Por meio de fotografias, mostra rememora trajetória de um dos pioneiros da arte abstrata no Ceará
Se fosse vivo, o cearense Antonio Bandeira completaria hoje 93 anos. Um dos principais nomes das artes plásticas cearense, ele ganha exposição no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) para marcar a data de seu aniversário. Entretanto, o foco não é a obra, mas a trajetória de vida de Bandeira, que é resgatada através de fotos cedidas pela família especialmente para a ocasião.
"O objetivo da exposição não é esgotar a história do Antonio Bandeira ou tornar o evento como um marco definitivo dele, mas sim chamar a atenção nesse aniversário para o importante trabalho que ele desempenhou em vida pela arte cearense", diz Jacqueline Medeiros, curadora da exposição.
Serão expostas também na galeria - que leva o nome do artista cearense -, trabalhos de outros artistas brasileiros que se destacaram no abstracionismo - ainda que em outras vertentes -, como Tomie Ohtake, Sérvulo Esmeraldo, Amílcar de Castro e Maria Bonomi. "São nomes tão importantes quanto o de Bandeira quando o assunto é abstracionismo", ressalta Jacqueline.
Antonio Bandeira trouxe a influência abstrata para o Brasil a partir de uma viagem que realizou para Paris, em 1946. "Lá ele teve contato com o Tachismo, um estilo abstrato de se pintar que estava começando através de artistas no pós-guerra", afirma Jacqueline. "Foi o ambiente que ele precisava para se desenvolver artisticamente, já que a forma de produzir feita por lá casava com as ideias dele", diz.
A curadora afirma que por essa nova forma de pintar e por sua ligação com a poesia - Bandeira ilustrou vários livros de escritores do Grupo Clan - seu trabalho se distanciou de outros cearenses contemporâneos, como Estrigas e Raimundo Cela, em que as obras possuem a presença do figurativismo. "Até em sua fase figurativa, Bandeira tinha uma forte inclinação abstrata, com obras que tendem ao cubismo, por exemplo", ressalta a curadora.
Escola
Com influência confessa de pintores como o suíço Paulo Klee, Bandeira, contudo, não se enquadrou em nenhum grupo de arte abstrata. Ainda que seja considerado um dos principais representantes do abstracionismo lírico, o artista, cujas primeiras exposições no Brasil aconteceram em 1940, não pendeu para nenhuma das tendências dos grupos brasileiros. Nem aos concretistas paulistas, nem tampouco aos neoconcretistas cariocas. Preferiu imprimir uma marca ímpar à sua pintura, fugindo de rótulos.
Em 1951, pintores abstracionistas brasileiros se reuniram na Primeira Bienal Internacional de São Paulo desembocando no concretismo como a principal forma de internacionalização da cultura brasileira. "Por não se encaixar nesses padrões, Bandeira acabou às margens das artes plásticas, ainda que muito respeitado", argumenta a curadora da exposição. Assim como Bandeira, o Tachismo também foi sufocado, mas este pelo abstracionismo norte-americano, que virava símbolo da liberdade no pós-guerra, sobretudo por artistas europeus que migraram para o país fugindo dos campos de batalha.
O artista
Antonio Bandeira viveu apenas 45 anos. Ele nasceu em Fortaleza, em 1922, e morreu em Paris, em 1967, no auge da carreira, depois de um choque anafilático durante uma simples cirurgia para extração de amídalas. Um fim inesperadamente súbito. Em vida, era um artista conhecido no Brasil e no mundo. O pintor, desenhista e gravador cearense, num período muito enxuto, deixou sua marca registrada na história da arte. O artista, porém, não nasceu em berço de ouro. Era filho de ferreiro, mas o pai garantiu-lhe os estudos no Colégio Marista, em Fortaleza, onde uma professora cedo descobriu seu talento para a pintura.
Participou da fundação da Sociedade Cearense de Belas Artes (Scap), com Inimá de Paula, Aldemir Martins, João Maria Siqueira e Francisco Barbosa Leite, entre outros. Em 1945, o artista - assim como Inimá de Paula, Raimundo Feitosa e Aldemir Martins - mudou-se para o Rio de Janeiro, encorajado por Jean-Pierre Chabloz, que articulava uma exposição destes artistas cearenses na Galeria Askanasy. Seu trabalho foi bem recebido e Bandeira ganhou uma bolsa de estudos da Embaixada Francesa para estudar artes em Paris, seguindo para lá em abril de 1946. Estudou pintura, desenho e gravura na École Nationale de Beaux Arts e na Academia de La Grande Chaumière.
Mais informações
Exposição "Mensagem aos contemplativos: Antonio Bandeira". Abertura: Hoje, 26, às 10h, no CCBNB (Rua Conde D'Eu, 560, Centro). Em cartaz até o dia 4 de julho. Contato: 3464.3108
Leonardo Bezerra
Repórter
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