36 perguntas pessoais seguidas pela troca de olhar fixo. Assim nasce uma paixão.
Por Marco Lacerda*
Solteira e cansada de procurar namorado pela internet, a americana Mandy Len Catron decidiu usar a ciência para encontrar o amor. No ano passado, a escritora e professora da Universidade British Columbia, no Canadá, chamou um conhecido para, juntos, reproduzirem um experimento do psicólogo Arthur Aron que fez com que dois estranhos se apaixonassem em laboratório. Em 1997, Aron demonstrou que bastava responder 36 questões pessoais, cada vez mais reveladoras e, em seguida, olhar profundamente nos olhos um do outro durante quatro minutos para que a paixão surgisse. A experiência deu tão certo que Mandy, de 33 anos, decidiu contar sua história com final feliz em uma coluna do jornal The New York Times e instigar outras pessoas a fazer o mesmo.
Mandy admite que a experiência vivida por ela e seu par não se ajusta ao estudo desenvolvido pelo psicólogo. “Primeiro, estávamos em um bar, não no laboratório. Segundo, não éramos estranhos. Não só isso, me dei conta agora de que uma pessoa não sugere e nem está de acordo em testar uma experiência feita para criar um amor romântico se essa pessoa não está aberta ao que possa acontecer”.
As 36 perguntas propostas por Arthur Aron lembram a famosa experiência da rã na qual o animal não percebe como a água vai esquentado até que seja tarde demais e ela esteja fervendo. No meu caso, e como o nível de vulnerabilidade aumentava gradualmente, não notei que havíamos entrado no terreno íntimo até que estávamos dentro, um processo que normalmente pode levar semanas ou meses.
Em reportagem para a Editoria de Ciência da revista Veja, a jornalista Rita Loiola diz que “nas últimas duas décadas, as pesquisas científicas não só revelaram os mecanismos do nascimento da paixão, como ensinaram a buscar e manter a felicidade dos casais. A ciência do amor desvendou atitudes e exercícios que incentivam a cumplicidade, a confiança e o interesse mútuo e tiveram a eficácia comprovada por estudos de psicólogos, neurologistas, antropólogos e neurocientistas de diversas partes do globo.
O significado cultural da paixão
“Além do papel de perpetuar a espécie, apaixonar-se tem um enorme significado cultural. É a fonte de nossas piores e melhores emoções”, afirma a psicóloga Debra Mashek, professora da Faculdade Harvey Mudd, no Canadá, e autora de uma série de livros sobre a psicologia do amor. Desde os anos 2000, Debra desenvolve pesquisas para compreender a complexidade das conexões entre os seres humanos. “O amor é uma motivação poderosa para pessoas de todas as culturas e eras. É sempre emocionante ver o resultado de nossos estudos serem usados para unir os seres humanos.”
Arthur Aron foi um dos primeiros a colocar o amor, emoção aparentemente irracional, sob as lentes da ciência. O psicólogo, que trabalha na Universidade Stony Brook, em Nova York, queria saber se era possível fazer com que estranhos formassem vínculos fortes em minutos. Com sua série de perguntas, em menos de uma hora, os participantes afirmaram que se sentiram muito próximos de suas duplas. Quando a experiência foi feita com pessoas de sexo diferente, alguns se apaixonaram e chegaram a se casar.
“É importante notar que a intimidade significa se sentir compreendido, validado e cuidado. Assim, quando alguém se arrisca a mostrar quem realmente é, apresenta-se sem julgamentos, faz pergunta importantes, agradece ao outro pela confiança e o deixa fazer o mesmo, temos o primeiro passo para a proximidade e a paixão”, explica Debra, que trabalhou com Aron em seu laboratório.
Essa intimidade, no entanto, não era o que, de início, os pesquisadores acreditavam que seria o gatilho do amor. O primeiro manual científico sobre o tema trazia uma receita bem mais simples para despertar a paixão: “A admiração. O prazer. A esperança”. A tríade descrita em Do Amor, ensaio escrito em 1822 pelo francês Stendhal – pseudônimo do diplomata Marie-Henri Beyle (1783-1842) – definiu, durante muito tempo, a compreensão daquilo que os cientistas descrevem como "apaixonamento", ou seja, os primeiros passos do amor.
