Em 80% dos produtos há ao menos um agrotóxico, enquanto que em mais de 30% há entre 3 e 5.
Durante o Terceiro Congresso Nacional de Médicos de Povos Fumigados, que aconteceu na Faculdade de Medicina da UBA, encontraram-se e debateram diferentes representantes dos 12 milhões de habitantes de zonas agrárias que estão cercadas por plantações de monoculturas. No congresso, fizeram ouvir sua voz trabalhadores rurais, professores de escolas fumigadas, médicos e pesquisadores que estão de acordo sobre a necessidade de frear o uso “descontrolado de agrotóxicos que adoecem toda a população” dentro e fora dos povos fumigados.
Matías e María José são professores de Ciências Sociais em diferentes escolas rurais do norte de Santa Fe. Nessa região da Província, as produções de batatas, arroz, soja e girassol cercam os equipamentos de ensino que os professores definem como “escolas fumigadas”.
Os educadores participaram do congresso para contar que as “fumigações acontecem durante o horário de aula. Por este motivo, foi preciso trancar-se nas escolas junto com as crianças”. Quando isso acontece, “as crianças faltam devido a dores nos olhos, alergias e descomposturas”. Além disso, os professores denunciaram que em determinadas ocasiões as fazendas usam meninos “como sinalizadores, cabeça de fumigação para que marquem até onde foi fumigado”, explicaram os professores.
Em outras situações, as “escolas encontram-se nas proximidades de silos, e quando venta, os tóxicos afetam os alunos. Foram feitas denúncias, mas as soluções propostas são irrisórias, como construir muros de dois metros de altura contra silos que são muito mais altos que o muro, o qual, obviamente, não impede os produtos químicos de passarem”, relataram os educadores a este jornal.
Os professores externaram a necessidade de contar estas experiências e unir-se para buscar uma solução, porque “muitas escolas rurais dependem economicamente de produtores. Às vezes, as crianças são filhos de peões e têm medo de que seus pais sejam demitidos. Há muitos casos de câncer, problemas de pele ou de alergias”, relataram.
Além disso, os alunos “naturalizaram tudo. Nas aulas, durante a Educação Ambiental, tentamos desnaturalizar a vida de fumigados”, concluíram.
Ana Zavoloy é diretora da Escola Rural 11 de San Antonio de Areco, situada a 20 quilômetros da zona urbana. Embora as fumigações sejam frequentes em horário escolar, Zavaloy recorda pontualmente um dia em que terminou “com tosse por dois meses e uma parestesia facial que durou 15 dias”. Na escola já é comum “estar em aula, começar a sentir o cheiro do veneno e ver o pulverizador fumigando ao lado ou no campo próximo. Muitas crianças são alvo de fumigações também em suas casas”, explicou.
Diariamente, a diretora trabalha para explicar aos estudantes que não há “patrões dentro do colégio e que esse é um espaço para formar consciência”.
Saúde e Meio Ambiente é a matéria em que trabalham “com projetos de ciências. Um é biodiversidade em escolas rurais, em que fazemos intercâmbios com outras escolas rurais da zona”, contou a diretora. Nestes encontros, se depararam com um colégio que está cercado por um haras. “Aí “não fumigam, porque os cavalos valem muito, te diria que parece que valem mais que os alunos”, explicou Zavaloy.
Os estudantes da escola livre de fumigações contaram “que tinham grande quantidade de borboletas no pátio, algo que não há em nossas escolas e que chamou muito a atenção dos alunos. Um dos meus alunos, que tem no pátio de sua casa uma plantação de soja, disse claramente que para ele as fumigações eram responsáveis pela morte de tudo, até das borboletas”, relatou Ana. A partir destas observações, as crianças puderam unir as pesquisas a vivências cotidianas e, segundo a diretora, “começar a falar destes temas”.
Diante da ausência de respostas municipais para a realização de análises toxicológicas, a Escola Rural 11 recebeu “gente da Universidade de La Plata que recolheu amostras de sangue dos adultos e da água do lugar. O estudo deu sete agrotóxicos diferentes nas amostras. Jogou por terra a estória de que os agrotóxicos são inócuos e não têm desvios. Desmentiu que se possa fumigar do outro lado da cerca, com os alunos brincando ao lado do pulverizador achando que estavam a salvos”, explicou Zavaloy.
“Por isso viemos ao congresso, para que se detenha o uso descontrolado de agrotóxicos que adoecem toda a população e para ressaltar a importância que a escola tem como lugar de reflexão e denúncia, para que as crianças e suas famílias possam defender seu direito à vida”, conclui a diretora.
Damián Marino é professor de Química Ambiental da Faculdade de Ciências Exatas da Universidade de La Plata e também pesquisador do Conicet. Marino foi ao congresso representando sua equipe de pesquisa para “divulgar uma ciência com todas as vozes, como ferramenta do social e espaço de construção de conhecimento coletivo”.
No congresso, apresentaram resultados de pesquisas que demonstram a “presença de venenos em frutas e verduras de uso doméstico para todo o país. Descobrimos que em 80% dos produtos há ao menos um agrotóxico, enquanto que em mais de 30% há entre 3 e 5”, explicou.
