sábado, 6 de fevereiro de 2016

“Francisco não leva ao México uma varinha mágica, mas uma mensagem positiva”

Entrevista à jornalista Valentina Alazraky, que cobriu todas as viagens dos pontífices ao país Asteca
Valentina-alazraky
 Faltando apenas alguns poucos dias para começar a viagem do Papa Francisco ao México, a jornalista de Televisa, Valentina Alazraki, que cobriu todas as viagens dos pontífices no país Asteca, falou como mudou a situação desde a primeira realizada por João Paulo II.
A conversa ocorreu em um café da manhã de trabalho no hotel NH Giustiniani de Roma, organizado por Mediatrends América, que contou também com uma palestra do embaixador do México junto à Santa Sé, Mariano Palacios Alcocer; e do reitor do Pontifício Colégio Mexicano, Armando Flores Navarro, onde indicaram as perspectivas e esperanças desta viagem.
O primeiro a falou foi o embaixador do México junto à Santa Sé, que garantiu que ‘o Papa leva ao meu país uma mensagem de esperança’. Depois foi a vez da jornalista: “Hoje o Papa será recebido no Palácio Nacional”, enquanto que “em 1979 não havia relações diplomáticas”.
E para ilustrar a dificuldade daquele momento, falou do encontro ‘surreal’ na primeira viagem, de João Paulo II com o presidente López Portillo: “Tudo foi organizado de tal forma que o seu helicóptero pousou por ‘casualidade’ no hangar de Obras Públicas, logo após de chegar o avião que levava o Santo Padre. López Portillo teve ali o encontro, deu-lhe a mão e disse ao Pontífice: ‘Boa tarde, Senhor, deixo-lhe nas mãos no meu povo’.
Os sacerdotes, então, não podiam usar batina, o que, a princípio fez o Papa Wojtyla pensar que talvez fosse verdade o que diziam sobre o México, mas fora do aeroporto mudou tudo quando se encontrou com milhões de pessoas que estavam esperando e o acompanharam durante a sua estada.
Na segunda visita, em 1990 – continuou Alazraki – o presidente Carlos Salinas de Gortari, recebeu o Papa em um encontro de cortesia, mas não como um chefe de estado. Em vez disso, na terceira visita, em 1993, em Yucatan, o Papa já foi recebido como chefe de Estado e com o devido protocolo. É em 1999, quando receberam-no todas as autoridades e o gabinete; e o Papa abençoa Los Pinos.
A última viagem de João Paulo II foi em 2002, com o presidente Fox, que se declara abertamente católico. Após recebe-lo no aeroporto, o chefe de Estado e a sua esposa se ajoelham e beijam-lhe o anel, o que criou não pouca polêmica em todo o país. Em cada visita papal o México era, por assim dizer, um país diferente. Quando Bento XVI se encontra com o presidente Calderón, já era tudo diferente.
A jornalista, que está trabalhando em Roma para Televisa TV México desde 1974, também disse que esta viagem tem também uma grande importância porque reflete os temas prioritários do Pontífice, em particular a migração, pobreza e populações marginalizadas. E expressou a sua impressão pessoal de que Francisco, quando esteve nos Estados Unidos para a Jornada Mundial da Família, na Filadélfia, teria querido entrar ao México pela fronteira norte da Ciudad Juarez, como ‘migrante’, só que naquele então havia a prioridade da aproximação entre Washington e Havana.
Alarzaki lembrou que, logo depois surgiu o caso da ‘mexicanização’, devido a um email privado do Santo Padre a um amigo, no qual manifestava a sua preocupação de que na Argentina se enraizasse a violência e narcotráfico no estilo do México, que levou o Papa a dar explicações de coisas óbvias: que de nenhuma forma quis ofender, que era um termo técnico, como ao falar de balcanização, etc. E promete: “Vou ao México, não é um país de trânsito, merece vários dias”.
Entre os novos fatores, disse, está o fato de que Francisco não irá aos mesmos lugares onde já foram os outros Papas, exceto Cidade do México, devido ao Santuário de Guadalupe.
“Mas Francisco – disse Alazraky – não vai com a varinha mágica, mas para levar uma mensagem positiva”. Assim, “em um país importante, mas que tem periferias, vai com este olhar”. Nas fronteiras, norte e sul, com um problema com duas caras que se repetem, porque embora haja mexicanos que têm os seus direitos violados nos EUA, também no sul do México, há migrantes que entram da América Central e têm os seus direitos violados”.
E em Chiapas está o encontro com o mundo indígena, com pobreza, onde o Papa “quer falar da dignidade desses povos e das suas culturas que têm de ser devidamente integradas na sociedade mexicana”. Trata-se de “encontros temáticos” que, entretanto, “serão dirigidos a todo o país”.
Entre os fatores particulares dessa viagem, continuou a vaticanista, “o Papa decidiu pessoalmente a sua agenda, com a sua vontade, embora o governo não gostou de alguns lugares. Por exemplo, proporam-lhe que, no domingo, que estará na Cidade do México, tivesse um encontro com o mundo da cultura, e o Papa cancelou porque vai falar com as pessoas do povo”.
O que você vai fazer durante essa tarde livre? Quem receberá, no pouco tempo livre que terá? Muitos pediram para vê-lo. Entre os temas embaralhadas está o dos pais dos 43 estudantes desaparecidos, ou das vítimas de abusos do clero. Será um fator surpresa.
Em conclusão, a jornalista destacou uma impressão que teve no começo do pontificado, que o Papa considerava o México como um país muito mimado e mal-educado, com tantas visitas de pontífices. E que no contato com os bispos mexicanos o Santo Padre viu que se tratava de um país com muitas periferias internas, e assim foi amadurecendo a sua ideia, movido, além do mais, “pelo pensamento de que a Virgem de Guadalupe é a padroeira da América”. Zenit

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