quarta-feira, 6 de julho de 2016

Como negociante que procura pérolas preciosas

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Logicamente, aqui a pergunta chave é: "o que é precioso para mim?"
Será que sabemos diferenciar pérolas preciosas daquelas que não são tão preciosas assim?
Será que sabemos diferenciar pérolas preciosas daquelas que não são tão preciosas assim?

Por Fabrício Veliq*

O Reino dos céus também é como um negociante que procura pérolas preciosas. Encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo o que tinha e a comprou". Mateus 13:45-46

Esse texto faz parte das séries de parábolas que Jesus falou a respeito do Reino de Deus.

Sempre gostei dessa parábola. Ela me faz pensar sobre algumas questões.
Em primeiro lugar, o texto fala de um negociante que procura pérolas. Se ele é negociante podemos inferir que o intuito de achar as pérolas é para poder vender e ganhar mais dinheiro no seu negócio. Afinal, os negociantes tentam fazer isso mesmo. Como negociante, devia ter adquirido a habilidade de reconhecer quando uma pérola é preciosa e quando não é. Do contrário, seria facilmente enganado frente aos diversos negócios que se propusesse a fazer. Dessa forma, diferenciar as pérolas se torna parte fundamental do seu trabalho.

A pessoa do negociante na parábola, nos faz questionar a nós mesmos. Será que nós, diante do mundo que vivemos, sabemos diferenciar pérolas preciosas daquelas que não são tão preciosas assim? Constantemente, em nossa sociedade, vemos diversas pessoas dando grande valor às pérolas que não possuem tanto valor assim e jogando fora as pérolas que possuem valores inestimáveis. Talvez seja, de certa forma, reflexo do próprio sistema capitalista de consumo no qual vivemos e que nos condiciona a dar grande importância àquilo que, durante muito tempo, vivíamos sem.

Voltando ao texto, o negociante procura as pérolas que são preciosas para ele. Isso é de suspeitar, afinal quem procuraria algo que não é de valor para si? Não entro no critério do que é valoroso e o que não é, uma vez que isso pode mudar de cultura para cultura e de pessoa para pessoa, contudo penso que, diante daquilo que o texto nos coloca, cabe a reflexão se, em nossas vidas, temos procurado aquilo que é precioso para nós.

Logicamente, aqui a pergunta chave é: "o que é precioso para mim?" Responder a essa pergunta é crucial para sabermos se estamos a procurar as pérolas preciosas ou não. Saber o que é precioso para nós nos faz rejeitar aquilo que não nos é precioso.

O negociante relatado no texto sabia o que era precioso para ele e procurava as pérolas preciosas. Em sua busca, como nos conta Jesus, ele encontra uma pérola de grande valor, vende tudo o que tinha e a compra. Aqui, penso eu, está contida uma pergunta sutil que seria: "pelo que estamos dispostos a morrer?". Vender tudo o que se tem reflete um total despojamento daquilo que se possui, uma entrega total à causa ou à pessoa, ou ao que quer que seja que consideramos uma pérola de grande valor encontrada. Quando há esse encontro com a pérola de grande valor, tudo se torna como refugo diante de sua grandeza. O negociante entendeu isso. Pode até ter perdido dinheiro com sua transação, (afinal o preço da pérola podia mudar no câmbio, as propriedades poderiam lucrar mais, etc.), fazendo com que vários outros negociantes o considerassem um péssimo do ramo. Para ele, simplesmente, não importava isso, pois ele sabia a preciosidade que havia encontrado.

Por último, a parábola nos traz também a reflexão do esforço e abnegação que precisamos para termos aquilo que é valoroso para nós. Sem dúvida, era mais fácil ficar com tudo que se tinha conquistado até então. Qualquer um em sã consciência faria isso. No entanto, encontrando algo mais valoroso do que tudo que se tinha e compreendendo o valor que esse achado tem, a opção de despojar de tudo para adquirí-lo não é, para o negociante, insana, antes, a mais óbvia a ser feita.

Não seria a vida da mesma forma? Como negociantes que procuram pérolas, sempre estamos a encontrar pérolas com grande valor e outras sem tanto valor assim. Se formos um sábio negociante, ao encontrar aquela de grande valor, não abriremos mão de todo tesouro guardado para obtê-la. Quando isso acontecer, haveremos entendido que não é louco aquele que perde tudo que pode ganhar para ganhar tudo o que não pode perder.

Fabrício Veliq


*Fabrício Veliq é mestre e doutorando em teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE), formado em matemática e graduando em filosofia pela UFMG. Atualmente ministra cursos de teologia no curso de Teologia para Leigos do Colégio Santo Antônio, ligado à ordem Franciscana. É protestante e ama falar sobre teologia em suas diversas conversas por aí.

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