O laboratório do amor
Foi a partir dos anos 1970 que o tema começou a ser estudado em laboratórios de universidades. Além da experiência de Aron, o pesquisador John Gottman, então na Universidade de Washington, instalou seu “Laboratório do Amor” para fazer diversos estudos com casais e conseguiu prever, com certa precisão, se recém-casados se divorciariam depois de alguns anos. Na época, os pesquisadores buscavam entender como funcionam as engrenagens do amor e, para isso, o primeiro foco foram os comportamentos e atitudes que poderiam levar alguém a encontrar seu par.
No entanto, os estímulos e as reações variam entre as pessoas, culturas ou faixas etárias e os cientistas precisavam de elementos que pudessem ser medidos de forma indistinta entre os seres humanos. Assim, no início dos anos 2000, a ciência se voltou para o cérebro dos apaixonados, submetendo-os a ressonâncias magnéticas e buscando localizar áreas mentais, hormônios e neurotransmissores que funcionam da mesma forma em todas as pessoas.
“Se o amor realmente tem uma lógica, é preciso que haja substâncias cerebrais que o expliquem. Hoje sabemos que o hormônio oxitocina, em conjunto com a dopamina e norepinefrina, são os responsáveis pelas reações químicas que constituem o amor”, diz a psicóloga Andrea Lorena Stravogiannis, pesquisadora do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso da Universidade de São Paulo (USP).
Atualmente, a ciência estuda a interação entre os parâmetros comportamentais e as substâncias cerebrais que explicam o que acontece no corpo e na mente dos apaixonados. Afinal, comportamentos disparam reações químicas que ajudam a criar ou fortalecer vínculos.
“Você provavelmente está perguntando se ele e eu nos apaixonamos”, diz Mandy em seu artigo para o New York Times. “Bem, aconteceu. Ainda que seja difícil dar todo o mérito ao estudo (poderia ter acontecido de todas as formas), as perguntas nos ofereceram um caminho para uma relação que sentimos como voluntário e deliberado. Passamos semanas no espaço íntimo que criamos essa noite, esperando para ver no que poderia se transformar. O amor não nos aconteceu. Estamos apaixonados porque tomamos a decisão de estar”.
Se você quer ler (e testar) as 36 perguntas mencionadas no artigo, clique aqui:http://www.elhombre.com.br/estas-36-perguntas-farao-qualquer-mulher-se-apaixonar-por-voce/
Mandy Len Catron dá aulas de escrita na Universidade da Columbia Britânica, em Vancouver, e está trabalhando em um livro sobre os perigos das histórias de amor. Em apenas uma semana seu artigo publicado no New York Times teve 5,2 milhões de leitores e foi compartilhado 365.000 vezes no Facebook e mais de 14.000 no Twiter.
Love is a many splendored thing - Nat King Cole. Veja o vídeo:
Mandy admite que a experiência vivida por ela e seu par não se ajusta ao estudo desenvolvido pelo psicólogo. “Primeiro, estávamos em um bar, não no laboratório. Segundo, não éramos estranhos. Não só isso, me dei conta agora de que uma pessoa não sugere e nem está de acordo em testar uma experiência feita para criar um amor romântico se essa pessoa não está aberta ao que possa acontecer”.
As 36 perguntas propostas por Arthur Aron lembram a famosa experiência da rã na qual o animal não percebe como a água vai esquentado até que seja tarde demais e ela esteja fervendo. No meu caso, e como o nível de vulnerabilidade aumentava gradualmente, não notei que havíamos entrado no terreno íntimo até que estávamos dentro, um processo que normalmente pode levar semanas ou meses.
Em reportagem para a Editoria de Ciência da revista Veja, a jornalista Rita Loiola diz que “nas últimas duas décadas, as pesquisas científicas não só revelaram os mecanismos do nascimento da paixão, como ensinaram a buscar e manter a felicidade dos casais. A ciência do amor desvendou atitudes e exercícios que incentivam a cumplicidade, a confiança e o interesse mútuo e tiveram a eficácia comprovada por estudos de psicólogos, neurologistas, antropólogos e neurocientistas de diversas partes do globo.
O significado cultural da paixão
“Além do papel de perpetuar a espécie, apaixonar-se tem um enorme significado cultural. É a fonte de nossas piores e melhores emoções”, afirma a psicóloga Debra Mashek, professora da Faculdade Harvey Mudd, no Canadá, e autora de uma série de livros sobre a psicologia do amor. Desde os anos 2000, Debra desenvolve pesquisas para compreender a complexidade das conexões entre os seres humanos. “O amor é uma motivação poderosa para pessoas de todas as culturas e eras. É sempre emocionante ver o resultado de nossos estudos serem usados para unir os seres humanos.”
