Projeto jesuíta na cidade de Homs dá abrigo a perseguidos por extremistas.
É impossível ter um número exato. “São milhares, isto é certo. Não há dia em que uma pessoa não venha a nós a contar-nos um novo caso. Não sabem a que outra pessoa dirigir-se”, conta a Avvenire o jesuíta Ziad Hilal.
À macabra contabilidade da guerra civil síria falta um capítulo importante, aquele dos desaparecidos. Homens, mulheres, crianças, anciãos, islamitas, cristãos, religiosos, leigos: nas “zonas quentes” da nação qualquer cidadão corre risco. Ser morto ou desaparecer no nada é mais do que uma possibilidade. Sabe-o bem o padre Ziad: o sacerdote coordena em Homs os projetos do Jesuit Refugee Service (Jrs): precisamente lá, há um ano, foi morto o coirmão, Frans van der Lugt.
E, no dia 21 de maio passado, na vizinha Quaryatayn, foi raptado outro jesuíta, Jacques Mourad, prior do mosteiro de Mar Elian. “Somente no nosso grupo, quatro operadores têm um familiar desaparecido. Em Aleppo, onde está o outro ramo dos projetos do Jrs, a situação ainda é pior. A espiral de violência está devorando tudo e todos”, explica o religioso, que faz o intercâmbio entre as duas cidades. Quando é possível, isto é, quando não há combates.
“Os desaparecidos são sugados num buraco negro. É difícil chegar ao grupo que os pegou, portanto, com quem tratar. Há demasiadas formações. Em quatro anos de conflito, as grandes milícias se fragmentaram numa pluralidade de bandos. Alguns são gangues criminosas, outras vezes se trata de organizações extremistas, qaedistas. Também se não existe uma divisa nítida. Podem raptar para solicitar um resgate, por vinganças pessoais, por razões políticas ou sectárias”, conta ainda o padre Ziad.
Os desaparecimentos têm o efeito de aterrorizar a população de Aleppo, atualmente no extremo. “Na nossa mesa, no quarteirão de Azzizua, se apresentam cada dia pelo menos 7 mil pessoas”, acrescenta o jesuíta que administra um refeitório análogo a Homs, além de vários centros para deficientes, em função também graças à ajuda de “Ajudemos a Síria” (Aiulas). Os cristãos são os mais apavorados, após a saraivada de atentados que tomou como mira os seus quarteirões nos últimos meses. Quem pode foge.
“Tantos tomam o caminho das montanhas e chegam a nós, em Homs. Em apenas trinta dias chegaram 250 novas famílias. E esperamos pelo menos outras 200. Chegam sem nada, com frequência partem só com as vestes que tinham no corpo”. A acolhê-los, na periferia de Homs, estão os jesuítas e trezentos voluntários. Em geral jovens, de diversas religiões. “Há islamitas, cristãos ortodoxos, católicos. Trabalham lado a lado e, deste modo, aprendem a conhecer-se. É o antídoto mais eficaz contra o extremismo que está destruindo a Síria”, afirma o jesuíta.
Desde quando o Jrs começou as atividades no País, em 2008, o número de voluntários cresceu progressivamente. Após a guerra, de poucas décadas passaram a centenas. Um trabalho, em Homs, fortemente sustentado pelo padre Frans, antes do seu homicídio. “O povo gostava muito dele. Era um herói: sempre acolheu a todos, sem distinções de crença. Tinha conseguido transformar o diálogo inter-religioso em vida cotidiana. O seu túmulo, na periferia de Homs, é meta de peregrinação de cristãos e islamitas. Lá reencontram força para ir em frente e continuar a esperar pela paz”.
Avvenire, 29-05-2015.
*tradução de Benno Dischinger.
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