Além disso, segundo o pesquisador, “10% dos produtos não respeitam o limite máximo estabelecido pelo Senasa. Se uma pessoa consulta um toxicólogo, a ausência de agrotóxicos é normal. Você pode ter colesterol, açúcares, mas o valor normal dos tóxicos é zero. É um agente ambiental sintético que não deveria estar em um corpo humano e que, no entanto, aparece em cada vez mais alimentos”, concluiu.
Matías e María José são professores de Ciências Sociais em diferentes escolas rurais do norte de Santa Fe. Nessa região da Província, as produções de batatas, arroz, soja e girassol cercam os equipamentos de ensino que os professores definem como “escolas fumigadas”.
Os educadores participaram do congresso para contar que as “fumigações acontecem durante o horário de aula. Por este motivo, foi preciso trancar-se nas escolas junto com as crianças”. Quando isso acontece, “as crianças faltam devido a dores nos olhos, alergias e descomposturas”. Além disso, os professores denunciaram que em determinadas ocasiões as fazendas usam meninos “como sinalizadores, cabeça de fumigação para que marquem até onde foi fumigado”, explicaram os professores.
Em outras situações, as “escolas encontram-se nas proximidades de silos, e quando venta, os tóxicos afetam os alunos. Foram feitas denúncias, mas as soluções propostas são irrisórias, como construir muros de dois metros de altura contra silos que são muito mais altos que o muro, o qual, obviamente, não impede os produtos químicos de passarem”, relataram os educadores a este jornal.
Os professores externaram a necessidade de contar estas experiências e unir-se para buscar uma solução, porque “muitas escolas rurais dependem economicamente de produtores. Às vezes, as crianças são filhos de peões e têm medo de que seus pais sejam demitidos. Há muitos casos de câncer, problemas de pele ou de alergias”, relataram.
Além disso, os alunos “naturalizaram tudo. Nas aulas, durante a Educação Ambiental, tentamos desnaturalizar a vida de fumigados”, concluíram.
Ana Zavoloy é diretora da Escola Rural 11 de San Antonio de Areco, situada a 20 quilômetros da zona urbana. Embora as fumigações sejam frequentes em horário escolar, Zavaloy recorda pontualmente um dia em que terminou “com tosse por dois meses e uma parestesia facial que durou 15 dias”. Na escola já é comum “estar em aula, começar a sentir o cheiro do veneno e ver o pulverizador fumigando ao lado ou no campo próximo. Muitas crianças são alvo de fumigações também em suas casas”, explicou.
Diariamente, a diretora trabalha para explicar aos estudantes que não há “patrões dentro do colégio e que esse é um espaço para formar consciência”.
Saúde e Meio Ambiente é a matéria em que trabalham “com projetos de ciências. Um é biodiversidade em escolas rurais, em que fazemos intercâmbios com outras escolas rurais da zona”, contou a diretora. Nestes encontros, se depararam com um colégio que está cercado por um haras. “Aí “não fumigam, porque os cavalos valem muito, te diria que parece que valem mais que os alunos”, explicou Zavaloy.
Os estudantes da escola livre de fumigações contaram “que tinham grande quantidade de borboletas no pátio, algo que não há em nossas escolas e que chamou muito a atenção dos alunos. Um dos meus alunos, que tem no pátio de sua casa uma plantação de soja, disse claramente que para ele as fumigações eram responsáveis pela morte de tudo, até das borboletas”, relatou Ana. A partir destas observações, as crianças puderam unir as pesquisas a vivências cotidianas e, segundo a diretora, “começar a falar destes temas”.
Diante da ausência de respostas municipais para a realização de análises toxicológicas, a Escola Rural 11 recebeu “gente da Universidade de La Plata que recolheu amostras de sangue dos adultos e da água do lugar. O estudo deu sete agrotóxicos diferentes nas amostras. Jogou por terra a estória de que os agrotóxicos são inócuos e não têm desvios. Desmentiu que se possa fumigar do outro lado da cerca, com os alunos brincando ao lado do pulverizador achando que estavam a salvos”, explicou Zavaloy.
“Por isso viemos ao congresso, para que se detenha o uso descontrolado de agrotóxicos que adoecem toda a população e para ressaltar a importância que a escola tem como lugar de reflexão e denúncia, para que as crianças e suas famílias possam defender seu direito à vida”, conclui a diretora.
Damián Marino é professor de Química Ambiental da Faculdade de Ciências Exatas da Universidade de La Plata e também pesquisador do Conicet. Marino foi ao congresso representando sua equipe de pesquisa para “divulgar uma ciência com todas as vozes, como ferramenta do social e espaço de construção de conhecimento coletivo”.
No congresso, apresentaram resultados de pesquisas que demonstram a “presença de venenos em frutas e verduras de uso doméstico para todo o país. Descobrimos que em 80% dos produtos há ao menos um agrotóxico, enquanto que em mais de 30% há entre 3 e 5”, explicou.
Além disso, segundo o pesquisador, “10% dos produtos não respeitam o limite máximo estabelecido pelo Senasa. Se uma pessoa consulta um toxicólogo, a ausência de agrotóxicos é normal. Você pode ter colesterol, açúcares, mas o valor normal dos tóxicos é zero. É um agente ambiental sintético que não deveria estar em um corpo humano e que, no entanto, aparece em cada vez mais alimentos”, concluiu.
Página/12, 19-10-2015.
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