domingo, 20 de dezembro de 2015

Sobre como (não) representar a misericórdia

Por Roberto Beretta*
Agora que o Jubileu da Misericórdia começou, eu espero que não sejamos submersos por aquela que eu considero como a pior imagem sacra do século passado: o Cristo Misericordioso da Ir. Faustina Kowalska.
Vocês todos a conhecem, porque é muito difundida: mostra um Cristo de longos cabelos loiro-castanhos e com o dedo que indica o Seu lado, como nas melhores tradições devotas do Sagrado Coração do século XIX, mas, além disso, ostenta raios de dois feixes luminosos, vermelhos e azuis, que provêm precisamente do coração e irradiam na direção de quem olha, formando, com o branco central da veste do Cristo, uma espécie de surreal bandeira francesa invertida...
Uma imagem realmente péssima do ponto de vista do gosto artístico, mas que, a meu ver, pode criar notáveis problemas também em nível devocional e teológico.
Não é por nada que, ao fazer pesquisas sobre as origens dessa representação, descobri que, no período da Segunda Guerra Mundial (a imagem foi pintada na Lituânia em 1933), no norte da Itália, os sacerdotes desaconselhavam decisivamente o seu uso, considerando-a até como "herética".
Não quero chegar a esse extremo, mas certamente existe o risco de que o Ano Santo em curso exalte o uso dessa imagem, difundida sobretudo por obra de João Paulo II.
De fato, a representação se refere diretamente às visões da humilde freira polonesa Kowalska, que morreu em 1938 e foi santificada no ano 2000 por Wojtyla, que era muito devoto dela. No seu diário, a religiosa apóstola da Divina Misericórdia narra sobre o mandato recebido de Cristo de pintar uma figura com os raios que partem do Seu lado.
De fato, uma primeira imagem (na verdade, mais sóbria e menos enjoativa...) foi feita por um pintor, mas, algumas décadas depois – ou seja, quando a irmã já estava morta –, e por obra de outro artista, ela foi sobreposta pela imagem atualmente conhecida.
O resultado é precisamente aquele que eu considero tão desprezível, até mesmo um passo atrás em relação a certas pieguices dos Sagrados Corações do século XIX.
Depois, algumas interpretações (vocês podem encontrá-las facilmente na internet) são ainda piores do que a original. Mas isso também é terrível, por causa de uma oleografia embaraçosa que toca todos os lugares-comuns do populismo iconográfico: a luz ao redor da cabeça, a veste branca e longa até os pés (nus) e, acima de tudo, sobre um fundo escuro para acentuar uma luminosidade hipnótica, o Cristo femíneo, com cabelos longos e ondulados, olhos profundos, pele clara, mãos finas e delicadas... E, sobre tudo isso, aquele triângulo de cores fortes que quer convergir a atenção do devoto sobre o coração, mas que é tão acentuado a ponto de se tornar uma figura geométrica física, em vez do símbolo de uma emanação leve como deveria ser a da misericórdia.
Em suma, uma imagem falsa quanto à verdade histórica, orientada para estimular um devocionismo de tipo sentimental, por fim, esteticamente feia.
Sítio Vino Nuovo, 16-12-2015.
*Roberto Beretta: jornalista italiano

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