sexta-feira, 8 de julho de 2016

Não mais à venda - outros tempos virão

 domtotal.com
Caminhamos para a maturidade condizente com os tempos de agora.
Nesse périplo de idas e vindas, vamos fazendo o caminho.
Nesse périplo de idas e vindas, vamos fazendo o caminho.

Por Eleonora Santa Rosa*

Nesse baixo astral generalizado que assola o país, anda duro de aguentar as tragicômicas figuras que abundam no cenário político nacional, aliás, para sermos justos, não só no cenário político, e só mesmo com altas doses de Magnésia Bisurada e Nux Vômica, tem sido possível não enjoar, a todo o momento, com o solavanco dos escândalos diários, nas esferas públicas e privadas, que perpassam os entes da Federação.

Minas com seu silêncio abissal, com sua decantada mineiridade, vê sua história ser distorcida, contorcida e amealhada por figuras tais, que seu solo, em carne crua e lama, resseca não só suas cidades e riquezas, mas, sobretudo, seu espírito, cada dia mais esvaído, corroído mesmo, não só pela corrupção econômica, mas pela ganância que teima em enterrar os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, importados da revolução de 1789 em França, e que ecoaram pelas ruas da Capitania do ouro.  Libertas Quæ Sera Tamen, lindo verso da Écogla de Virgílio transformado em lema da bandeira dos inconfidentes, cujo espólio repousa juntamente com os restos mortais de seus lendários personagens no Museu da barroca Ouro Preto!

Paradoxalmente, por outro lado, o processo que vivemos hoje, embora depressor em muitos sentidos, significa e ressignifica a práxis política. Caminhamos para a maturidade, saindo da infância prolongada e da adolescência aborrecente e irresponsável, para uma idade, esperamos, condizente com os tempos de agora, sem ídolos, sem simulacros, sem demiurgos, sem salvadores da pátria, sem santos. Embora ainda afetado por um discurso à direita, de tradicionalismos arcaicos e sistema partidário recalcitrante e por representantes de extremo mau gosto e precária formação, o país encontrará seu rumo, seu prumo, sua reestruturação. Não nos resta outra saída. Aos trancos e barrancos, levantar-nos-emos, tendo todo cuidado com as mesóclises, presentes no discurso que evocam não a beleza da língua, mas a balela dos pseudoliteratos, vaidosos de gosto duvidoso, que amam os anuários e encômios festivos e se esbaldam com citações aos velhos troncos genealógicos e às efemérides desprovidas de sentido. Esta turma ainda não entendeu que o país mudou e que serão tragados pelas hordas “vandálicas” que lutam por seus direitos. A página está sendo virada e outras viradas virão, esta é a única certeza.

Nesse périplo de idas e vindas, vamos fazendo o caminho, transpondo os dias e as agonias, renovando dia após dia a esperança de outros dias, dias de luz, de celebração, de construção de nossa própria identidade, ungida por marcas, sulcos, reentrâncias, libertada do tempo daquele que gosta e quer levar vantagem em tudo para um novo tempo do cidadão, maduro, que nega tudo a qualquer preço e cuja síntese comportamental poderia ser expressa pelo belo, íntegro, poema de Augusto de Campos: NÃO ME VENDO, NÃO SE VENDA, NÃO SE VENDE!

*Eleonora Santa Rosa – Jornalista, editora e empreendedora cultural, é considerada uma das maiores especialistas no País na área de Projetos, Planejamento, Captação de Recursos, e Gestão Cultural, com larga experiência na formatação, negociação e implementação de iniciativas culturais de envergadura e repercussão. Ocupou vários cargos públicos ao longo de sua trajetória profissional, tendo sido Secretária de Cultura do Estado de Minas Gerais. É fundadora e diretora do Santa Rosa Bureau Cultural, onde desenvolve ações referenciais nacionais no campo da cultura.

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