domingo, 1 de novembro de 2015

Despedir-se da vida em dignidade e elegância!

Nossa fé cristã neste momento é a âncora segura que nos protege e nos apoia.
Por Pe. Leo Pessini
O mês de novembro, na nossa cultura latina e brasileira é marcado pela lembrança dos nossos entes queridos que já partiram de nosso convívio. Dia primeiro de novembro, é o dia de todos os santos na liturgia e no dia dois celebramos o dia dos mortos.
Um misto de saudades e nostalgia invade nossos seres, lembramos carinhosamente de quem partiu de nosso convívio, e até fazemos uma peregrinação ao cemitério e aí junto local onde foram depositados os restos mortais de quem amamos, depositamos um ramalhete de flores, e com uma lágrima teimosa que brota em nossos olhos, fazemos silenciosamente uma prece aos céus de agradecimento pela vida desta pessoa.
Nada mais humano do que ser tocados em nossa finitude e mortalidade exatamente por aqueles que nos são mais significativos em vida, nossos entes queridos! Nossa fé cristã neste momento é a âncora segura que nos protege e nos apoia na busca de inspiração, consolo, luz e compreensão, no mistério da vida que é tecido pela “incompreensível” morte dos que amamos. Nutrimos a certeza, de que quando dizemos que amamos alguém, esta pessoa amada nunca morrerá! Permanece para sempre viva em nossa mente, coração e alma.
Gostaria de reportar hoje nesta reflexão a palavra do nosso querido Papa Francisco a respeito do cuidado daqueles que estão enfrentando uma doença crônico degenerativa incurável, ou na fase final de suas vidas. Num encontro com os membros da Pontifícia Academia da Vida, no início do ano (5 de março) ele falou sobre a importância dos cuidados paliativos.
Já temos alguns programas e unidades de cuidados no Brasil, mas muito ainda precisamos avançar no sentido de oferecer cuidados integrais dignos a todos os nossos coirmãos que estão na fase final de sua jornada terrestre. Existe ainda muita solidão, sofrimento, descaso e indiferença na área da saúde pública brasileira. Precisamos urgentemente de uma política pública clara no Sus (Sistema único de Saúde) e que todos os que tenham necessidade possam ser cuidados com dignidade de cidadãos brasileiros.
Destacamos a seguir alguns trechos do discurso do Papa sobre cuidados paliativos:
“Os cuidados paliativos são expressão da atitude profundamente humana de cuidar uns dos outros, sobretudo dos que sofrem. Eles testemunham que a pessoa humana permanece sempre preciosa, mesmo quando está marcada pela velhice e pela doença. Com efeito, a pessoa, em qualquer circunstância, é um bem para si mesma e para os outros e é amada por Deus. Por isso, quando a sua vida se torna frágil e se aproxima a conclusão da existência terrena, sentimos a responsabilidade de a assistir e acompanhar da melhor maneira.
A palavra de Deus é (...)de extrema atualidade para a sociedade contemporânea, na qual a lógica da utilidade prevalece sobre a solidariedade e a gratuidade, até no âmbito familiar. «Honrar» hoje poderia ser traduzido também como o dever de ter extremo respeito e cuidar de quem, devido à sua condição física ou social, se poderia deixar morrer ou «fazer morrer». Toda a medicina tem um papel especial no âmbito da sociedade como testemunha da honra que se deve à pessoa idosa e a cada ser humano. Evidência e eficiência não podem ser os únicos critérios que governam a ação médica, nem o devem ser as regras dos sistemas de saúde e o proveito. O Estado não pode pensar em lucrar com a medicina. Ao contrário, não há dever mais importante para a sociedade do que preservar a pessoa humana.
Os cuidados paliativos até agora eles foram um precioso acompanhamento para os doentes oncológicos, mas hoje as doenças são muitas e diversas, com frequência relacionadas com a velhice, caracterizadas por um definhamento crônico progressivo e podem servir-se deste tipo de assistência. Os idosos precisam antes de tudo dos cuidados dos familiares — cujo afeto não pode ser substituído nem sequer pelas estruturas mais eficientes ou pelos agentes de saúde mais competentes e caridosos.
Quando não são autossuficientes ou com doença em estádio avançado ou terminal, os idosos podem gozar de uma assistência deveras humana e receber respostas adequadas às suas exigências graças aos cuidados paliativos oferecidos como integração e apoio às atenções prestadas pelos familiares. Os cuidados paliativos têm por objetivo aliviar os sofrimentos na fase final da doença e ao mesmo tempo garantir ao doente um acompanhamento humano adequado (...). Trata-se de um apoio importante sobretudo para os idosos, os quais, devido à idade, recebem cada vez menos atenção da medicina curativa e muitas vezes são abandonados. O abandono é a «doença» mais grave para o idoso, e também a maior injustiça da qual pode ser vítima: aqueles que nos ajudaram a crescer não devem ser abandonados quando precisam da nossa ajuda, do nosso amor e da nossa ternura.
Por conseguinte, aprecio o vosso compromisso científico e cultural a fim de garantir que os cuidados paliativos possam chegar a quantos deles precisam. Encorajo os profissionais e os estudantes a especializarem-se neste tipo de assistência que não possui menos valor pelo facto de «não salvar a vida».
Os cuidados paliativos realizam algo igualmente importante: valorizam a pessoa. Exorto todos os que, de vários modos, estão comprometidos no âmbito dos cuidados paliativos, a assumir este compromisso conservando íntegro o espírito de serviço e recordando que qualquer conhecimento médico só é deveras ciência, no seu significado mais nobre, se se colocar como auxílio em vista do bem do homem, um bem que nunca se alcança «contra» a sua vida e a sua dignidade. 
O que podemos dizer senão, amém!
A12

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