terça-feira, 26 de julho de 2016

Venerados, reverenciados, desprezados


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Os avós são reconhecidos pelos valores da fé que transmitem aos filhos e netos.
Ser avô e ser avó é uma graça, além da alegria que experimentam com o nascimento de um neto.
Ser avô e ser avó é uma graça, além da alegria que experimentam com o nascimento de um neto.

Por Dom Genival Saraiva*

No dia 26 de julho, a memória de São Joaquim e Santana é venerada pelos católicos, enquanto o calendário social comemora o Dia dos Avós. Na linguagem bíblica, teológica e litúrgica, somente Deus é adorado - culto chamado latria. Por participarem da santidade de Deus, os santos são venerados com o culto chamado dulia. Maria, sendo a Mãe do Salvador, recebe uma especial veneração - culto de hiperdulia. Em diversas paróquias e comunidades, a memória de Santana e São Joaquim é celebrada com festiva veneração. A origem da veneração a esses santos decorre do fato de serem avós de Jesus Cristo, o Salvador, filho da Virgem Maria.

Humanamente falando, todos os avós devem ser reverenciados, em razão da missão que têm no coração da família e do lugar que ocupam na sociedade. Ser avô e ser avó é uma graça, além da alegria que experimentam com o nascimento de um neto. É uma alegria, estampada no rosto, que somente eles conseguem exprimir com olhares, afagos, cuidados e ternura. Num olhar cristão, a vivência da vocação dos avós é uma graça prolongada do Sacramento do Matrimônio. Na dimensão religiosa, via de regra, os avós são reconhecidos pelos valores da fé que, de muitas maneiras, transmitiram e transmitem aos filhos e netos. Nesse e em outros aspectos, é reconhecida a participação que têm na formação da personalidade de filhos e netos. A voz da experiência é um dos traços marcantes da história de vida dos avós.

Via de regra, a imagem dos avós está relacionada com a condição de anciãos; hoje, isso não condiz com a realidade, uma vez que há avós jovens. Quaisquer que sejam sua idade e o grau de sua experiência de vida, devem ser reconhecidos como tal por filhos e netos. Esse quadro haverá de se firmar como uma nota constante, dado que a longevidade é um fenômeno na sociedade contemporânea.

Muitos avós são reverenciados dentro do próprio lar, enquanto outros, lamentavelmente, não são respeitados nos seus direitos. Sem dúvida, aí está um dos grandes sofrimentos dos avós porque se veem como “peixe fora d’água”, no ambiente que edificaram com amor e generosidade. Por sinal, a linguagem da generosidade e da solidariedade dos avós não tem limites; um exemplo é a aposentadoria ou pensão que recebem - deveria assegurar uma condição de vida de tranquilidade, dando-lhes, inclusive, oportunidade de desfrutar de um merecido lazer. O fato mais comum, no entanto, é a utilização desses recursos na sustentação de filhos e netos; na verdade, em alguns casos, são explorados por eles. Pior do que a falta de reconhecimento, de valorização e a exploração financeira de pais ou avós, é o desprezo que muitos sofrem de parte de seus filhos e netos. Isso ocorre mesmo quando os colocam numa casa de repouso, com assistência da melhor qualidade.

As políticas públicas, de sua parte, têm um grande débito para com os anciãos, entre os quais se encontram milhões de avós. Todo débito, é óbvio, deve ser saldado, em tempo hábil. Por que esse não vem sendo assumido pelos poderes públicos?

Os avós de todos os tempos e lugares encontram em Santana, São Joaquim e Maria o exemplo de um família que assumiu a missão que Deus lhe reservou, em favor do seu povo.

CNBB 25-07-2016.
*Dom Genival Saraiva: Administrador Apostólico da Arquidiocese da Paraíba.

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