afetada pelas economias dos seus vizinhos agitados. Os moradores do local vivem mais tempo, porque são ricos, o que proporciona saúde acima da média, qualidade de vida e uma melhor nutrição.
Hong Kong, expectativa de vida: 82,12 anos - Como os italianos, os moradores de Hong Kong podes, em parte, atribuir a vida mais longa à dieta composta de arroz, legumes e tofu; além do estilo de vida ativo. Hong Kong tem um nível de obesidade muito menor do que os Estados Unidos, bem como menos casos de doenças relacionadas à obesidade, como diabetes.
Austrália, expectativa de vida: 81,90 anos - A longevidade na Austrália pode ser atribuída a vários fatores, incluindo as taxas de obesidade, bem como um estilo de vida ativo apreciado pelos cidadãos. Especialistas insistem que o segredo para a longevidade dos australianos é a da saúde universal. Enquanto para obter cuidados médicos nos Estados Unidos se depende da situação financeira, todos os australianos têm acesso aos cuidados necessários.
Itália, expectativa de vida: 81,86 anos - Os italianos vivem uma média de 3,37 anos a mais do que os americanos. Especialistas ligam o fato à dieta mediterrânea, consumida no país. Os alimentos reduzem o risco de todos os tipos de doenças. Os antioxidantes encontrados no azeite e oliva e no vinho - dois ingredientes das refeições italianas - podem melhorar o colesterol, prevenir coágulos sanguíneos e evitar doenças cardíacas, de acordo com a American Heart Association. Os italianos também contam com especiarias como orégano, manjericão e alho para temperar a comida, o que evita o consumo exagerado de sal e previne chances de pressão alta e derrame.
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Domtotal.

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