domingo, 13 de dezembro de 2015

Alegremo-nos! O Senhor está próximo!

Não precisamos mais temer o mal. Neste Domingo Gaudete vivamos a alegria de Deus!
Por Marcel Domergue*

Referências bíblicas:
1ª leitura: "O Senhor exultará de alegria por ti, movido por amor, como em dias de festa" (Sofonias 3,14-18)
Salmo: Cântico de Isaías 12 - R/ Exultai, cantando alegres, habitantes de Sião, porque é grande em vosso meio o Deus santo de Israel!
2ª leitura: "O Senhor está próximo" (Filipenses 4,4-7)
Evangelho: "Que devemos fazer" (Lucas 3,10-18)

A alegria nem sempre é fácil
As leituras do domingo passado falavam muito da alegria pela aproximação da "salvação do nosso Deus". As de hoje insistem ainda mais. A Liturgia, seguindo as Escrituras, quer mostrar que esta alegria não é assim tão evidente para nós, pois ainda vivemos sob os constrangimentos das mais diversas escravidões. A libertação, que é portadora da alegria de que nos fala a Bíblia, está posta no futuro, apenas prometida. E este futuro, conforme podemos esperar dadas as condições atuais, não é assim tão confiável. O que se apresenta são precariedades em todos os domínios. Mais ainda, quando pensamos em Deus, somos envolvidos muitas vezes por uma atmosfera de austeridade, com sentimentos só de deveres por se cumprir. Temos dificuldade em considerar superados os nossos temores. A alegria, de fato, está em total dependência da fé: a falta de alegria equivale à falta de fé. A 2ª leitura prescreve-nos viver em estado de reconhecimento (ação de graças), o que supõe superar toda inquietação (versículo 6). Paulo nos convida a desembaraçarmo-nos do que nos causa medo, confiando-o a Deus. E, então, seremos invadidos pela «paz de Deus que ultrapassa todo entendimento», ou seja, toda evidência racional. "Ainda que eu caminhe por vale tenebroso nenhum mal temerei", diz o Salmo 23. Mas confessemos que viver constantemente em estado de ação de graças não é fácil. Pois bem, não temamos mais esta dificuldade; confiemo-la a Deus.

O Cristo está sempre por vir
Verdade? Mas o Cristo já não está aqui? Está sim, mas naquele tipo de presença que «supera todo entendimento» e que só pela fé nos é revelada. Por isso consagramos um mês inteiro (o Advento) para nos fortificar na espera de outra forma de presença, da presença que é total e perfeita. A fé de que falamos faz gerar a esperança, a espera? O Cristo já está aí na verdade, e, ao mesmo tempo, está prestes a vir. Conjuga-se a sua presença em todos os tempos. Ele está muito próximo e o encontro se dá a cada instante. "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo" (Apocalipse 3,20). Esta vinda de Cristo é a uma só vez constante e sempre nova; até o dia em que estivermos com Ele em perfeita comunhão. Mas voltemos ao final da primeira leitura. Não se trata mais aí somente da nossa alegria, por fazer-nos um com quem nos faz viver, mas da alegria do próprio Deus: "Como a alegria do noivo pela sua noiva, tal será a alegria que teu Deus sentirá em ti" (Isaías 62,5). Alegria do homem, alegria de Deus: com estas duas alegrias conjugadas, somos praticamente remetidos ao tema nupcial, ou seja, à perfeição da Aliança. Era preciso esperá-la, o nosso encontro com Deus é encontro de amor.

O encontro de Deus
A qualidade do nosso encontro de amor com Deus depende da imagem que fazemos dele. E aí todos os defeitos são possíveis; estamos continuamente fabricando ídolos. Há o Deus imperial, que, por antecipação, determina tudo o que devemos fazer e tudo o que nos deve acontecer; há o Deus inquisidor, que nos vigia a cada momento, sempre à espreita das nossas menores falhas; há o Deus vingador, que está sempre à nossa espera, para nos pegar na volta, etc. E um dos piores ídolos: o deus que quer ver a sua Lei imposta à base da violência. Não temos de fato nada mais que apenas uma imagem autêntica de Deus: o Cristo. Como diz Paulo em Colossenses 1,15, "Ele é a Imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura". Não precisamos ir a nenhum outro lugar para buscar inventar imagens sempre ilusórias e traumatizantes de Deus: o Cristo já está aí; Ele que, por amor, recusou o uso da força para salvar a sua vida. Esperamos dele sempre um novo nascimento, já que nunca acabamos de descobri-lo. Ele, sempre novo! E é Ele, enfim, que nos espera, assim como esperou os pastores e os magos, assim como esperou os discípulos que o Batista lhe preparou. Observemos que as recomendações que João faz aos que lhe interrogam não são mais que as prescrições do decálogo. Paulo não cansa de repetir: a Lei é um pedagogo que prepara o nosso encontro com o Mestre. Quando esse encontro tem lugar, a pedagogia se apaga para deixar lugar ao amor, à alegria e à liberdade.
Sítio Croire
*Marcel Domergue (+1922-2015), sacerdote jesuíta francês.

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