domingo, 13 de março de 2016

Wenders retoma ficção em 'Tudo vai ficar bem'

O roteiro do norueguês Bjorn Olaf Johannessen é impregnado de dor e culpa.
Por Neusa Barbosa
Interrompendo uma sequência de documentários bem-sucedidos (“Pina”, 2011; “O Sal da Terra”, 2014, sobre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado), o diretor alemão Wenders volta à ficção com o drama “Tudo Vai Ficar Bem”.
O roteiro do norueguês Bjorn Olaf Johannessen é impregnado de dor e culpa, dois temas recorrentes na obra do premiado Wenders, caso de “O Amigo Americano” (77), “Paris, Texas” (84) e o mais recente “Estrela Solitária” (2005).
O protagonista é um escritor em bloqueio criativo, Tomas Eldan (James Franco), que se refugia numa cabana no meio da neve, em busca de ideias. Ali também procura fugir do assédio da namorada Sara (Rachel McAdams), que o pressiona para ter filhos.
Os dois têm um diálogo áspero ao celular, quando Tomas dirige numa estrada coberta de neve. Pouco depois, ele sente um baque no carro e descobre que atropelou uma criança.
A tragédia transtorna não só sua vida, como a da mãe, Kate (Charlotte Gainsbourg) e do outro filho que sobreviveu. Em torno dessa culpa cresce uma espiral dramática que nunca é derramada, porém. Ao contrário – o tom do filme é sintomaticamente controlado, com personagens que parecem implodir ao não encontrar palavras para expressar sua inadequação diante de um fato inexorável.
Tomas mergulha numa via-crúcis de destruição, deixando Sara e quase sucumbindo ao processo. Daí vai emergir através de sua literatura, que encontra um novo eixo nessa depuração. Talvez ele tenha se tornado um escritor melhor, como diz alguém – mas como homem, o que lhe aconteceu?
Com um tom bastante distanciado e frio, o filme parece às vezes não ir tão fundo quanto poderia, ao explorar perdas tão intensas. Ainda assim, parecem tocantes e naturais algumas cenas reunindo Tomas e Kate, que expressa sua dor de um modo admiravelmente contido, nunca raivoso.
Elementos de fúria entram na história anos depois, quando o garoto sobrevivente, Christopher (Robert Naylor), manifesta um interesse inusitado no escritor. Neste momento, o filme cresce, porque cria genuinamente a expectativa de um rompimento que antes foi frustrada – embora fizesse todo sentido.
Em termos do roteiro, são insatisfatórios os desenvolvimentos de duas personagens femininas da vida de Tomas – Sara, que cumpre um arco de passividade pouco crível, até uma bem-vinda explosão, perto do final; e Ann, interpretada por uma esplêndida Marie-Josée Croze a quem não se dá muito o que fazer como a nova namorada de Tomas.
Por isso, a história se ressente de algum aprofundamento. É como se faltasse alguma coisa o tempo todo e nunca acontecesse.
A própria escolha de James Franco como protagonista é um tanto intrigante. Afinal, esse prolífico ator de 37 anos (com 122 filmes no currículo, incluindo os de TV) e diretor (nada menos de 33 trabalhos) tem-se notabilizado não só pelo excesso em números, como nos exageros histriônicos. Recentemente, ele se dedicou a lustrar seu currículo com um certo verniz intelectual, conduzindo duas adaptações cinematográficas de obras do complexo William Faulkner – “Enquanto agonizo” (2013) e “O som e a fúria” (2014), onde evidentemente também atuou.
Toda essa mistura parece confundir, também, sua interpretação em “Tudo vai ficar bem”. Se é verdade que ele está sóbrio, longe dos exageros de comédias autoparódicas, como “É o fim” (2013), também não parece ter atingido o tom ideal para este personagem.
Embora filmado em 3D, no Brasil o filme não circulará nesse formato, por decisão da distribuidora Mares Filmes.
Reuters

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