Arthur Aron foi um dos primeiros a colocar o amor, emoção aparentemente irracional, sob as lentes da ciência. O psicólogo, que trabalha na Universidade Stony Brook, em Nova York, queria saber se era possível fazer com que estranhos formassem vínculos fortes em minutos. Com sua série de perguntas, em menos de uma hora, os participantes afirmaram que se sentiram muito próximos de suas duplas. Quando a experiência foi feita com pessoas de sexo diferente, alguns se apaixonaram e chegaram a se casar.
“É importante notar que a intimidade significa se sentir compreendido, validado e cuidado. Assim, quando alguém se arrisca a mostrar quem realmente é, apresenta-se sem julgamentos, faz pergunta importantes, agradece ao outro pela confiança e o deixa fazer o mesmo, temos o primeiro passo para a proximidade e a paixão”, explica Debra, que trabalhou com Aron em seu laboratório.
Essa intimidade, no entanto, não era o que, de início, os pesquisadores acreditavam que seria o gatilho do amor. O primeiro manual científico sobre o tema trazia uma receita bem mais simples para despertar a paixão: “A admiração. O prazer. A esperança”. A tríade descrita em Do Amor, ensaio escrito em 1822 pelo francês Stendhal – pseudônimo do diplomata Marie-Henri Beyle (1783-1842) – definiu, durante muito tempo, a compreensão daquilo que os cientistas descrevem como "apaixonamento", ou seja, os primeiros passos do amor.
O laboratório do amor
Foi a partir dos anos 1970 que o tema começou a ser estudado em laboratórios de universidades. Além da experiência de Aron, o pesquisador John Gottman, então na Universidade de Washington, instalou seu “Laboratório do Amor” para fazer diversos estudos com casais e conseguiu prever, com certa precisão, se recém-casados se divorciariam depois de alguns anos. Na época, os pesquisadores buscavam entender como funcionam as engrenagens do amor e, para isso, o primeiro foco foram os comportamentos e atitudes que poderiam levar alguém a encontrar seu par.
No entanto, os estímulos e as reações variam entre as pessoas, culturas ou faixas etárias e os cientistas precisavam de elementos que pudessem ser medidos de forma indistinta entre os seres humanos. Assim, no início dos anos 2000, a ciência se voltou para o cérebro dos apaixonados, submetendo-os a ressonâncias magnéticas e buscando localizar áreas mentais, hormônios e neurotransmissores que funcionam da mesma forma em todas as pessoas.
“Se o amor realmente tem uma lógica, é preciso que haja substâncias cerebrais que o expliquem. Hoje sabemos que o hormônio oxitocina, em conjunto com a dopamina e norepinefrina, são os responsáveis pelas reações químicas que constituem o amor”, diz a psicóloga Andrea Lorena Stravogiannis, pesquisadora do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso da Universidade de São Paulo (USP).
Atualmente, a ciência estuda a interação entre os parâmetros comportamentais e as substâncias cerebrais que explicam o que acontece no corpo e na mente dos apaixonados. Afinal, comportamentos disparam reações químicas que ajudam a criar ou fortalecer vínculos.
“Você provavelmente está perguntando se ele e eu nos apaixonamos”, diz Mandy em seu artigo para o New York Times. “Bem, aconteceu. Ainda que seja difícil dar todo o mérito ao estudo (poderia ter acontecido de todas as formas), as perguntas nos ofereceram um caminho para uma relação que sentimos como voluntário e deliberado. Passamos semanas no espaço íntimo que criamos essa noite, esperando para ver no que poderia se transformar. O amor não nos aconteceu. Estamos apaixonados porque tomamos a decisão de estar”.
Se você quer ler (e testar) as 36 perguntas mencionadas no artigo, clique aqui:http://www.elhombre.com.br/estas-36-perguntas-farao-qualquer-mulher-se-apaixonar-por-voce/
Mandy Len Catron dá aulas de escrita na Universidade da Columbia Britânica, em Vancouver, e está trabalhando em um livro sobre os perigos das histórias de amor. Em apenas uma semana seu artigo publicado no New York Times teve 5,2 milhões de leitores e foi compartilhado 365.000 vezes no Facebook e mais de 14.000 no Twiter.
Love is a many splendored thing - Nat King Cole. Veja o vídeo:
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Domtotal.
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