Padre Geovane
Saraiva*
Com o sim da Sé Apostólica ao processo de santificação de Dom Helder
Câmara, somos chamados a meditar sobre sua vida, marcada pela garra, força, profecia e
mística, como um indizível hino de louvor a Deus, a ponto de assim se
expressar: “Se eu pudesse sairia
povoando de sono e de sonhos as noites indormidas dos desesperados”. Daí seu
abençoado sonho de andar pelo mundo
inteiro anunciando com voz profética o fim da violência, da racismo, das
guerras e das desigualdades sociais. Nosso ‘Artífice da Paz’, Segundo Dom
Luciano Mendes de Almeida, soube despertar nos jovens a vontade de viver e
fazer o bem, além de comunicar a muitos corações a fome e a sede de Deus.

.
O Jornal Le
Monde de Paris se expressou assim em determinada
ocasião sobre o ‘artesão da paz’: “Célebre e convertido, ele era puro e simplesmente,
como quer o Evangelho, amigos dos pobres”. Por causa dos empobrecidos, Dom
Helder foi um articular, na melhor expressão da palavra, um conspirador,
pensando no bem, com suas iniciativas, compartilhadas por muita gente da
Igreja, desejando fazer com que a Igreja-Instituição se comprometesse e se engajasse
na causa dos necessitados, identificando-se com seu fundador e mestre, Nosso
senhor Jesus Cristo. Pensava e deseja ele uma Igreja despojada, pobre
servidora.
Dele temos a imprescindível
participação no "Pacto das Catacumbas", de 16 de novembro de 1965,
que foi uma excelente oportunidade para os bispos, pensarem e refletirem sobre
eles próprios, no sentido de se fazer uma experiência de vida, na simplicidade
e na pobreza. Concretamente, que se começasse a pensar em uma Igreja encarnada
e comprometida com a realidade dos empobrecidos, dos “sem voz e sem vez”,
renunciando as aparências de riqueza, dizendo não as vaidades, conscientes da
justiça e da caridade, através desse documento salutar e desafiador.
Certamente sua
fidelidade a Jesus através do referido ‘Pacto das Catacumbas’ o levou a fazer
uma sugestão profética e filial ao Papa Paulo VI: “Santo Padre, abandone seu
título de rei e vamos reconstruir a Igreja como nosso Mestre, sendo pobres.
Deixe os palácios do Vaticano, vá morar numa casa na periferia de Roma. Pode
até ter uma praça para saudar e abençoar as ovelhas. Depois, Santo Padre,
convide a todos os bispos a largarem tudo o que indica poder, majestade:
báculos, solidéus, mitras, faixas peitorais, batinas roxas. Vamos amontoar tudo
na Praça de São Pedro e fazer uma grande fogueira, dizendo de peito aberto para
o povo: Vejam, não somos mais príncipes medievais. Não moramos mais em
palácios. Todos somos pastores, somos pobres, somos irmãos”.
Encerro com as
palavras do do Papa Francisco, ao dizer nesta manhã de 20/04/2015: “Sempre
existiu e existe para todos nós esta tentação do poder, a tentação de passar da
admiração e do assombro religioso para a hipocrisia e o poder mundano. E o
Senhor alerta-nos para esta tentação dando-nos o testemunho dos santos e dos
mártires – e disse mais: O Senhor
desperta-nos com o testemunho dos santos, com o testemunho dos mártires, que
todos os dias nos anunciam que a missão é caminhar no caminho de Jesus:
anunciar o ano da graça”. A salutar reflexão do Sumo Pontífice ajude-nos na compreensão da
profecia e mística do ‘Dom Paz’, quando vamos dar início oficialmente no
próximo 03 de maio do ano em curso seu caminho de santificação, nesta corajosa
assertiva:"...nos rostos gastos pela fome e esmagados pelas humilhações vi
o rosto do Cristo Ressuscitado". Amém!
Escritor, blogueiro, colunista,
vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso,
Parquelândia, Fortaleza-CE – geovanesaraiva@gmail.com
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